Képler Laveran de Lima Ferreira, podia ser o nome de um general importante, e de facto, bem vistas as coisas, tem o seu sentido. No mundo do futebol, desde muito cedo, o central brasileiro adotou o seu nome de guerra, Pepe, com que conquistou o mundo à boleia de uma grande carreira, recheada de títulos.
São 895 jogos oficiais disputados, 51 golos apontados, cortes determinantes, sprints inacreditáveis, e uma garra que só a ele lhe conhecíamos. Hoje é um dia triste para qualquer amante do desporto rei, eu próprio já me emocionei ao recordar o percurso de Pepe, de mal-amado a eterno capitão das quinas, o brasileiro mais português que conheci até hoje. Também vou recordar, até ao fim dos meus dias, as lágrimas de quem sabia que podia tudo naquele Europeu, mas que via o sonho chegar ao fim.
Pela Seleção Nacional Portuguesa disputou 141 jogos, uma marca inacreditável, ao alcance de muito poucos, sempre ao lado dos seus colegas, como um verdadeiro timoneiro de um navio que, se afundasse, afundava com todos.
A história em Portugal começou na Madeira, a terra do seu maior amigo no futebol, Cristiano Ronaldo. Jogaram juntos, cresceram juntos, aprenderam a lei do esforço, do trabalho árduo, que recompensa sempre, pode demorar é certo, mas a dedicação nunca vai impedir um sonhador de brilhar e cumprir o seu sonho. O Porto foi a sua primeira grande casa no continente e é, até aos dias de hoje, o seu amor eterno.
No Dragão, tentava construir dia a dia, os alicerces daquela que esperava ser uma bonita carreira, recheada de títulos nacionais e internacionais, que o pudessem colocar entre os melhores de sempre na sua posição. A meta sempre foi essa, mas era muito difícil de alcançar para um jovem “normal”, um sonhador que sabia que era possível, mas que as dificuldades no seu caminho eram muitas.
Na sua primeira passagem pelo FC Porto mostrou-se verdadeiramente à Europa do futebol, com a sua agressividade, rapidez, inteligência e força, predicados que levaram o gigante Real Madrid a avançar para a compra do seu passe. Até hoje, é um dos melhores centrais que passaram pelo Bernabéu, e ninguém vai esquecer, nunca, a brilhante dupla que fez com Sergio Ramos, numa equipa onde brilhava também o seu grande amigo, Ronaldo.
Pelos “merengues”, conquistou a tão aguardada Liga dos Campeões, por três vezes, consagrando mais uma vez uma grande carreira, que hoje tem o seu fim. Antes de voltar em grande ao seu Porto, passou ainda pela Turquia e pelo Besiktas, aonde voltou mais uma vez a mostrar o porquê de estar no “Olimpo” dos grandes centrais da história, numa altura em que até diziam que estava “acabado”.
No seu regresso à Invicta, a desconfiança era tal, que os mesmos rumores sobre a sua condição física e idade avançada davam que falar. Pois vem, Pepe sempre gostou de calar os seus críticos, e não teve problemas nenhuns em fazê-lo outra vez, mostrando que a idade é apenas um número e que, quando tens um sonho, tens de lutar por ele até ao fim. E foi mesmo até ao fim que Pepe lutou pelo seu sonho, pela sua carreira, pela “sua” pátria portuguesa, aquela que o acolheu e que o transformou num grande homem. Fê-lo com defeitos e virtudes, com uma paixão infindável por Portugal e pelo futebol, e com um talento inigualável dentro das quatro linhas.
Um dia, quando os meus filhos me perguntarem quem foi Pepe, vou dizer com todo o orgulho que foi o melhor central que vi jogar pela minha Seleção, foi o melhor central que vi jogar no Real Madrid, e foi um dos melhores da história.
Escrevo este artigo com alguma emoção à mistura, porque é sempre difícil despedirmo-nos dos melhores, naqueles que nós queríamos que fossem eternos. Quando me falarem dos grandes defesas centrais da história, Pepe vai estar sempre ao lado de Maldini e de Sergio Ramos nas minhas escolhas, por aquilo que foi, por aquilo que vai ser sempre, um capitão, que se elevou ao patamar de eterno.
Nestes momentos nunca existem palavras suficientes para expressar verdadeiramente o que sentimos, por isso, gostava de te agradecer, a ti Pepe, por nunca baixares os braços e por nos fazeres acreditar que era possível lutar, no futebol e na vida.
Não vamos chorar porque acabou, vamos sorrir porque aconteceu!
Obrigado capitão, achava mesmo que eras eterno…
Para sempre, Pepe.