Infelizmente, em 2019/20, o campeão SL Benfica será a única equipa portuguesa com um “lugar ao sol” na elite europeia, uma vez que o FC Porto falhou o acesso ao ser eliminado pelo Krasnodar e caiu para a Liga Europa. Acompanhando os dragões nessas águas europeias mais navegáveis para as embarcações portuguesas, onde são poucos os grandes tubarões e o caudal de milhões de euros em prémios é mais reduzido, estarão o Sporting CP, o SC Braga e o Vitória SC.
Todos com sortes diferentes no sorteio, mas o total de quatro equipas lusitanas torna o nosso país no mais representado nesta fase da prova. Este dado não deixa de ser positivo, sobretudo tendo em vista uma possível ultrapassagem à Rússia no ranking da UEFA, uma vez que na Liga Europa o sucesso e, por sua vez, a soma de pontos são mais exequíveis para as equipas portuguesas, o que pode permitir mais e melhores condições a curto e médio-prazo para que ter uma só equipa na principal prova europeia de clubes seja uma exceção e não se repita muitas mais vezes.
Quanto ao sorteio do Sporting CP, que o colocou no Grupo D com PSV Eindhoven, Rosenborg BK e LASK Linz, estou em crer que aquilo que saiu em sorte é um grupo positivo para as aspirações leoninas, pois a passagem à fase seguinte está completamente ao alcance.
Mas conheçamos então, de forma um pouco mais aprofundada, cada uma das equipas que os leões terão de ultrapassar nesta fase da prova. O PSV Eindhoven é um clube histórico e poderoso a nível doméstico, onde, em conjunto com o Ajax, as duas equipas têm dominado a Holanda, conquistando 17 dos últimos 20 campeonatos, dos quais a equipa de Eindhoven venceu dez. O PSV totaliza 24 ligas holandesas ao longo da sua história e a última foi em 17/18. No plano europeu, as conquistas de uma Taça UEFA e de uma Taça dos Campeões Europeus são representativos da riqueza histórica do clube holandês.
Atualmente, o PSV é comandado por um ex-trinco do clube, que enquanto jogador vestiu também as cores do FC Barcelona, FC Bayern de Munique e AC Milan, de seu nome Mark Van Bommel, que inicia agora a segunda temporada à frente da equipa principal. Na temporada anterior, o PSV rubricou uma temporada entusiasmante, somando um total de 98 golos marcados e somente 26 sofridos, o que fez da equipa de Eindhoven a melhor defesa da liga. Contudo, estes números impressionantes não foram suficientes e o PSV ficou-se pelo segundo lugar na Eredivisie, apenas a três pontos do campeão Ajax, que encantou a Europa com o seu futebol.
Depois de tanta qualidade exibida, o PSV perdeu os seus melhores e mais decisivos executantes para 2019/20: o avançado Luuk de Jong, melhor marcador da Eredivisie com 28 golos, rumou ao Sevilla FC; Angeliño saiu para o Manchester City FC e ainda o extremo Hirving Lozano, que somou 17 golos na liga e confirmou os predicados que o tinham destacado no Mundial 2018, ingressou no Napoli de Ancelotti. Para colmatar as importantes saídas, o PSV contratou, por exemplo, Baumgartl, Bruma – que regressará a Alvalade – e outro jogador também ligado ao Sporting, ainda que de uma maneira bem diferente: Kostas Mitroglou.
Posto isto, é notório que este PSV está mais debilitado e não é tão temível, o próprio Marcel Keizer conhecerá bem o clube e a sua filosofia, mas, ainda assim, a equipa de Eindhoven conta com um plantel jovem e de qualidade, do qual destacaria Bergwijn. O PSV é claramente a maior ameaça contida no Grupo D. Para lá chegar, a formação de Eindhoven foi precocemente eliminada pelo Basileia, na 2ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões e por conseguinte caiu para as pré-eliminatórias da Liga Europa, onde levou de vencida, primeiramente, o Haugesund e depois o Apollon Limassol. Pelo meio, o PSV perdeu a Supertaça frente ao Ajax por 2-0 e atualmente leva um bom arranque de temporada com dez pontos em quatro partidas disputadas.

Fonte: UEFA
Diretamente do pote 3, o Sporting recebeu no seu grupo o Rosenborg BK, a equipa que detém o domínio absoluto do futebol norueguês. Desde 1991, a equipa de Trondheim venceu 20 das 28 edições do campeonato e, no total, o palmarés do Rosenborg exibe 26 campeonatos domésticos, mas a época atual não está a correr de feição à equipa nórdica. Depois de na temporada passada ter vencido liga e taça, sagrando-se tetracampeão norueguês com apenas 24 golos sofridos, seguiu para as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões. Por lá, a equipa treinada por Eirik Horneland ultrapassou várias fases e bateu o Linfield, o BATE Borisov e o Maribor, mas no playoff de acesso à Liga dos Campeões o Dínamo de Zagreb foi mais forte e empurrou o todopoderoso norueguês para a Liga Europa.
