“Neste momento, o meu lugar está à disposição do presidente”: era com estas palavras que Sérgio Conceição reagia a mais uma derrota do FC Porto em finais de taças. Desta vez, o troféu em disputa era a edição 2019/20 da Taça da Liga, competição que, apesar de secundária, surgia num momento estratégico da época, onde um hipotético triunfo poderia não só moralizar o seu plantel, como também “aconchegar” o lugar de Sérgio Conceição no comando técnico dos azuis e brancos, fazendo com que o treinador escapasse do já crescente ceticismo que teimava em surgir nas bancadas do Dragão. Depois disso, o SL Benfica é o maior responsável pela continuidade de Sérgio Conceição no FC Porto
Facto é que, após esse resultado negativo, não mais o FC Porto voltaria a conhecer o gosto amargo da derrota. Pelo meio, qualificação assegurada para a final do Jamor, vitórias importantes no clássico e em Guimarães e diminuição da distância para o primeiro posto do campeonato: a palavra crise parecia já não estar presente no vocabulário azul e branco (pelo menos, em termos de resultados).
Até que chegámos aos dezasseis avos de final da Liga Europa: seria aí que os dragões voltariam a ter de lidar com o amargo gosto da derrota. E em dose dupla, na verdade: no total da eliminatória, o placar assinalou 5-2 favorável à formação alemã. A diferença de golos era assinalável e, de certa forma, ilustrava aquilo que (não) vimos dentro das quatro linhas, ao longo de cento e oitenta minutos.
E, como se costuma dizer, as competições europeias são como o algodão, não enganam, no sentido de que colocam à vista de todos as debilidades existentes em termos de plantel, bem como aquelas relativas ao treinador, sendo, a meu ver, estas últimas bem mais gritantes.
Bom, se são assim tão visíveis, porque é que estas debilidades que muitos já traçaram em Sérgio Conceição não foram suficientemente significativas para, até ao dia de hoje, encerrar o seu ciclo no comando técnico do FC Porto? Na verdade, esta pergunta merecia uma resposta bem mais desenvolvida, porém vou resumi-la a dois pontos, de modo a não tornar este artigo excessivamente longo.
O primeiro ponto encontra-se na enorme disparidade, em termos de poderio financeiro e estrutural, que separa “grandes” de “pequenos”, em Portugal; são dezenas e dezenas os milhões que efetuam essa distinção. Partindo desse princípio, é quase que a obrigação do “grande” vencer o “pequeno”. Mesmo quando o mais poderoso não está num dia extremamente produtivo, alguma individualidade, eventualmente, virá à tona, algum lance menos feliz do adversário, eventualmente, surgirá.
E assim vamos somando pontos, nunca colocando a equipa e, principalmente, o treinador verdadeiramente à prova. No momento em que os colocamos (e aqui abranjo os restantes três “grandes”), os resultados são os que conhecemos: derrotas frentes a equipas de campeonatos mais periféricos ainda que o português, como os de Escócia, Ucrânia ou Turquia. Não será claramente à toa que recordes pontuais são sucessivamente quebrados/igualados nas últimas épocas: a qualidade fora dos quatro/cinco do costume é cada vez mais escassa, havendo aqui e ali algumas raras exceções à regra que, exatamente pelo facto de serem exceções, em pouco conseguem contrariar a regra.
Assim, é cada vez mais raro (e injustificável) perdas de pontos frente a adversários de posições mais modestas, baixando, dessa forma, a quantidade de vezes pelas quais um treinador de equipa grande tem de passar por esse infortúnio, diminuindo, assim, possíveis focos de instabilidade que poderiam surgir.
Por último, temos o SL Benfica. Pode até parecer algo estranho tentar justificar assuntos internos do FC Porto através do seu maior rival, mas permitam-me esclarecer-vos. Até ao momento, o atual primeiro classificado apenas não saiu vitorioso em quatro ocasiões: nos dois clássicos frente aos azuis e brancos, no embate com os guerreiros do Minho e, mais recentemente, na Luz frente ao Moreirense, algo que, diga-se, acaba por corroborar com o ponto que enunciei anteriormente. Mas adiante. É de conhecimento geral que, caso não saísse derrotado do Dragão, as águias poderiam muito bem ter encerrado a luta pelo título bem ali.

Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede
E é nesse ponto que reside a questão. O SL Benfica, caso fosse mais bem orientado, possivelmente, a esta altura do campeonato, já teria encomendado as faixas de campeão nacional. Para isso, bastaria ter conseguido, no mínimo, pontuar num dos confrontos diretos com os dragões, algo que, convenhamos, estava longe de ser impossível. Faço esta afirmação baseando-me, sobretudo, na diferença evidente em termos de matéria-prima que, por um lado, abunda na Luz (salvo uma ou outra posição), e que, por outro, é extremamente escassa no Dragão.
Se toda essa matéria-prima estivesse devidamente liderada, dificilmente os encarnados já não teriam consolidado o primeiro lugar, e dificilmente não teriam tornado a situação de Sérgio Conceição quase que insustentável.
O facto de a liderança do campeonato, atualmente, estar sob o poder do FC Porto deve-se (e muito) ao demérito enorme que o SL Benfica teve na gestão da sua vantagem pontual que, queiramos ou não, demonstra a ineficiência existente no comando técnico da equipa da Luz. Doa a quem doer, o facto é que para um candidato ao título perder oito pontos em quatro jornadas na atual liga portuguesa, algo de muito errado tem de estar a acontecer na sua estrutura.
A verdade é que, com demérito do rival ou não, com “pequenos” pobres em qualidade ou não, o FC Porto está bem vivo na luta pelo título. E isso, querendo ou não, é o único fator que vem pesando a favor de Sérgio Conceição. Bom, isso e o bater no peito, os gritos e as declarações explosivas. Até quando isso será suficiente? Até o Porto voltar a ser Porto; o problema é que, para isso acontecer, muitas cabeças, não só a de Conceição, terão de rolar…
Foto de Capa: Diogo Cardoso/Bola na Rede
Artigo revisto por Diogo Teixeira