20 anos, 11 craques | Um onze de estrelas de FC Porto e Sporting

    Chegou o último da época. O último troféu, o último jogo, o último golo, e o último sprint, o sprint final, para decidir quem corta a meta da Taça de Portugal. Dois rivais, FC Porto e Sporting numa tarde de sol, Jamor lotado, é a festa da Taça, ao bom estilo português. 

    De um lado, a melhor equipa a praticar futebol ao longo de toda a temporada, o Campeão Nacional, Sporting Clube de Portugal, com os olhos na dobradinha, 22 anos depois da equipa liderada por Lazlo Bölöni vencer também o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal. Curiosamente, o golo que deu a vitória aos “leões” no Jamor foi de Mário Jardel, antigo ponta-de-lança brasileiro que passou tanto pelo Porto, como pelo Sporting.

    Do outro lado, vindos do norte de Portugal, em busca de um troféu que “salve” uma época onde fatores extra-futebol não beneficiaram o clube, tal como o desempenho da equipa dentro das quatro linhas. É também, independentemente do resultado final, um jogo histórico para os “dragões”, sendo o último jogo com Jorge Nuno Pinto da Costa como presidente azul e branco. Este poderá também ser o último jogo de Sérgio Conceição como treinador portista, uma vez que tem sido associado a uma mudança para fora do país.

    Sérgio Conceição no FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    No entanto, e aproveitando que falamos da história da última dobradinha verde e branca, e do reinado de Pinto da Costa, vamos então recuar 20 anos atrás. Em pleno esplendor está a época 2003/2004. Uma época que, para todos os adeptos portistas, estará para sempre presente na sua memória. Vitória da Supertaça Cândido de Oliveira, da Liga Portuguesa e… da Champions League, encabeçada pela mágica exibição de Deco (que estará, obviamente, no nosso 11 ideal), e com José Mourinho na liderança da equipa. Mas, apesar de ser um feito histórico para Portugal, não é este o nosso foco hoje. Hoje procuramos saber quem, ao longo destes 20 anos que se passaram, foram os melhores 11 jogadores que passaram por Sporting e Porto, de modo a incluí-los naquele que seria uma equipa de sonho. 

    As escolhas não foram fáceis, muito pelo contrário. Passámos por duas eras douradas nos “dragões”, com a conquista de 11 campeonatos em 20 possíveis, um domínio avassalador, juntando ainda uma Champions League e uma Liga Europa. Do lado verde e branco, apesar de períodos conturbados e nem sempre positivos, vivemos atualmente na “Era Amorim”. É de destacar também a quantidade de talentos que chegaram de Alvalade diretamente para os melhores clubes do mundo. 

    Irão haver alguns jogadores ajustados no seu posicionamento, de forma a conseguirmos encaixar todos estes craques na equipa. Iremos usar o 4-3-3 como formação tática.

    Na baliza, com o número um nas costas, escolhemos Vítor Baía. Não foi uma escolha fácil, uma vez que temos em conta da temporada 2003/04 em diante. Rui Patrício esteve presente num maior intervalo temporal, no entanto é difícil argumentar contra a grandiosidade do guardião portista. Aos 34 anos, era titular do Porto e assim continuou até 2005/06, tendo metido termo à carreira no ano seguinte. Venceu neste espaço de tempo uma Champions League, três Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal e quatro Supertaças Cândido de Oliveira. Foi ainda considerado o melhor guarda-redes da Europa em 2003/04. A escolha para a posição nunca poderia ser outra. Escolhemos, por isso, Vítor Baía como capitão desta equipa. 

    Pedro Porro
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Na lateral, munido de um sorriso inconfundível, uma raça como poucos, e uma qualidade acima da média, apresentando-se com os seus calções rasgados, diretamente de Espanha chega Pedro Porro. Sim, haveria outros, como em todas as posições (Paulo Ferreira, Bosingwa ou até João Pereira). No entanto, Pedro Porro tem todas as características necessárias a um lateral, e juntando a toda a ligação emocional aos adeptos leoninos, o seu impacto é notável. Saiu de Portugal com um Campeonato e duas Taças da Liga, e como o melhor lateral dos últimos 20 anos em Alvalade. 

    Pepe a jogar pelo FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Para o centro da defesa, escolhemos como centrais dois atletas portugueses, Pepe e Ricardo Carvalho. Apesar de nunca terem jogado juntos com a camisola azul e branca (na época que Pepe dá o salto do Marítimo, Ricardo Carvalho é vendido para Inglaterra), ambos chegaram a coincidir ao longo de três épocas no Real Madrid, e ainda na Seleção Nacional. Sintonia e química não falta a estes dois, tal como foi dito por Ricardo Carvalho numa entrevista, em 2011. Com mais de 400 jogos feitos pelo Porto (total), Ricardo Carvalho (só estando presente na época 2003/04, data inicial destes 20 anos) tem de ser incluído neste 11 inicial, tal era o seu talento em campo. Pepe, por outro lado, é escolhido numa vertente que diz respeito não só à sua qualidade e longevidade, que são absolutamente fora do normal, mas também devido a ser sinónimo da palavra Porto. É uma figura incotronável do clube e, aos 41 anos continua a ser um dos melhores centrais do Campeonato Nacional. Uma lenda do clube. 

    Como lateral-esquerdo voltamos a avançar no tempo, e a vaga vai para Alex Sandro, que representou o FC Porto entre 2011 e 2015. Era o típico lateral esquerdo brasileiro, sólido defensivamente, dotado de um posicionamento bastante bom, com uma atitude muito viva dentro das quatro linhas. No entanto, destacava-se ofensivamente, com movimentações muito perigosas na ala. Registou 10 assistências ao longo das quatro épocas de dragão ao peito. Venceu ainda quatro títulos em Portugal. 

