Deixa-te manipular por esta ideia

    Umas vezes é o Sporting CP a apontar o dedo, outras é ele o visado de tais suspeitas mas, independentemente do constante arremesso de acusações entre os principais clubes do nosso país, a verdade é que o problema da corrupção no Desporto tem raízes muito mais profundas e sérias, que se estendem além fronteiras e, sobretudo, vão muito para além de tudo o que enche as capas dos jornais nacionais.

    No passado dia 9 de dezembro celebrou-se mais um Dia Internacional Contra a Corrupção e tal dia, por ironia do destino, coincidiu com a comunicação de uma decisão histórica por parte da Agência Mundial Antidopagem, que impôs ao desporto russo, entre o mais, uma suspensão de 4 anos na participação nos principais eventos desportivos internacionais.

    Podíamos debruçar-nos sobre o mérito, amplitude e implicações desta decisão e, com isso, sentir-nos tentados em circunscrever o problema da corrupção no desporto ou a violação da sua integridade apenas à dopagem ou, quiçá, ao território russo. No entanto, a corrupção no desporto é muito mais que isso.

    Com efeito, a corrupção é uma realidade que trabalha nos mais diversos planos da sociedade civil, aos quais o Desporto não escapou. Neste particular, apesar das convenções, convénios, acordos ou dias que se criem para celebrar o seu combate, a atenção (ou falta dela) que é dada ao fenómeno da corrupção no Desporto é motivo de gáudio de todos aqueles que daquele se usam para obter lucros na sua atividade criminosa, seja financeiros ou desportivos.

    Pese embora se persista em contornar este problema e, sobretudo, se continue sem investir, com eficácia, no seu combate, nos dias de hoje, a maior ameaça ao Desporto é, precisamente, a violação das suas regras, a distorção da sua essência, a destruição da Integridade.

    Ora, um dos principais traços de preenchimento do conceito de Desporto é, justamente, a existência de regras e, em paralelo, não só agentes íntegros que as cumpram, como ainda alguém que advirta quando as mesmas são desrespeitadas.

    Apesar das múltiplas definições que se possam encontrar para o Desporto, e mesmo com o esforço de milhares de agentes desportivos que atuam de forma íntegra, a realidade desportiva internacional está hoje sujeita a um conjunto de fenómenos que desrespeitam e desvirtuam o seu mais nobre conceito, tentando condená-lo ao esvaziamento absoluto, fazendo dos seus protagonistas e consumidores meras peças num teatro cujo final, infelizmente, e se nada se fizer, terá um prejuízo irrecuperável para o Desporto Mundial.

    Equacionam-se diversas causas para o Desporto atrair uma cada vez maior diversidade de atividades criminosas, mas é certo que um dos principais fatores para tal reside no progressivo aumento do volume de negócio que o Desporto representa.

    O dinheiro e a atividade criminosa estão historicamente de mãos dadas e o Desporto não saiu ileso a essa união há muito conhecida. A progressiva mercantilização do Desporto atraiu para a sua esfera tudo o que de bom e melhor existe mas, também, o que de pior, até então, permanecia à porta.

    A integridade do Desporto tem de ser inviolável
    Fonte: The Sports Integrity Initiative

    É de suma relevância trazer o tema para as agendas de todos os interessados, em particular da política, aquela que tem os mecanismos para poder implementar as regras que já existem e deviam ser cumpridas nesta matéria.

    Importa estar ciente do desafio global que constitui a ameaça à integridade do Desporto, e o facto de este precisar do contributo de todos – agentes desportivos, organizações desportivas, órgãos de polícia criminal, Estado, operadores e reguladores de apostas, entre outros – para que se possa promover, de forma conjunta, um combate sério e consequente a um dos mais nefastos fenómenos para a sua essência.

    Se não for este esforço conjunto, a Integridade do Desporto, e este em si mesmo, ficará refém da névoa de criminalidade que sobre si paira, permitindo que a escuridão que elimina a sua imprevisibilidade prevaleça sobre as luzes intermitentes, inconsistentes e inconsequentes emanadas pela plataforma que deveria ser erguida em torno desta realidade.

    Despertemos o nosso interesse, atenção e meios para este flagelo e passemos a palavra, pois só desta forma será possível acreditar, participar e garantir a construção de um futuro melhor para o Desporto nacional e internacional.

    Foto de Capa: Conselho de Prevenção da Corrupção

    Artigo revisto por Joana Mendes

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    João Pedro Maltez
    João Pedro Maltezhttp://www.bolanarede.pt
    Um militante no combate à monocultura desportiva nacional. Um esperançoso por um desporto melhor, a que seja garantido e reconhecido o justo retorno do seu valor social.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.