Há quem lhes chame extraterrestres. Outros tratam-nos por deuses. Mas Cristiano Ronaldo e Lionel Messi são apenas dois seres humanos a quem lhes foi concedido um dom. A arte de tratar com excelência uma bola de futebol. E o futebol foi sempre o desporto que mais me apaixonou desde muito cedo.
Cresci a ver craques como Luís Figo, Dennis Bergkamp, Ronaldo “Fenómeno”, Zinedine Zidane, Ronaldinho Gaúcho, entre tantas outras estrelas. Mas, para ser sincero, não me lembro de assistir durante tanto tempo a uma rivalidade entre dois jogadores como Ronaldo e Messi. E posso dizer que me considero um privilegiado em acompanhar este duelo de titãs que já dura há duas décadas.
Recordes batidos, golos para todos os gostos, jogadas fantásticas, enfim, uma fartura de classe que nasce dos pés destes dois astros do desporto rei, agora já na fase final das suas carreiras. Apesar da rivalidade já não ser face to face desde os tempos em que estavam em Espanha, continuam a brilhar agora separados por dois continentes. Optei por escrever este artigo na semana em que Ronaldo teve outro momento mágico a juntar a tantos outros, e mostrou que está disposto a atingir a marca histórica dos 1000 golos.
Aquilo que está a fazer no Al Nassr com 40 anos, mesmo num campeonato de menor visibilidade como é o saudita, é surreal. Não menos surreal é o que anda a fazer também Messi por terras do Tio Sam. O avançado argentino tem levado o Inter Miami às costas e nos dois últimos jogos da liga americana marcou três golos e fez quatro assistências.


A comparação entre os dois é inevitável. Há quem prefira o nosso madeirense, outros escolhem “la pulga” como o rei absoluto dentro das quatro linhas. Por isso, quando me perguntam qual deles é o melhor, não tenho uma resposta concreta nem uma preferência. Quanto a mim estão os dois ao mesmo nível. Pode discutir-se as qualidades futebolísticas de cada um até ao ínfimo pormenor, e aí há aspetos em que se diferenciam. Mas eu vejo as coisas de outra forma.
Ou seja, antes de gostar de Ronaldo e de Messi, primeiro sou adepto do bom futebol. Vê-los jogar é um regalo para os olhos. Até mesmo quando não marcam, e são poucas as vezes que isso acontece, ficamos sempre à espera que dali saia qualquer momento de inspiração, que leve ao deleite os milhões de fãs espalhados por esse mundo fora.


Logo, não compreendo certas discussões que são criadas, principalmente nas redes sociais, de preferências entre um e outro. Porque há quem escolha Ronaldo por ser português e evoque o célebre slogan publicitário “o que é nacional é bom.” Ninguém contraria esse facto, muito menos eu, que tenho muito orgulho em tudo que fazemos de bom lá fora.
Mas, caramba, se um argentino me deixa colado à televisão, porquê não gostar dele também? Depois existem os que consideram Ronaldo uma pessoa arrogante e egocêntrica. Essas pessoas são, na grande maioria, os verdadeiros apoiantes de Messi. Colocam-no num pedestal, e por mais golos que CR7 marque, o 10 do Inter Miami será sempre o número um.


Esta constante comparação não leva ninguém a um consenso. Leva, isso sim, a opiniões repetidas de parte a parte onde ninguém quer ficar a perder. Levam a discussões que podem terminar da pior maneira possível, como já aconteceu. Em 2016, na Índia, um homem morreu às mãos do amigo por estarem a discutir o tema deste artigo.
Por isso, a todos aqueles que sistematicamente entram em “guerras” Ronaldo VS Messi, por favor, parem. Desfrutem destes dois predestinados da bola, pois nada dura para sempre. Nem nos tempos mais próximos vão aparecer mais “Lioneis” e “Cristianos”. E eu ainda quero ver mais jogadores como eles. Porque, lá está, sou apenas e só um apaixonado pelo futebol.

