Ano de Futebol em cheio, marcado a nível nacional pela vitória das Quinas na Liga das Nações, que nos leva a tentar reviver os seus melhores momentos detalhadamente. As histórias de superação, os protagonistas, as revelações, o drama e a tristeza.
Como habitual, o Bola na Rede enfrenta a dificuldade da escolha e da seleção, não temendo a inevitável injustiça ou a provocante deliberação de motivos e critérios para tentar delinear o abecedário de mais uns inesquecíveis 365 dias do desporto que tanto gostamos.
1.
A de Arsenal – Depois de novo segundo lugar na Premier, Arteta procura ao quarto ano o título no qual culmine projecto tão bem delineado. A recuperação Gunner no pós-Wenger tem o nome do espanhol cravado a ouro e a equipa vai-se consolidando a cada ano, limando as arestas competitivas necessárias ao título e até ao troféu continental. Se Liverpool e PSG foram mais fortes em 2024-25, na nova época – e já depois da troca de Edu por Andrea Berta ao nível da direcção técnica e da chegada de Gyokeres – os índices estatísticos vão justificando o domínio dos londrinos em todas as frentes, com liderança na Premier após o Natal e percurso imaculado na Champions.
2.


B de Barcelona – O caos recente foi controlado por uma série de mudanças encabeçadas por Hansi Flick, que tornaram no Barcelona a equipa da moda pela ousadia tática e pelo futebol de bom tom, de bloco altíssimo e continuidade atacante. Os títulos internos não tiveram continuidade a nível internacional, mas é consensual que só PSG foi melhor que os culés a toda a linha. E finalmente terminou a remodelação do Camp Nou.
3.
C de Chelsea – Felizmente para a BlueCo e Todd Boehly, Enzo Maresca chegou no verão de 2024 e arrumou a casa. A um projecto de açambarcamento de talento, Maresca deu-lhe estrutura e organizou a primeira equipa, dando-lhe o estímulo disciplinar e motivacional para se conseguir alcançar o objectivo europeu, a vitória na Conferência e a chegada à Champions via Premier League. Como se não fosse pouco, a benesse do calendário e do sorteio ditou-lhe caminho optimista até à final do Mundial de Clubes, onde houve imenso mérito na forma como se exploraram as fragilidades do PSG.
4.


D de Diogo Jota – Tragédia difícil de aceitar.
5.
E de Escócia – Desde 1998 que das Highlands não vinha equipa para participar no Mundial. E que melhor forma de assinalar o regresso com categórico 4-2 à Dinamarca num Hampden Park à pinha, e momento inesquecível da grande revelação da temporada? Fica McTominay eternizado pelo pontapé de bicicleta decisivo mais voador de sempre – 2,53 metros, mais um bocadinho que os 2,38 com que Ronaldo bateu Buffon numa certa noite em Turim.
6.


F de Flick, Hansi Flick – Chegou, viu e venceu. Percebeu o contexto difícil a que chegara e adaptou-se irrepreensivelmente. Deu para recriar a mesma incessante capacidade de aniquilar adversários do seu Bayern, num sistema implementado que floresceu com recurso quase estritamente ao talento disponível. Flick só gastou 88 milhões desde que chegou, muito abaixo dos 364 gastos pelo Atlético ou até dos 171 do Villarreal ou os 101 do Bétis no mesmo período. Olhou seriamente para a La Masia como Guardiola fizera um dia e, assim, quase que fez tantos pontos num ano civil como ele: 96, contra os 103 conseguidos em 2010.
7.
G de Galatasaray – História na Turquia com o 25.º título de campeão, o que possibilita ao Galatasaray ser o único no país a apresentar cinco estrelas sobre o emblema. Numa provável luta de titãs, cedo se percebeu que Mourinho não tinha armas suficientes para combater o conjunto de Okan Buruk e Osimhen – e, portanto, dobradinha. O verão testemunhou a despedida de Muslera, ícone da baliza turca, mas viu chegar a Istambul dois consagrados como Leroy Sané e Ilkay Gündogan, que ajudam agora o Gala a fazer figura na Europa, com nove pontos ao fim de seis jogos e vitória contra o Liverpool pelo meio.
8.
H de Haaland/Hamrun Spartans – O norueguês é o ponta-de-lança da década, exterminando recordes de eficácia em qualquer competição e acumulando números que lhe preconizam a eternidade caso mantenha a consistência ao longo da carreira. A norma tem sido o exagero na média, e Pep tem-lhe agradecido, criando o novo City à sua volta.
H também de Hamrun Spartans, a primeira equipa de Malta na fase regular duma competição uefeira. Começando as qualificações pela Champions, foram caindo até encontrar os letões do Rigas no último play-off – os adversários, que tinham jogado Liga Europa na última época, viram-se surpreendidos pela vontade maltesa.
9.
I de Irlanda vs Hungria – A história fascinante da qualificação irlandesa para os play-off do Mundial, fruto da mágica performance de Troy Parrott, com dois golos a Portugal e hat-trick em Budapeste, fixou-se imediatamente como um dos grandes clássicos futebolísticos dos últimos tempos, sobretudo quando se constata que a República da Irlanda não frequenta estas lides há 24 anos.
E, claro, o I de Inglaterra em futebol feminino, com as Três Leoas a ganharem nos penálties à poderosa Espanha para alcançar o título europeu.
10.
J de Julián Álvarez – A importância que tinha na Albiceleste não a encontraria tão cedo na sombra de Haaland e por isso a natural saída. Cholo acolheu-o e deu-lhe tudo para ser figura, com Julián a tornar-se na peça-chave num Atlético ainda à procura de regressar aos grandes feitos recentes.
11.
K de Kane, Harry Kane – Teve mesmo de sair de Londres para chamar a si a glória colectiva que sempre mereceu. Consolidou influência de forma imediata em Munique, manteve o nível de liderança com que geria o balneário dos Spurs e acrescentou-lhe marcas de golos nos patamares máximos.
K que também podia ser de Kairat, mesmo que os de Almaty não tenham feito grande coisa com a oportunidade de Champions League, de forma natural. O aspecto desportivo nem poderia ser a grande prioridade, antes a classificação histórica para voltar a assinalar Cazaquistão na fase regular da competição e da viagem mais longa já registada, os 6911 quilómetros feitos pela equipa para visitar o Sporting em Alvalade.
12.
L de Liam Rosenior – Claro, Luis Enrique. Mas além do óbvio, a referência ao inglês que vai levando o intimista projecto do Estrasburgo a porto seguro, conseguindo aliar a irreverência e criatividade à disciplina dos resultados. Sétimo lugar na última Ligue 1, primeiro lugar na fase regular da Conferência – com média de idades a fixar-se nos 21,8 – e o mesmo posto ao fim da primeira volta desta edição do campeonato.
Diego Moreira chegou à Selecção belga, Valentín Barco é agora um todo-o-terreno a partir de zona central, a afirmação de Panichelli ou todo o espaço do mundo para as diabruras de Julio Enciso.
13


