Porque assobiam, para quem assobiam e o que querem com os assobios?

atodososdesportistas

Numa semana em que entrámos na fase de grupos Liga dos Campeões e tivemos um sorteio que nos sorriu (coisa muito rara, diga-se) e em que gozamos do facto de sermos um dos líderes do campeonato (ainda que só se tenham disputado duas jornadas); numa altura em que temos um registo de 6 golos marcados e 0 sofridos em jogos oficiais com base num futebol em construção, já muito perfumado, com uma posse e circulação de bola de fazer inveja a muitos e uma equipa que apresenta soluções, pergunto-me: o que querem os ditos adeptos portistas que em todos os jogos teimam em, a dada altura, assobiar o conjunto azul-e-branco? Vamos por partes.

Porquê? Por termos mais de 70% de posse de bola, um jogo assente na paciência e na circulação da “redondinha” e esperarmos que a teia defensiva da outra equipa se desmonte e assim possamos criar perigo? Relembro que Guardiola ainda há bem pouco tempo disse ser “impossível fazer um ataque bem organizado sem uma sequência de 14/15 passes”. Ter a bola em Maicon–Fabiano-Indi tem sido tão seguro como a ter nos pés de Brahimi–Óliver–Jackson. Os adeptos têm de perceber que a matriz do jogo dos dragões assenta na certeza de não errar, antes de se querer “chutar para a frente e esperar que Jackson resolva”, como acontecia muito no ano anterior. Se os adeptos de Bayern, Barcelona, Arsenal ou Chelsea assobiassem cada vez que a bola está a ser pacientemente trocada na defesa (não confundir “pacientemente” com “passivamente”), então os estádios estavam quase 90 minutos sob um coro de assobios.

Para quem? No jogo fora com o Lille ouvi assobios logo no primeiro tempo vindos da pequena fracção de adeptos portistas que foram “apoiar” a nossa equipa. Tinham decorrido vinte e poucos minutos e os dragões tinham cerca de 75% de posse de bola na altura. Seria esta uma contestação ao treinador pelo seu estilo de jogo? A verdade é que ganhámos, ganhámos bem e num campo difícil. No jogo da segunda mão, com a vitória assegurada e com a certeza de que Quaresma ou Quintero iam entrar (estiveram todo o segundo tempo a aquecer), eis que surge um contratempo e Casemiro (até então o melhor em campo, a par de Brahimi) pede para sair devido a dores musculares. Como é lógico, esperava-se ver sair o argelino para a ovação, mas Lopetegui teve de optar por um jogador de características mais defensivas dadas as circunstâncias. A opção recaiu em Ricardo (confesso que pensei que iria entrar para defesa direito e Danilo subiria para o “miolo”), jovem que sempre deu tudo em campo e que completava ali mais um sonho: a estreia na liga milionária. Em vez de aplaudirem a enorme exibição de Casemiro e darem força ao jovem que em menos de dois minutos saltou do banco, aqueceu, despiu o fato-de-treino e entrou, os adeptos preocuparam-se em assobiar o facto de RQ7 não ter entrado em campo… Nesse caso, os assobios foram sem dúvida para o treinador Julen Lopetegui. Acho um erro e uma estupidez (desculpem-me a agressividade da palavra) assobiar um treinador que transformou o Porto em pouquíssimo tempo. Relembro que Van Gaal, por exemplo, tem a mesma missão em Manchester… Penso não ser preciso falar sobre isso. O trabalho de Lopetegui até agora tem sido fantástico. Não merece os assobios que (já) ouviu.

