Paris 2024, Ciclismo #5: Evenepoel faz dobradinha histórica e Faulkner surpreende

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    Uma semana depois dos contrarrelógios, o fim de semana foi dedicado às provas de fundo no ciclismo de estrada, 272,1 quilómetros para os homens e 157,6 para as mulheres. Esperavam-se corridas caóticas, nomeadamente pela dimensão das equipas (as maiores contavam apenas com quatro elementos), mas também pelo caráter do percurso.

    EVENEPOEL FAZ HISTÓRIA

    Na prova masculina o dia começou como é habitual começarem as provas por seleções. A fuga foi constituída por 6 ciclistas, nomeadamente de Marrocos, Uganda, Ruanda, Tailândia e Ilhas Maurícias. É esta a magia de ter nações menos conhecidas no pelotão destas corridas.

    Este grupo chegou a ter 15 minutos de vantagem. Pouco depois, saiu do pelotão um grupo de 4 ciclistas, com nomes mais sonantes como o de Elia Viviani, assim como Ryan Mullen, Gleb Syritsa e Georgios Bouglas. Este quarteto já não ganhava uma margem tão ampla para o pelotão, onde os Países Baixos e a Dinamarca eram as principais nações a trabalhar no pelotão, com a Bélgica a ficar um pouco mais escondida, não sem passar pela frente.

    O primeiro grupo começava a perder força e deixava-se apanhar pelo quarteto intermédio, com alguns ciclistas da fuga original a perderem o contacto. Últimos 100 quilómetros e a corrida começa a aquecer. O Cote de la Butte Montmatre (1,1 km a 5,9% de pendente) era a subida que marcava o circuito final em Paris e Ben Healy não perdeu pela demora e atacou com Alexey Lutsenko na roda. Mesmo sem rádios entre equipas e ciclistas, a Irlanda tinha uma estratégia bem delineada: aproveitar Ryan Mullen na frente para proteger Healy, de forma a que o ciclista da EF Education EasyPost pudesse antecipar-se às movimentações dos principais favoritos, sem se expor demasiado.

    A corrida estava lançada, com este duo a alcançar os fugitivos. No outro sentido, Charles Kagimu e Christophe Rougier-Lagane eram os últimos da fuga original a ceder. Healy e Lutsenko não demoraram a isolar-se na frente, enquanto mais atrás Remco Evenepoel lançava o seu primeiro ataque, mas o pelotão estava atento e não deixou o belga escapar.

    Os ataques iam-se sucedendo e aos poucos foi-se mesmo criando um grupo perseguidor com 7 unidades. E a 46 km do final, Mathieu van der Poel atacou com resposta de Wout van Aert. Formou-se um grupo com estes dois, Matteo Jorgenson, Toms Skujins e Julian Alaphilippe, mas a falta de entendimento levou-os a ser reintegrados no pelotão.

    E a 38 km da meta, Remco Evenepoel voltou a atacar e desta vez, não houve resposta. O campeão olímpico de contrarrelógio chegou-se aos sete perseguidores e começou logo a puxar no grupo, apanhando Healy ao mesmo tempo que deixava Stefan Küng e Marco Haller em dificuldades.

    Não demorou a que o campeão do Mundo de contrarrelógio ficasse sozinho na frente com Valentin Madouas. Atrás, Van der Poel voltava a atacar, sempre com Van Aert e Alaphilippe na resposta direta. O sonho olímpico escapava ao neerlandês. No pelotão, Christophe Laporte e Jorgenson conseguiam sair do pelotão a caminho da luta pelo medalha de bronze ou até de prata.

    Isto porque a 15 km do fim, Remco Evenepoel atacou a caminho daquele que ficou traçado como o seu destino a mais de 30 km para o final. O belga de 24 anos seguiu isolado e construiu uma vantagem tão grande que nem um furo a 4 km do final colocou a sua vitória verdadeiramente em causa. Remco Evenepoel é o primeiro homem da história a ser campeão olímpico de contrarrelógio e de fundo na mesma edição. Valentin Madouas sofreu mas ainda alcançou a medalha de prata, enquanto Laporte conquistava o bronze, garantindo duas medalhas para a França.