M de Mourinho – É também o seu ano por toda a ironia da sua chegada à Luz e pela narrativa que conseguiu criar do seu regresso, 25 anos depois. Chegou, vai aos poucos estabilizando a equipa e vai-lhe dando esperança, conseguindo mantê-la viva pelo menos até Janeiro, onde tudo se decide. Tamanho desafio está dentro das suas capacidades – e até parece pouco, para quem chega à Luz e além de tomar conta das tarefas de treinador ainda encontra arcaboiço para gerir o departamento de comunicação.
14.


N de Neves, João Neves – Corre, cai, levanta-se, tropeça, mas a bola nunca lhe sai do pé. É para saltar? E que tem, se tiver apenas 174 centímetros de altura? Ganha de cabeça a qualquer matulão armado em esperto. É para jogar mais recuado? É o melhor recuperador da Europa. Como transportador? Está pronto. Como dez ou box crasher? Ok, e fá-lo com competência, já com dois hat-tricks este ano.
Os 60 milhões de euros mais baratos de sempre.
15.
O de Ousmane Dembélé – Depois de tanta desconfiança e do relativo fracasso em Barcelona, Dembélé fez por merecer a confiança do treinador espanhol. Trabalhou, tornou-se essencial na pressão asfixiante do 4-3-3 parisiense e afinou instintos de finalização. O talento de Dortmund floresceu agora, já perto dos 30.
O de Oliver Glasner, também, pelos dois títulos com o Palace.
16


P de PSG – Seis títulos num ano recompensaram os esforços dos parisienses, de um projecto construído no início da década passada, mas sobretudo de Luis Enrique, que se manteve fiel à sua filosofia e conseguiu reequilibrar o plantel e torná-lo quase invencível.
17.


Q de Qarabag – Com um plantel recheado de craques recrutados à Segunda Liga portuguesa, o Qarabag contou com sete pontos à terceira jornada da Champions, empatando o Chelsea em Baku depois de ganhar na Luz. A bolha esvaziou-se, mas Qurban Qurbanov conseguiu colocar o Azerbaijão no mapa.
18.


R de Rui Borges – Merece, pela estabilização do Leão no pós-Amorim e João Pereira, pela gestão de um plantel assolado por lesões e por cumprir um ano civil com apenas uma derrota no campeonato.
19.
S de Semenyo – Sob o comando de Iraola, o ganês afirmou-se como um dos grandes desequilibradores da Premier League, com rumores de mercado cada vez mais fortes.
20.
T de Tottenham – A conquista da Liga Europa atenuou uma época conturbada e serviu de despedida digna para Son e Daniel Levy, antes da entrega da equipa a Thomas Frank.
21.
U de Union Saint-Gilloise – Os belgas recuperaram o título ao fim de 100 anos e confirmaram solidez europeia com vitórias fora e liderança interna.
22.


V de Vitinha – Fulcral no sêxtuplo de Paris e na Liga das Nações, herdeiro legítimo da linhagem dos grandes médios portugueses.
23.
W de Wirtz, Florian Wirtz – Ano de consagração do prodígio alemão, já figura histórica apesar da juventude.
24.
X de Xhaka, Granit Xhaka – Preferiu continuar a testar-se em contexto competitivo, sendo peça-chave num Sunderland ambicioso e estruturado.
25.


Y de Yamal – Aos 18 anos, já vice da Bola de Ouro e protagonista absoluto de um Barcelona renovado.
26.
Z de Zerbi, De Zerbi – O romântico-mor da nova geração, criador de equipas identitárias e influência crescente no futebol europeu.

