O “estranho” DNA e o verdadeiro DNA

    Para começarmos a falar dos Jogos Europeus de Minsk, comecemos por falar das performances portuguesas. Portugal foi até às meias-finais dos Jogos, tendo ficado a apenas dois segundos do apuramento para a final. É verdade que as grandes potências não trouxeram os seus “atletas de gala” (a Grã-Bretanha nem quis marcar presença…), mas ainda assim foi um importante resultado para Portugal, que não se apresentava tão bem cotado nas previsões de entrada para esta competição.

    A nível individual, Carlos Nascimento voltou a mostrar estar numa boa forma nos 100 metros, muito consistente na casa dos 10.2, correndo no último dia em 10.26, igualando o seu melhor da temporada. Antes (sim, este formato é mesmo assim…) tinha um alcançado uma medalha de Ouro com menos (10.35).

    Um Ouro para Nascimento que continua em grande forma
    Fonte: FPA

    Se falamos de consistência, devemos também falar de Evelise Veiga no Comprimento, sempre na casa dos 6.4/6.5 metros (igualou o melhor da temporada com 6.58) e quando um(a) atleta está nesta forma, já se sabe que não será de admirar que chegue o dia inspirado que salte 6.7 ou 6.8 e é isso que ela busca, à procura dos mínimos de qualificação para Doha (já lá está, mas no Triplo).

    Individualmente há também a destacar a muito agradável surpresa de Cláudia Ferreira no Dardo, que chegou aos 52.34 metros, um novo máximo pessoal para a atleta de apenas 20 anos que já é a 4ª melhor da história nacional. Nas provas de estafetas mistas, Portugal também teve boas prestações, sendo de destacar a medalha de Bronze alcançada pela equipa de 4×400, composta por Rivinilda Mentai, João Coelho, Cátia Azevedo e Ricardo dos Santos.

    A estafeta 4×400 trouxe uma medalha para Portugal!
    Fonte: FPA

    Já no que diz respeito ao modelo da competição, nos permitam aqueles que tais responsabilidades decisórias têm, mas este não é o futuro do Atletismo e concordamos com alguns atletas, como Carlos Nascimento, que disse que é um modelo “estranho”.

    O modelo competitivo DNA até pode trazer alguma emoção – tal como trazem corridas com sacos nas escolas – mas não é um modelo que faça justiça ao que o Atletismo deve ser: mais rápido, mais alto, mais forte. A excessiva pressão deste modelo competitivo e o facto dos atletas nem sequer terem tempo para se apresentarem no máximo do que podem alcançar não permite a existência de grandes marcas, pois – e nos concursos a situação ainda é pior – os atletas sabem que têm apenas uma única oportunidade e aquela fração de segundos decide tudo, sem terem sequer qualquer possibilidade de se ambientar ao cenário que encontram, preferindo jogar pelo seguro e garantir os “mínimos” do que tentarem-se aventurar.

    De salientar ainda outras aberrações, como o modelo escolhido para o Salto em Altura, que tornou o concurso penoso, lento e constantemente interrompido, havendo várias situações em que se coroou não o melhor, mas sim o que menos corajoso foi. Desculpem, mas isto não é o que se pretende do desporto.

    Percebe-se que o Atletismo procure novas ideias, novas formas de atrair os mais novos. Não creio que a solução passe por este DNA – um trocadilho entre o nome oficial “Dinamic New Athletics” e o termo científico que em português se denomina ADN. Mais do que mudar o Atletismo, urge mudar as formas de divulgação do Atletismo e como este se apresenta (onde estão os gráficos estatísticos, os multicanais simultâneos na televisão, a integração com as escolas?). Não há qualquer mal em existirem desportos com mais fãs do que o Atletismo.

    Sempre assim foi e, provavelmente, assim será e não há muito tempo ouvimos Coe congratular-se por sermos o desporto que é o mais escolhido no mundo como o “2º favorito”. E isso é, de facto, positivo e pode ser bem utilizado, não se transformando numa obsessão para se ser mais a qualquer custo. Acharmos que o desporto está errado só porque os nossos vizinhos conversam no café sobre o Messi e o Ronaldo e não sobre a Elaine Thompson é perigoso e, isso sim, pode destruir o desporto. Nada contra experimentalismos, nada contra tentarmos coisas novas, mas atenção aos palcos em que fazemos esses experimentalismos e muita, muita atenção às tentativas de impor mudanças só por serem mudanças, roubando a identidade, o verdadeiro DNA do Atletismo.

    O que se viu em Minsk foi “engraçado”, mas ninguém vê horas e horas do seu desporto favorito por ser “engraçado”. Não permitam que a chama do Atletismo se apague.

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    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.