    Nelson Oliveira foi o melhor português ao terminar no 33º lugar e Rui Costa concluiu a corrida em 44º, depois de um problema mecânico lhe tirar a hipótese de lutar pelas medelhas ou por um diploma olímpico. O ciclista português de 37 anos respondeu a uma das primeiras movimentações dentro do circuito parisiense, assim como Nelson Oliveira.

    KRISTEN FAULKNER É A VENCEDORA IMPROVÁVEL

    A corrida feminina tinha um caráter particularmente histórico para Portugal. Daniela Campos tornou-se na 2ª mulher a representar Portugal na prova olímpica do ciclismo de estrada, depois de Ana Barros em 1996. Ao contrário do que aconteceu na corrida de sábado, foi mais difícil construir uma fuga no pelotão feminino. A primeira a tentar foi Awa Bamogo, de Burkina Faso, mas sem sucesso. Os ataques foram a conta-gotas, mas acabou por se formar uma fuga de 6 ciclistas, com duas mulheres do Afeganistão (as irmãs Hashimi), uma do Vietname, uma de Israel, uma da Eslováquia e outra da Bielorrússia.

    A seleção dos Países Baixos controlava o pelotão, enquanto a vantagem da fuga era superior a 5 minutos e meio, a menos de 100 km do fim. As hostilidades entre as favoritas começaram a 67 km do final quando Mavi Garcia acelerou com resposta de Marianne Vos. Depois foi a vez de Anna Henderson tentar a sorte, mas Demi Vollering não deixou. Os ataques sucederam-se, mas ninguém conseguia criar uma diferença para as favoritas.

    Até que a 47 km do fim, o pelotão ficava cortado, com Kristen Faulkner, Anna Henderson, Lizzie Deignan, Pfeiffer Georgi, Mavi Garcia, Marianne Vos, Elisa Longo Borghini, Noemi Ruegg, Kristen Faulkner, Liane Lippert, Marta Lach e Blanka Kata Vas na frente. Lotte Kopecky juntou-se a este grupo logo a seguir, mas Demi Vollering, vencedora do Tour de France Femmes, ficava fora da luta pelas medalhas, assim como Lorena Wiebes, perante um grupo com ciclistas neerlandesas e outras bem poderosas.

    A vantagem ia crescendo e a 28 km do final, Lorena Wiebes bem tentava atacar, mas sem resultado. Na frente, era Deignan a passar dificuldades. Pouco depois foi a sua compatriota, Henderson a ficar para trás num momento mau para a Grã-Bretanha. A 21,2 km do fim, Blanka Kata Vas atacou com Marianne Vos a responder. A húngara e a lenda neerlandesa (campeã olímpica de Londres 2012) começavam a afastar-se e quando a vantagem rondava os 20 segundos, Kristen Faulkner atacava no grupo que disputava as medalhas, com Kopecky a liderar a perseguição e a anular a iniciativa da norte-americana.

    Mais atrás Katarzyna Niewiadoma proporcionava uma boa recuperação, mas era insuficiente para lutar pelas medalhas. Ainda assim, mostrou-se com forças deixando Lorena Wiebes para trás numa colina depois de as duas se terem afastado do pelotão com Caroline Andersson, da Suécia.

    Faulkner não desistia a perseguição e acelerou a 10 km do fim, apenas com Kopecky. Mavi Garcia e Pfeifer Georgi na roda, mas rapidamente só mesmo a belga seguiu a americana, ficando mais claro quem chegaria às medalhas em Paris. Faulkner e Kopecky tinham Vos e Kata Vas à vista, com 8,3 km por percorrer mas só a 3,4 km do do fim é que fecharam o espaço e Kristen Faulkne atacou, primeiro com resposta de Blanka Vas, mas depois a resposta acabou e a americana de 31 anos que só se dedicou ao ciclismo de estrada em 2017, com 24 ano, sagrou-se campeã olímpica. Marianne Vos sprintou para ficar com a prata e Lotte Kopecky. Já Daniela Campos ficou no 41º lugar, num grupo com ciclistas como Emma Norsgaard e Juliette Labous. Não conseguiu fazer melhor do que o 23º lugar de Ana Barros em ’96, mas a história está feita para o ciclismo feminino português.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.