No papel, um bom mercado de transferências por parte de um clube é muitas vezes um fator ilusório sobre o rendimento da equipa no futuro que se avizinha aquando das contratações. Ainda assim, só passados alguns jogos, alguns meses, ou até toda uma época, é que se consegue verdadeiramente fazer um balanço sobre as transferências feitas pelos clubes da Liga Portuguesa e o impacto que as mesmas tiveram num panorama interno e externo.
Tendo isso em conta, terminada a época 2023/2024 da Liga Portuguesa, já com matéria suficiente para fazer uma averiguação fundamentada, é altura de olhar para as movimentações que se fizeram antes, e ao longo da mesma, e analisar de que forma surtiram efeito em solo luso.
10.
Otávio Ataíde – De Famalicão para a cidade invicta, o central brasileiro viajou diretamente da pequena vila para a defesa portista. Em janeiro, numa altura em que a equipa de Sérgio Conceição sentia algumas dificuldades no eixo defensivo, Otávio trouxe a estabilidade que a equipa necessitava naquele setor. Enquanto titular, Otávio esteve apenas presente numa derrota dos dragões desde que veste a camisola azul e branca. Tendo mudado de paradigma por completo num curto espaço de tempo, o central brasileiro de apenas 22 anos soube adaptar-se rapidamente ao novo ambiente e tornou-se assim num jogador importante para a equipa de Sérgio Conceição. Com indícios tão positivos desde janeiro, a contratação de Otávio ao Famalicão mostra-se bastante positiva para os dragões.
9.
Rodrigo Zalazar – O uruguaio chegou do Schalke 04 no início da temporada, com rótulo de estrela, e fez jus às expectativas impostas. O médio foi-se apoderando do miolo minhoto com a ajuda de jogadores como João Moutinho, Vitor Carvalho, ou Pizzi, e foi-se destacando cada vez mais ao longo da época. O Braga que havia perdido jogadores como André Horta, Al Musrati ou Castro, viu em Zalazar um médio completo capaz de se estabelecer como um pilar chave da equipa. Com 12 participações diretas em golo na sua primeira temporada, pode assumir-se que a sua contratação foi um sucesso e que, num futuro próximo, os guerreiros venham a lucrar bastante com a sua saída para um patamar superior.
8.
Orkun Kokçu – Insinuações públicas podem denominar o médio turco como uma contratação falhada, como um “flop”, mas a verdade é que a sua chegada a Lisboa não merece ser reduzia a tal.
Ainda que não se tenha estabelecido como titular indiscutível da forma como era esperado, Kokçu acabou a temporada com 16 golos e assistências, tornando-se assim no terceiro jogador mais influente dos encarnados no que diz respeito a participações diretas em golos. Ele que não foi aproveitado da melhor forma pelo treinador em grande parte da época, conseguiu ainda assim mostrar o potencial e a qualidade nele presentes, que na próxima época certamente aprofundará de uma forma mais notória. Há também que ter em conta o negócio do Benfica, que foi capaz de o contratar por menos 5 milhões do que o seu valor, enquanto campeão e MVP da liga neerlandesa, tendo ainda uma grande margem para o jogador progredir, brilhar e eventualmente ser vendido por uma verba exorbitante. Mesmo não tendo surtido o efeito que se esperava inicialmente, a contratação de Kokçu é, mesmo assim, uma movimentação bem sucedida.
7.
Rodrigo Gomes – O empréstimo de Rodrigo Gomes do Braga ao Estoril representa tudo aquilo que um clube pretende quando cede um jovem jogador. O extremo convertido a ala nos canarinhos fez uma época de excelência na linha de Cascais e passou de uma mera jovem promessa a um dos jogadores mais entusiasmantes do futebol português. Tanto na ala esquerda como na ala direita, Rodrigo Gomes foi capaz de tirar proveito da melhor forma do empréstimo a que foi sujeito. Com 12 golos e assistências em todas as competições o jovem português subiu a um patamar que noutro contexto não teria oportunidade e é agora uma referência a ter em conta por clubes de maior dimensão.
6.
