«Depois da época em Chaves, aconselhei-me com o Sérgio Conceição» – Entrevista BnR com Rafael Lopes

Mortífero na grande área, descreve-se como um predador à solta, em busca do golo perdido. Não falamos de Marcel Proust, mas de Rafael Lopes, também ele um incrível contador de histórias. Desta feita, o Bola na Rede entrevistou um avançado que faz jus ao nome do nosso site e vai deixando o rasto do golo pelos estádios da Polónia. Por uma hora, roubámos a atenção de um pai a caminho do terceiro golo mais importante da vida e que nos recebeu, ainda que virtualmente, de mãos pintadas e coração aberto.

– A escola varzinista e uma subida a pulso –

“Muita gente fala do Varzim porque a característica comum a todos os jogadores que de lá saem é a entrega, a raça”

Bola na Rede [BnR]: A previsão da temperatura mínima para hoje são 2ºC em Cracóvia, de onde nos falas. Se quisesse começar por aquecer o ambiente para esta entrevista, devia perguntar-te qual a sensação de jogar um Wisla vs Cracovia?

Rafael Lopes [RL]: Em relação à temperatura erraste: neste momento estou de calções de banho e estava na varanda a apanhar sol e a pintar com os miúdos [risos]. Já a temperatura no dérbi atinge os 50ºC. Não consegues estar completamente focado nos aspetos táticos do jogo, porque é mais na base das confusões, porrada… é um dérbi aceso e quente.

BnR: É comparável a outro dérbi que também já tenhas jogado?

RL: Em Portugal, talvez – mas menos, muito menos (!) – o Boavista x Porto. Muito parecido é o Omonia x APOEL; não consigo escolher qual destes tem o ambiente mais complicado.

BnR: Já regressamos à Polónia. “Um campeão já foi um dia apenas um sonhador que se recusou a desistir. Pelos adeptos”. Há exatamente um mês, escreveste esta sentença na tua página do Facebook. Por quem te recusaste a desistir quando, primeiro em Esposende e, depois na Póvoa, a bola não entrava ou o gesto técnico não saía?

RL: Por mim, principalmente. Considero-me um sobrevivente porque, desde que comecei a jogar futebol, nunca era o escolhido para ir treinar aos clubes grandes. Naquela altura, os pais de outros jogadores tinham mais conhecimentos, mas na altura nem pensava nisso. É quando chego ao futebol profissional que tenho a perceção que penso “Neste momento, sou o único daquele tempo que cheguei ao mais alto nível”.

BnR: Reconhecido como um viveiro de talentos, é no Varzim que te estreias como sénior, depois de vários anos nas camadas jovens do emblema varzinista. Como explicas o sucesso na formação de atletas deste clube?

RL: Muita gente fala do Varzim porque a característica comum a todos os jogadores que saem de lá é a entrega, a raça, o nunca desistir. Foi assim que fui formado e crescendo. Desde miúdos que é a ideia mais incutida e valorizada pelo clube. Até os extremos, que são conhecidos pelo drible, as pessoas vão dizer “aquele gajo é raçudo, não desiste”. No futebol, podes ter a maior qualidade técnica, a maior capacidade de drible, mas se não tiveres essa vontade e resiliência, muito dificilmente vais jogar ao mais alto nível.

BnR: Por falar em extremos, a tua ascensão à equipa principal do Varzim faz-se acompanhar de Salvador Agra e chegas a um plantel que já contava com Luís Neto, e ao qual se juntaria André André. Esta tríade, que viria a distribuir-se pelos grandes do nosso campeonato, já dava nas vistas na altura?

RL: Começando pelo Neto, ainda antes de eu subir a sénior, já se notava uma diferença abismal entre nós e o Luís quando o defrontávamos na Liga Intercalar. É claro que agora ficava bem eu dizer que, na altura, já sabia que ele ia ter a carreira que teve, mas não; sabia que ia triunfar e chegar ao mais alto nível.

