O centenário do futuro capitão

Estávamos no dia 16 de setembro de 2017. O SL Benfica visitava o Boavista no estádio do Bessa. Seguindo os “ventos” da aposta na formação, mais um jovem produto da academia Seixal estava preparado para se estrear. Rúben Dias, defesa central à data com 20 anos, preparava-se para entrar em campo e cumprir o seu sonho. Rúben fez os 90 minutos, minutos de má memória para os encarnados (o Boavista venceu 2-1), tendo feito uma exibição muito competente e, sobretudo, promissora. O jogo foi cumprido ao lado do capitão Luisão, naquilo que pareceu uma passagem de testemunho, uma “bênção” do capitão.

O primeiro golo na equipa sénior surgiria em dezembro do mesmo ano, frente ao Vitória FC, no Estádio do Bonfim. O jovem central português correspondeu da melhor forma a um cruzamento de Zivkovic para o segundo poste, cabeceando a bola para o fundo das redes do guardião “sadino”. Nesta altura, sabíamos já que o Benfica tinha na mão um diamante em bruto.

Desde a sua estreia, às mãos de Rui Vitória, Rúben Dias pegou de estaca na equipa principal do Benfica, tendo sido o jogador de campo mais utilizado nos últimos anos. No jogo do campeonato frente ao Rio Ave, o central atingiu o marco dos 100 jogos pelos encarnados, apenas com 22 anos. Nestes 100 jogos, apontou 10 golos, um número interessante para um defesa central. Como é que em tão tenra idade é possível ter já tantas partidas no clube encarnado?

Em termos estatísticos, Rúben Dias está ao nível da elite dos defesas centrais europeus. No capítulo do desarme e da antecipação, a área pelo qual o central mais é elogiado, Rúben Dias efetua 2,3 cortes por jogo (dados do SofaScore) e 1,2 interceções. A leitura do jogo do jogador e a sua boa condição física permitem-lhe recuperar a bola com grande frequência. É muito difícil ultrapassá-lo seja em técnica ou em velocidade.

No que diz respeito aos duelos, o internacional português apresenta números excelentes. Vence 67% dos duelos no solo e tem uma impressionante taxa de sucesso nos duelos aéreos com 57%, números compráveis aos de Harry Maguire. Se o central do Manchester United FC é conhecido pelo jogo aéreo, Rúben Dias não fica muito atrás. Sempre uma arma importante nas bolas paradas ofensivas (como demonstrado pelo seu número de golos), é igualmente uma grande mais valia na defesa das bolas paradas, sobretudo com a marcação à zona de Bruno Lage.

No início da sua carreira enquanto sénior, era fácil identificar a construção de jogo como uma das suas fraquezas. Está claro que Rúben Dias está longe de ser um exímio central com a bola nos pés, mas têm-se visto grandes progressos neste aspeto. Nesta época, o central tem uma elevada taxa de sucesso nos seus passes, acertando 89% dos mesmos. Mas é nos passes para o meio campo adversário que se vê a evolução de Rúben. Ao longo desta época, leva uma taxa de concretização de 81%.

Estes números não estão muito longe do que faz o seu companheiro do setor central da defesa, Ferro, que é bastante mais reconhecido pela sua qualidade de passe. A evolução nestes 100 jogos de águia ao peito foi notável, e parece que este crescimento será apanágio do atleta durante toda a sua carreira.

A evolução de Ruben Dias foi notável ao longo destes 100 jogos
Fonte: Carlos Silva/ Bola na Rede

A agressividade excessiva que era característica de Rúben Dias tem vindo também a desvanecer. O seu controlo aumentou, a qualidade na tomada de decisão subiu consideravelmente e qualidades como a antecipação e posicionamento defensivo sobrepuseram-se às sucessivas tentativas precipitadas de desarme. Paolo Maldini, ex-central italiano, costumava dizer que se sentisse a necessidade de fazer um corte, já tinha falhado no seu trabalho de central. Rúben parece ter absorvido esta ideia e aparece agora muito mais desenvolvido neste aspeto.