Alan Varela – De uma novela de verão aos maiores palcos da liga portuguesa, a incansável disputa por Alan Varela por parte do FC Porto acabou mesmo por valer a pena para os dragões. Preencher a vaga deixada por Uribe não é tarefa fácil, mas a verdade é que o médio argentino não permitiu que os adeptos sentissem saudades do colombiano, que tanto havia feito naqueles terrenos. A par de Nico Gonzalez, Varela formou uma dupla sólida e que foi consolidando aos poucos a equipa de Sérgio Conceição. Ainda com 22 anos, Alan Varela é já um médio de enorme qualidade e que certamente dará dores de cabeça aos portistas neste próximo mercado de transferências.
5.
Cristo González – 28 golos e assistências provenientes de um jogador que chegou sem qualquer tipo de custo, faz com que Cristo mereça a devida atenção e consideração entre tantos outros grandes nomes da liga portuguesa. O craque espanhol foi um dos principais responsáveis pelo sucesso do Arouca nesta temporada que, atrás de Rafa Mujica, foi capaz de se estabelecer como um criador vigoroso no processo ofensivo arouquense. Juntando o fator financeiro ao rendimento desportivo, a contratação de Cristo é sinónimo de sucesso.
4.
Francisco Conceição – A passagem pelo Ajax não correu de feição ao extremo português, mas o seu retorno atingiu níveis que não eram esperados. Francisco Conceição deixou de ser apenas o pequeno filho eletrizante, para se estabelecer como uma peça fulcral do conjunto que num curto espaço de tempo emergiu no panorama português e chegou à Seleção Nacional. Com 19 participações para golo na temporada, Francisco conseguiu culminar os dribles e a explosão em lances de perigo, tornando-se um verdadeiro criador, deixando de lado o papel secundário de desequilibrador apenas.
3.
Morten Hjulmand – Se Ugarte e Palhinha foram bons, para Ruben Amorim, Hjulmand foi ainda melhor. As constantes comparações com os ex-jogadores colocaram as expectativas do seu sucessor num patamar altíssimo, mas Hjulmand foi capaz de lá chegar sem grandes dificuldades. Sem motivos para condenação, é perfeitamente compreensível a opinião do técnico leonino ao olharmos para a época de estreia do dinamarquês em Alvalade. Um equilíbrio perfeito entre ações defensivas e ofensivas, juntando alguns momentos de criação intermédia. Hjulmand demonstrou ser fã do conceito de um jogador completo, destacando-se em todos os aspetos do jogo. Foi um dos principais responsáveis pelo sucesso alcançado pelos leões esta temporada e acabou a mesma a ser equacionado para capitão na próxima. No que diz respeito à posição número 6 o Sporting tem-se preparado bem nos últimos anos e a contratação de Hjulmand reforça esse facto.
2.
Di Maria – Fugir aos milhões internacionais por amor à camisola não é algo recorrente no futebol moderno e o regresso de Di María à Luz mostrou que ainda é possível sonhar com regressos felizes. Ainda que a Supertaça tenha sido o único troféu levantado pelo argentino, Di Maria regressou melhor que nunca e, aos 36 anos, sem uma época marcada por lesões, foi autor de 34 golos e assistências em 54 jogos de utilização. Foi o elemento mais preponderante da equipa ao longo da época e o principal criador e impulsionador do clube da Luz. Se a época encarnada não acabou da melhor forma possível, certamente não foi por culpa do esquerdino que fez de tudo para que tal não acontecesse. Tendo regressado a custo zero à Luz, e conseguido render tanto a nível desportivo, merece sem dúvida este lugar na classificação.
1.
Viktor Gyokeres – O homem inevitável. 46 golos e 14 assistências fazem de Gyokeres não só a melhor contratação da temporada, como também uma das melhores de sempre do futebol português. O avançado sueco chegou, viu, e venceu, à boleia de um futebol possante e demolidor. Foram 21 milhões de euros investidos num jogador de 25 anos que nunca havia jogado uma primeira liga e que, entre dúvidas e suposições, arrasou por completo o campeonato português, empurrando o Sporting à conquista do campeonato. Nem as melhores previsões apontavam para este cenário que culminou com este registo impressionantemente fora do comum. O Sporting não poderia ter feito melhor.