    Passamos agora para a nossa tripla centro campista. Começamos por João Moutinho, o único jogador que representou ambos os clubes ao longo da sua carreira. A “maçã podre” de Alvalade tornou-se um mágico no Dragão, conquistando três Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal, três Supertaças Cândido de Oliveira e uma Liga Europa. Era o cérebro do FC Porto naqueles três anos. Com um centro de gravidade baixo, pautava o jogo dos portistas, sempre com boas decisões e passes, aliando a uma segurança notável na construção de jogo. Um pensador em movimento. 

    Ao seu lado, aquele que consideramos o jogador mais talentoso de toda esta equipa, Deco. Para muitos, o merecido vencedor da Bola de Ouro em 2004. Esta frase em 2024 é algo que parece retirado de um filme de cinema. Mas era exatamente isso que Deco era, o intérprete principal de uma equipa do FC Porto retirada de um filme de cinema que conquistou a Champions League. Talento em estado puro, um jogador super completo, com velocidade, drible, e com a “ginga” brasileira, com um último passe e uma visão fora do comum. É difícil descrever Deco, podemos comparar a sua forma de jogar a Iniesta, mas tal como o mago espanhol, é difícil arranjar adjetivos. 

    Como número 10 da nossa equipa, se é que podemos afirmar que ainda existem 10 no futebol atual, chega-nos Bruno Fernandes. Num plantel do Sporting a recuperar de anos abaixo do esperado, Bruno foi a alma dos leões durante dois anos e meio. Apontou 63 golos, aos quais juntou 47 assistências, em “apenas” 137 jogos. A sua meia distância era constantemente explorada pela equipa, criando momentos onde fosse possível Bruno armar o remate. A sua facilidade a jogar em espaços abertos e no contra-ataque levava a equipa dos leões a ser muito perigosa. Saiu de Portugal com três títulos na bagagem, dois a mais do que aqueles que colecionou em Inglaterra, onde já joga desde 2019. 

    Viktor Gyokeres a jogar pelo Sporting
    Fonte: Luís Batista Ferreira/Bola na Rede

    Passamos para os goleadores, os “assassinos” letais desta equipa já por si fenomenal. Em primeiro lugar, ficando por Alvalade, seguimos para o principal obreiro do título do Sporting este ano. É escusado dizer que vem da Suécia, e que o seu nome é nada mais, nada menos que Viktor Gyökeres.

    Desde Mário Jardel que os leões não contavam com alguém deste calibre com a camisola nove. Com 57 contribuições para golo em 49 jogos (sim, as estatísticas estão certas), o sueco entra diretamente para este onze. A sua explosividade, a facilidade com que recebe de costas para a baliza e vira, a velocidade, a facilidade com que inventa um remate, seja com o direito, esquerdo ou de cabeça tornam o avançado de 25 anos um dos melhores jogadores que passou por cá neste século. 

    Subimos para o Norte, já não descendo novamente, e damos a camisola número 12 a Givanildo Vieira de Souza. Pronto, como muitos não estão a perceber, talvez a sua alcunha vos elucida, Hulk. E bem, o que dizer de Hulk? Era a personificação da própria personagem da Marvel no relvado (no bom sentido, obviamente). Dotado de um porte físico invejável, com um pé esquerdo como poucos, a sua potência era imensurável. Quando Hulk rematava de fora da área, independentemente da zona do relvado, o perigo era certo. Jogando pela ala direita do ataque portista, quando Hulk entrava em espaços interiores, e pegava a bola com o seu pé esquerdo, o golo era garantido. Quatro anos em Portugal, mais de 70 golos e com 50 assistências, levou ainda para a Rússia, quando se transferiu em 2012, quatro Ligas Portuguesas, quatro Supertaças Cândido de Oliveira, três Taças de Portugal e uma Liga Europa. Assombroso o domínio do FC Porto durante este período. 

    Radamel Falcao no FC Porto Atletico de Madrid
    Fonte: UEFA

    E para finalizar este onze perfeito, escolhemos um tigre, ou melhor, um falcão. Radamel Falcão, o melhor avançado que já vi jogar em Portugal. Apesar de não ter conseguido chegar ao patamar que tanto prometeu em Portugal e Espanha, tendo ainda recuperado em França, no Mónaco, as duas épocas de “El Tigre” em Portugal foram de uma qualidade ao nível da elite do futebol mundial, na altura. 91 jogos e 70 golos, com sete títulos pelo FC Porto. Inigualável.

    Apesar da sua altura, marcava tanto de cabeça como com os pés. A facilidade que tinha para inventar golos era especial, tal como a sua finalização. Pé direito, pé esquerdo, cabeça, a área pertencia ao colombiano. Com um equilíbrio perfeito, era do mais clínico que existia. Era até chamado de cínico no seu futebol (no bom sentido, claramente), dada a sua frieza dentro do campo. 

    Massimo Moratti José Mourinho Inter Milão
    Fonte: Inter Milão

    E para terminar, não podemos escolher outro treinador que não seja o melhor treinador português de sempre, José Mourinho. Com o seu estilo revolucionário na altura, venceu ao serviço do FC Porto, uma Taça de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira, dois Campeonatos Nacionais, uma Liga Europa (Taça UEFA na altura), uma Champions League, e o prémio de melhor treinador da UEFA por duas vezes. Não é preciso dizer grande coisa, o registo fala por si.

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