Análise ao Clássico: o dragão consumiu todo o oxigénio na Luz

Foi um final de tarde de sábado penoso para o SL Benfica. E o resultado é o menos relevante. Em pleno Estádio da Luz, tanto no relvado como nas bancadas e tirando momentâneos fogachos encarnados, só deu azul.

Vi um FC Porto mais próximo da sua identidade com um meio-campo a três capaz de preencher os espaços, pressionar o portador da bola e, com qualidade, controlar, circular e rasgar o jogo com bola. Além disso a dupla Pepe-Marcano parece começar a ganhar maior consistência. Este FC Porto com maior poder central, com maior capacidade de pressão e retenção da bola, mais seguro sem bola e no momento de recuperação, beneficia depois da capacidade dos seus laterais e avançados de partirem em força e velocidade para cima da defesa adversária. Foi isto que vimos ontem na Luz. Um Porto dominador no centro do terreno, seguro a defender, forte na recuperação e depois eficaz no lançamento dos seus avançados a despedaçar o posicionamento defensivo da equipa da casa.

Assim, foi sem espaço para jogar pelo centro que o Benfica desde cedo começou a demonstrar grandes dificuldades em respirar.

A equipa de Bruno Lage apresentou-se na Luz sem surpresas no 11 inicial e com uma série de 12-0 em três jogos disputados. Cheia de uma confiança que logo desapareceu assim que Jorge Sousa apitou para o arranque do Clássico.

O Benfica apareceu desconfortável no jogo e incapaz de colocar a funcionar o seu futebol rápido, criativo e de toque, e aos 10 minutos de jogo parecia já não haver oxigénio suficiente que permitisse aos jogadores encarnados pensar e executar. A bola queimava, as decisões demoravam a ser tomadas e caiu-se numa constante procura do jogo pela profundidade com a bola frequentemente a sobrevoar o meio-campo encarnado.

Foi com o jogo totalmente amarrado que saltaram à vista os erros de casting deste plantel e principalmente das escolhas do Bruno Lage. Equívocos que têm sido camuflados pela força do colectivo e eficácia ofensiva dos jogadores mais criativos.

O primeiro tempo foi totalmente controlado pela equipa visitante. Já a segunda-parte trouxe-nos um jogo diferente, com mais Benfica, mas ainda assim insuficiente.

A entrada de Taraabt permitiu à equipa ter mais bola, ter saída com mais critério e ter ainda maior criatividade no último terço ofensivo. Contudo, apesar desta melhoria, a equipa continuou só a encontrar espaços nas laterais e os constantes cruzamentos foram sendo totalmente controlados pela dupla de centrais portista. E se a subida encarnada não trouxe grande perigo à baliza de Marchesín, o guardião não pode dizer o mesmo dos espaços que esta gerou para os atacantes do Porto explorarem o ataque à baliza.

Bruno Lage voltou a decidir bem com o lançamento de Chiquinho, contudo a decisão de tirar Florentino para lançar Vinícius foi um acto de desespero e totalmente desapontador, pois a equipa ficou totalmente exposta à posse de bola dos médios portistas e à velocidade dos atacantes adversários. O segundo golo poderia ter surgido mais cedo e apareceu a colocar justiça no marcador.

O Benfica mostrou-se desconfortável e foi incapaz de por a funcionar o futebol rápido, criativo e de toque
Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

Apesar dos dois golos sofridos, o problema do Benfica não morou na sua baliza. Vlachodimos foi igual a si próprio – fantástico entre os postes e totalmente desconfortável fora destes. É um guarda-redes que não dá qualquer segurança para se jogar com a linha defensiva mais subida no terreno.

Na defesa, só Rúben Dias pareceu aguentar a pressão do clássico e dos jogadores adversários. Enquanto Ferro tremeu o jogo todo, com e sem bola, Rúben foi tentando impôr a sua presença e liderança. Grimaldo, tal como Ferro, apareceu a jogar totalmente sufocado, sem bola mostrou-se incapaz de acompanhar o seu adversário e com bola várias vezes perdeu o controlo ao primeiro sinal de alguma pressão. Já Nuno Tavares simplesmente confirmou que é um equívoco alguém pensar nele como uma solução para a lateral direita. Condução de bola com o pé exterior, pouca qualidade e confiança para passar e cruzar com o pé direito e incapaz de controlar o espaço nas suas costas por rodar precisamente para o lado contrário.

O meio-campo foi simplesmente abafado pelo trio adversário. Sem espaço para terem bola e em inferioridade no momento da pressão, Florentino e Samaris foram dois jogadores somente destinados a correr atrás da bola e dos adversários.

