

Portugal selou o apuramento para o Mundial 2026 com uma goleada sobre a Arménia por 9-1, no Estádio do Dragão. Apesar das três vitórias iniciais diante dos adversários do Grupo F, a Seleção Nacional complicou as contas e só garantiu a qualificação de forma definitiva no jogo contra os arménios.
Roberto Martínez, muito contestado apesar da conquista da Liga das Nações perante a campeã da Europa Espanha, teve um jogo menos feliz em Dublin, em termos de escolhas, decisões e substituições. Contudo, no embate com a Arménia, inseriu novas dinâmicas que deram outro ar à equipa, sobretudo, no plano ofensivo da Seleção Nacional.
Tendo em conta o poderio de Portugal comparativamente à seleção de leste europeu, o treinador espanhol deu maior liberdade aos laterais João Cancelo e Nélson Semedo no processo ofensivo, ajudando a desmontar o bloco baixo do adversário. A Arménia defendeu quase sempre num 5-4-1, tentando fechar o corredor central, mas Portugal soube manipular bem os espaços, atraindo o bloco adversário para o centro e explorando a largura com jogadores desequilibradores como Rafael Leão e Carlos Forbs, conforme explicou o próprio Roberto Martínez em declarações ao Bola na Rede.


Com João Cancelo e Nélson Semedo projetados e a inserirem-se na última linha ofensiva ao lado de Gonçalo Ramos, Rafael Leão, Bruno Fernandes e, por vezes, Bernardo Silva (dependia dos movimentos que fazia, se vinha buscar bola mais atrás ou não), Portugal confundiu muitas vezes as marcações individuais da Arménia e conseguiu explorar as diagonais curtas dos médios e a largura dos extremos. A equipa soube alternar entre jogar por dentro e abrir para os corredores, obrigando os arménios a saltar do bloco.
A diferença para o jogo frente à Irlanda foi clara: desta vez, os laterais pisaram zonas interiores para abrir espaço para extremos com características como as de Rafael Leão, mais eficazes no 1×1. Na Irlanda, faltou essa imprevisibilidade nos corredores, pois João Félix e Bernardo Silva vinham para dentro, enquanto João Cancelo e Diogo Dalot abriam, mas sem a mesma capacidade de drible e velocidade para ultrapassar os adversários. Portugal pode evoluir neste aspeto, explorando a zona interior com a qualidade que possui no corredor central com jogadores como Vitinha, Bruno Fernandes e João Neves, permitindo também que os laterais sejam elementos importantes para criar o espaço livre e, consequentemente, dar o espaço para extremos como Rafael Leão, Pedro Neto e Carlos Forbs desequilibrarem no corredor lateral.


O plano defensivo continua a ser a maior preocupação de Roberto Martínez com vista à fase final do Mundial 2026. O eixo defensivo não tem estado completamente seguro nas suas ações, seja no controlo da profundidade, na pressão ou na transição defensiva. O próprio Selecionador Nacional reconheceu que este é um aspeto a melhorar, depois de dois jogos em que se notaram fragilidades em transições rápidas, com Ogbene e Troy Parrot a criarem dificuldades na Irlanda. Já contra a Arménia, algumas transições dos arménios conseguiram criar superioridade ou igualdade numérica e, com uma melhor definição nos lances, poderiam ter criado perigo para a baliza de Diogo Costa.
Para Roberto Martínez, será crucial gerir bem os timings de subida dos médios e dos laterais para não descompensar a equipa atrás. O selecionador nacional tem colocado o médio mais defensivo, seja Rubén Neves, João Palhinha ou até mesmo Vitinha, no meio dos centrais quando a equipa tem bola. Sem bola, essa poderá também ser uma estratégia útil para compensar a projeção dos laterais, sobretudo contra equipas com menos argumentos coletivos que Portugal. Além disso, já conhecemos bem a chegada à área de Bruno Fernandes e também a de João Neves que, sendo um recuperador de bolas, possui igualmente inteligência e aptidões para aparecer bem de trás para a frente. Ainda assim, será necessário mais trabalho para garantir um controlo mais consistente da profundidade e das transições.
O jogo de ontem, para além do significado que teve e do apuramento para a maior competição de seleções, serviu para reforçar a confiança ofensiva da equipa e testar novas dinâmicas. Roberto Martínez terá, porém, de continuar a trabalhar a consistência defensiva, mantendo o equilíbrio entre os momentos ofensivos e defensivos da Seleção Nacional. Como o próprio referiu, Portugal vai começar já a preparar o Mundial em março, e não apenas uns dias antes e será fundamental perceber de que forma a Seleção das Quinas vai apresentar-se na competição em junho.


BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: Hoje o João Cancelo e o Nélson Semedo fizeram muitas vezes parte da linha de cinco ou de seis jogadores que Portugal montou no ataque. Quão importante poderá ser o papel dos laterais no processo ofensivo da seleção para ajudar a desmontar os blocos baixos dos adversários e, por outro lado, se a transição defensiva é um dos pontos que Portugal deve melhorar para a fase final do Mundial 2026?
Roberto Martínez: É uma boa pergunta e uma boa reflexão. Acho que foi um estágio muito importante para percebemos que o Diogo Dalot, o João Cancelo e o Nélson Semedo podem jogar na posição de lateral esquerdo. Utilizamos uma linha de 5 contra a Irlanda, utilizámos uma linha de 4 contra a Arménia. Acho que a equipa agora tem facilidade para usar distintas estruturas defensivas. Acho que temos de melhorar a transição defensiva, concordo consigo, e gostei muito da polivalência que nós mostrámos para poder atrair o jogo por dentro e dar espaço por fora. Acho que o Rafael Leão é um jogador muito importante para nós que consegue estar nessas situações de 1 para 1 e jogadores como Diogo Dalot, João Cancelo e Nélson Semedo atraem muito o jogo por dentro para dar o espaço por fora a jogadores como o Rafael Leão.