Em relação ao Salvador, jogámos juntos quatro anos na formação, depois nos seniores do Varzim, voltámos a encontrar-nos na Académica… Temos uma história de muitos anos juntos. O Salvador é daqueles casos em que tem qualidade com a bola nos pés, mas a característica que as pessoas mais admiram nele é não desistir. Aliás, tu vês o Neto jogar e ele, que não tem aquele corpão de bicharoco, é um animal noutras coisas: se tiver de ir com a cabeça onde o outro vai com o pé, ele vai; vês o Bruno Alves: igual! É a marca do Varzim.

O André chegou em Janeiro, porque estava emprestado ao Deportivo de La Coruña B. Mais ou menos em Novembro/Dezembro, ele pediu para voltar para o Varzim e começou a jogar assim que foi possível.

BnR: Pegando nestes exemplos, e não obstante a garra e determinação que referes, transportam também outra característica para dentro de campo: o espírito de liderança.

RL: São líderes por natureza. O Neto, por exemplo, está numa fase da carreira em que podia não estar para se chatear, mas o que ele sente e a pessoa que é vem ao de cima. Quer sempre o melhor, não só para ele, mas, principalmente, para a equipa e para o clube.

BnR: Já disseste que o momento-chave para a construção da tua carreira foi a “grande época a nível individual” nos poveiros, mas coletivamente o rendimento não foi suficiente para que o Varzim se mantivesse na Segunda Liga.

RL: Sei lá, amigo… Ainda hoje penso – e se perguntares a todos os outros jogadores do plantel – “Como é que é possível termos descido de divisão? Como?”. É incrível o que a gente jogava, incrível… Muitas vezes foi falta de sorte e sofríamos golos aos 93’ a ganhar 1-0 e foram cinco ou seis vezes… se calhar, destas cinco ou seis, se tivéssemos ganho uma ou duas, não tínhamos descido. E acabámos a primeira volta em sétimo lugar!

Miguel Ferreira de Araújo
Miguel Ferreira de Araújohttp://www.bolanarede.pt
Um conjunto de felizes acasos, qual John Cusack, proporcionaram-lhe conciliar a Comunicação e o Jornalismo. Junte-se-lhes o Desporto e estão reunidas as condições para este licenciado em Estudos Portugueses e mestre em Ciências da Comunicação ser um profissional realizado.                                                                                                                                                 O Miguel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

As primeiras imagens de João Félix com responsáveis do Al Nassr

João Félix está muito perto de ser confirmado como jogador do Al Nassr. O avançado já se encontra na Áustria com os seus colegas.

Violência no Dragão: Gabri Veiga e Unuvar expulsos do FC Porto x Twente depois de comportamentos graves

Gabri Veiga e Naci Unuvar foram expulsos na primeira parte do encontro particular entre o FC Porto e o Twente.

Maxi Araújo chama a atenção: eis o clube interessado no jogador do Sporting

Maxi Araújo soma um clube interessado nos seus serviços. O jogador do Sporting está a ser pretendido pela Atalanta.

Eis a numeração do FC Porto para a nova temporada

O FC Porto apresentou os números dos seus jogadores antes da partida entre o emblema do Dragão e o Twente.

PUB

Mais Artigos Populares

João Félix arrasado: «Isto demonstra que só o talento (que tem, todo o que há no mundo) não importa»

João Félix foi bastante criticado por Mario Suárez, antigo jogador do Atlético Madrid, pela sua mudança rumo ao Al Nassr.

Nicolás Otamendi deixa mensagem de ânimo a Bruma

Nicolás Otamendi deixou uma mensagem a Bruma. O extremo internacional português recebeu uma mensagem do capitão.

Flamengo vence corrida ao Besiktas e garante Emerson Royal até 2028

O Flamengo confirmou a contratação de Emerson Royal. O defesa brasileiro esteve perto do Besiktas, mas optou por regressar ao seu país natal.