Também de Pizzi e Rafa não veio a magia que temos vistos nos últimos jogos. Sofreram pela derrota colectiva da equipa e viram o seu jogo totalmente condicionado. No ataque, Rafa não teve qualquer espaço para arrancar pelo centro como tão bem faz. Contudo é de ressalvar que foi incansável na perseguição a Corona e nas compensações a Grimaldo.

No centro do ataque está o outro grande equívoco de Bruno Lage. A dupla Seferovic e RDT não funciona neste sistema de jogo. O Benfica procura jogar da mesma forma que na época transacta e Bruno Lage não pode continuar a ignorar que até Maio o centro criativo da equipa era Jonas ou João Félix. Até essa data, os encarnados actuavam com um jogador criativo, inteligente e de técnica superior atrás do ponta de lança. Um jogador que fazia a ligação entre o meio-campo, as alas e o avançado. Um jogador que fazia a bola rodar no centro atacante e que desmontava as defesas adversárias com as suas movimentações, tabelas e passes. Um craque sempre de cabeça levantada. A ausência de um jogador com estas características naquela posição tem sido, especialmente neste jogo, fatal ao futebol encarnado. Raul de Tomas não é esse jogador e continuando ali tudo o que teremos é alguém a correr muito para condicionar a saída de bola do adversário. Há no plantel opções para esse lugar e Bruno Lage terá de tomar algumas decisões. Seferovic não tem correspondido, o colectivo da equipa está condicionado e o próprio RDT é desperdiçado naquela posição, pois o seu lugar é indubitavelmente o de ponta de lança.

A uma semana do fecho do mercado, este jogo confirmou a necessidade do Benfica em se reforçar – Vlachodimos é bom, mas não é o guarda-redes ideal para o jogo de Lage e a lateral direita não pode continuar 100% dependente de André Almeida.

Este foi então um jogo extremamente bem conseguido por parte do FC Porto que parece caminhar para a consolidação das suas parcerias – Marega e Zé Luis; Pepe e Marcano; Danilo, Uribe e Baró. Foi também um jogo que expôs as debilidades actuais do Benfica, uma lição que pode trazer grandes aprendizagens a um treinador humilde e inteligente como é Bruno Lage. Sem Gabriel, ou se aposta em Taarabt ou o treinador necessita de fazer uma última exigência ao mercado. Sem Jonas e Félix, a solução terá de passar por Chiquinho e Jota. Já Raul de Tomas deverá ter a oportunidade de disputar o lugar de ponta de lança com Seferovic.

Resultado justo. Talvez ainda afectado pela dor afirmo que foi mesmo um massacre azul e branco em pleno Estádio da Luz.

Foto de Capa: Carlos Silva/Bola na Rede

artigo revisto por: Ana Ferreira

Sabe Mais!

Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

O Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

  • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
  • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
  • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
  • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

Daniel Oliveira
Daniel Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
Primeira palavra bola. Primeiro brinquedo bola. E assim sempre será. É a ver jogos que partilha os melhores momentos de amizade. É a ver jogos que faz as melhores viagens. É a ver jogos que esquece os maiores problemas. Foi na paixão pelo jogo que sempre ultrapassou os outros desgostos de amor. Agora a caminhar para velho pode partilhar em palavras aquilo que sempre guardou para si em pensamentos e pequenos desabafos.                                                                                                                                                 O Daniel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Sporting com regresso garantido de médio em julho

O Sporting vai voltar a ter nos seus quadros do médio Mateo Tanlongo. O argentino esteve cedido ao Pafos na última época.

Al Hilal apresenta proposta por lateral esquerdo espanhol após nega de Theo Hernández

Al Hilal apresentou uma proposta de 20 milhões de euros por Angeliño. O defesa esquerdo tem contrato com a AS Roma até 2028.

Claudio Ranieri pode vir a ser o novo selecionador de Itália

Claudio Ranieri é o grande candidato a assumir o comando da seleção italiana. O técnico está livres desde que saiu da AS Roma.

Unai Simón comenta penáltis do Portugal x Espanha: «Acho que me precipitei nos remates do Bruno Fernandes e do Vitinha»

Unai Simón reagiu à derrota frente a Portugal na final da Liga das Nações, reconhecendo que se precipitou no momento das grandes penalidades.

PUB

Mais Artigos Populares

Sporting pretende renovar contrato com Nuno Santos

O Sporting pretende renovar contrato com Nuno Santos. O jogador esteve parado grande parte da época, devido a lesão.

Rui Borges reage à conquista da Liga das Nações e menciona jogadores do Sporting

Rui Borges reagiu à conquista da Liga das Nações por parte de Portugal. O técnico deixou menção especial aos jogadores do Sporting.

Cristiano Ronaldo é o único jogador com 3 títulos por Portugal

Cristiano Ronaldo ajudou a seleção de Portugal a conquistar a Liga das Nações durante a noite deste domingo.