O campeonato norueguês tem ainda uma particularidade: iniciou-se no fim de Março deste ano e, por isso, esta época, o Rosenborg já disputou mais de 32 jogos nas várias competições em que está inserido e a fase de grupos da Liga Europa fará parte da parte final da sua temporada. Isto pode ser um fator favorável aos nórdicos, uma vez que o entrosamento da equipa e a absorção das ideias de jogo estão numa fase muito avançada quando comparados com a realidade das outras equipas do Grupo D, contudo o acumular de jogos e o cansaço inerente também podem ser uma desvantagem.
Porém, depois de tudo o que foi supracitado acima, no referido campeonato, a formação de Trondheim tem estado abaixo das expectativas: atualmente, depois de vinte jogos disputados, o Rosenborg encontra-se na quarta posição com 33 pontos, menos dez que o líder Molde e soma já 5 derrotas e 25 golos sofridos, números já piores que aqueles apresentados ao final do campeonato passado (4 derrotas e 24 golos sofridos, no total). O plantel de Eirik Horneland é composto, na sua maioria, por jogadores noruegueses (cerca de 80%), porém há um nome nórdico, ainda que dinamarquês, que se destaca e que foi associado ao Sporting por várias vezes: Nicklas Bendtner. Contudo, desta equipa do Rosenborg destacaria o seu capitão Mike Jensen.
Por último, mas não menos importante, o LASK Linz. É a equipa menos conhecida do Grupo D e o seu palmarés também não deslumbra – um campeonato e uma taça, ambos conseguidos em 1964/65 – mas, curiosamente, é a única das três equipas que já defrontou o Sporting oficialmente. Na temporada anterior, a formação austríaca conseguiu o segundo lugar, ficando a doze pontos do inalcançável Red Bull Salzburgo.
Liderada por Valérien Ismael, um treinador com passado no futebol germânico, com passagens pelos quadros de equipas como o Nurnberg FC e WfL Wolfsburg, creio que esta equipa poderá ser a maior surpresa do Grupo D. Na atual trajetória europeia, o LASK Linz esteve em evidência e eliminou o Basileia – que, relembro, tinha eliminado o PSV – mas no playoff de acesso à Liga dos Campeões, os austríacos não conseguiram ultrapassar o Club Brugge e escorregaram para a fase de grupos da Liga Europa. Até ao momento, o LASK Linz soma 13 pontos em seis jogos disputados no campeonato austríaco, somente superado pelo líder RB Salzburgo que venceu os seis jogos efetuados. Os golos do LASK Linz têm estado encarregues a Marko Raguz (4 golos) e a João Klauss (5 golos), mas além deles, gostaria de destacar o médio Thomas Goiginger como um dos jogadores a seguir nesta interessante equipa autríaca.
Tendo em conta agora o calendário de jogos, o Sporting terá na 1ª volta da fase de grupos uma grande oportunidade para se destacar, desde cedo, na luta pela liderança do grupo. O primeiro jogo, será provavelmente o mais exigente, pois terá lugar em Eindhoven já no dia 19 de Setembro. Depois, o clube de Alvalade receberá consecutivamente o LASK Linz e o Rosenborg, por esta ordem, durante o mês de Outubro. A qualidade individual que compõe o plantel do Sporting é, com certeza, um fator diferenciador e que poderá ajudar a inclinar a balança em favor dos leões, sobretudo frente a estas duas equipas. Resta por isso o PSV, com o qual o Sporting e as suas individualidades irão ombrear de forma mais igualada e, à priori, serão estes os dois emblemas que irão discutir a liderança do Grupo D.
Portanto, será fácil, no mínimo, conseguir a qualificação? Nem por isso. Não é por acaso que os três adversários saídos em sorte ao Sporting tenham todos disputado, primeiramente, as pré-eliminatórias da UEFA Champions League. Ainda que o Rosenborg BK e o LASK Linz sejam dois emblemas menos conhecidos, importa realçar que são duas equipas com um valor assinalável, entre as quais, repito, chamo a atenção especialmente para a formação austríaca. Todavia, parece-me que o grande perigo está na formação do PSV de Eindhoven, uma vez que consegue aliar diversas individualidades de grande nível à sua organização e capacidade coletiva.
Foto de Capa: Sporting CP