Este foi um processo natural que só foi possível através da maturação do atleta, que surge necessariamente do tempo de jogo. O tempo de jogo e a paciência são fundamentais no crescimento enquanto jogador. Comparando as exibições nos seus primeiros jogos de equipa A com a sua performance, digna de homem do jogo, na final da Liga das Nações, ficamos como uma excelente noção do quão longe chegou o jogador formado no Seixal.

É certo que olhamos para Rúben Dias e vemos um central de muito boa qualidade, mas que tem ainda capacidade para atingir patamares mais elevados. As qualidades estão à vista, mas isso não basta para chegar aos 22 anos e já ter atingido 100 jogos pelo clube e 16 internacionalizações.

Dias sempre se destacou dos demais na componente desportiva, mas a sua capacidade de liderança brilhava tão alto quanto a sua qualidade. Capitão em quase todos os escalões de formação, inspirava os seus colegas e discursava com uma capacidade que envergonha muitos jogadores veteranos.

O camisola ‘6’ está no Benfica desde os infantis. Ao longo de todo este percurso, aprendeu muito sobre o que é a mística encarnada e absorveu o ADN do Benfica. Rúben Dias sente o clube como muito poucos. Num mundo futebolístico onde a bola gira à volta do dinheiro e a ideia de jogador “mercenário” se torna cada vez mais comum, a dedicação de Rúben ao clube surge como uma lufada de ar fresco.

É provável que o central português permaneça no Benfica durante uma grande parte da sua carreira? Não, arrisco-me até a dizer que sairá no final da época ou mesmo já em janeiro. É certo que a saída é muito plausível, mas a maioria dos benfiquistas sonham em ver o jovem com a braçadeira de capitão no braço anos a fio. Independentemente de onde o futuro o levar, Rúben Dias é Benfica e Benfica é Rúben Dias.

Fonte: Carlos Silva/ Bola na Rede

Revisto por: Jorge Neves

Gonçalo Batista
Gonçalo Batistahttp://www.bolanarede.pt
O Gonçalo é atualmente aluno da Escola Superior de Comunicação Social, onde persegue o seu sonho de ser jornalista. Descobriu a emoção do desporto quando assistiu, juntamente com o seu pai, ao clássico entre o Glasgow Rangers e o Celtic. A partir desse momento o desporto tornou-se uma parte fundamental da sua vida. Apaixonado pela prática desportiva, segue o futebol em geral e a NBA religiosamente. Tem dois clubes de coração o Benfica, e o Clube Atlético de Queluz clube da terra, no qual é atleta desde os 6 anos.                                                                                                                                                 O Gonçalo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Bournemouth paga 29 milhões de euros e garante avançado do Bayer Leverkusen

O Bournemouth fechou a contratação de Amine Adli. O avançado marroquino vai custar 29 milhões de euros aos cofres dos cherries.

Nottingham Forest fecha contratação de médio da Juventus por 30 milhões de euros

Douglas Luiz está muito próximo de regressar à Premier League pelas portas do Nottingham Forest de Nuno Espírito Santo.

Benfica empresta defesa ao AVS SAD até ao final da temporada

Diogo Spencer foi cedido ao AVS SAD até ao final da temporada, proveniente do Benfica. O lateral direito representou a equipa B das águias em 2024/25.

FC Porto oficializa saída de Andoni Zubizarreta: «Forma conjunta e amigável»

O FC Porto oficializou esta quarta-feira a saída de Andoni Zubizarreta. Dirigente de 63 anos deixa o cargo de diretor desportivo.

PUB

Mais Artigos Populares

Martim Mayer comenta candidatura de Luís Filipe Vieira: «O Benfica não precisa de regressos messiânicos, mas sim de um futuro fresco»

Luís Filipe Vieira anunciou oficialmente a sua candidatura à presidência do Benfica. Martim Mayer reagiu através de um comunicado.

Pablo Roberto está de saída do Casa Pia e a caminho do Brasileirão

Pablo Roberto prepara-se para regressar ao Brasil. Médio de 28 anos de saída do Casa Pia para reforçar o Fortaleza.

Yeremay Hernández recusa 4 clubes e apenas disse “sim” ao Sporting

Yeremay Hernández já disse sim ao Sporting. Extremo espanhol recusou entretanto quatro clubes neste mercado de verão.