O que pretendem? Agora é a vez de ser o leitor a responder-me, porque não consigo, de todo, entender o que pretendem estes ditos “adeptos” com as tamanhas assobiadelas (que começaram no jogo de apresentação, quando ainda se jogava a “feijões”…). Acham que o treinador vai ceder à pressão? Acham que deve tentar agradar ao adepto e com isso preterir todo um trabalho que esse mesmo adepto não vê, feito em laboratório durante toda a semana para aquele jogo específico? Os adeptos têm de perceber que o plantel tem 25/26 jogadores e que apenas 18 são convocados para o jogo, sendo que 11 são titulares e podem entrar mais 3, se o treinador assim o entender. Não pode haver um jogador mais que seja mais do que os outros. Que os adeptos tenham um carinho especial por Quaresma, isso é perfeitamente normal. Eu também tenho. Aquela magia, aqueles dribles e aquela imprevisibilidade fazem dele um jogador apetecível ao olho de qualquer adepto. Mas o treinador, aquele senhor que escolhe os tais 18 de 25/26, põe 11 de início e escolhe mais 3 (se quiser…), tem uma visão global: olha para o jogo da equipa e não para um jogador. Quaresma é um jogador da equipa e se quer jogar tem de ser, acima de tudo, um jogador para a equipa. Apresentou-se numa forma fantástica neste início de época, com o peso ideal e com vontade de ajudar em tarefas defensivas. Mas a sua frescura física já não é a de antigamente, e o “sangue novo” trazido por Lopetegui veio tornar ainda mais óbvio aquilo que vaticinei num texto anterior: Quaresma está destinado a ser o suplente de luxo, um abre-latas para os últimos 15/20 minutos dos jogos mais complicados; titular em jogos onde os adversários jogam com linhas baixas e atacam pouco e uma possível escolha para confrontos onde a experiência pode ser fundamental (um derby num momento menos bom da equipa, por exemplo).

Quaresma tem de ser um jogador de equipa Fonte: Zerozero/ Catarina Morais
Quaresma tem de ser um jogador de equipa
Fonte: Zerozero/ Catarina Morais

Quaresma só tem de fazer o seu trabalhinho como tem feito e esperar que o treinador veja nele aquilo que o adepto. “Deixem de fazer filmes”, como o próprio diz. Já chega a comunicação social querer arranjar problemas onde eles não existem, não vale a pena que o adepto “ajude à festa”, por favor. Assim me despeço, na esperança de que amanhã, diante do Moreirense, possamos ouvir aplausos e não assobios.

P.S.: Parece-me que amanhã poderá ser um bom jogo para o “ciganito” ser titular, na sequência do que escrevi mais acima. Cabe ao treinador escolher 2 em 4 (Óliver, Brahimi, Quaresma ou Ricardo), e respeitarei a escolha do meu treinador, independentemente de quem jogue. Se já temos tanta coisa e tantos contra nós, não podemos permitir tiros nos próprios pés. Somos Porto!

Sabe Mais!

Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

O Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

  • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
  • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
  • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
  • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

Redação BnR
Redação BnRhttp://www.bolanarede.pt
O Bola na Rede é um órgão de comunicação social desportivo. Foi fundado a 28 de outubro de 2010 e hoje é um dos sites de referência em Portugal.

Subscreve!

Artigos Populares

Kyle Walker na porta de saída do AC Milan e… do Manchester City

Kyle Walker vai deixar o AC Milan e regressar formalmente ao Manchester City. Lateral terá novo desafio na carreira.

Manchester United de Ruben Amorim pondera avançar com proposta por Pedro Gonçalves

O Manchester United está interessado em Pedro Gonçalves, do Sporting. Hipótese ganha mais força se Bruno Fernandes sair.

FC Porto interessado em internacional pela Arménia

O FC Porto está interessado numa possível contratação de Eduard Spertsyan. Avançado de 24 anos joga no Krasnodar.

Rui Costa apresenta orçamento do Benfica para 25/26 e conclui: «A nossa razão de existir é vencer»

O Benfica enviou aos sócios um documento com o orçamento do clube para a próxima temporada. Eis a mensagem de Rui Costa.

PUB

Mais Artigos Populares

Marco Silva apontado a tubarão europeu

Marco Silva está a ser associado ao comando técnico da Juventus. O treinador orienta atualmente o Fulham.

FC Porto elimina Sporting da Liga de Basquetebol e está na final da competição

FC Porto eliminou o Sporting da Liga de Basquetebol por 3-0 e vai enfrentar na final o Benfica.

Pedro Amaral rejeita primeira abordagem para renovar contrato com o Estoril Praia

Pedro Amaral encontra-se à entrada do seu último ano de contrato com o Estoril Praia. O jogador rejeitou a primeira abordagem.