Médio Defensivo “Barco Rabelo”

a minha eternidade

“Os tempos são três: o presente das coisas passadas, o presente dos presentes e o presente das futuras” (Santo Agostinho: Confissões)

Os meus artigos versarão sobre a actualidade do Futebol Clube do Porto consubstanciada na história e no seu devir. Articularei revisitações e prolegómenos a uma instituição vencedora desde 1893 até ao fim dos tempos.

Este clube portuense, uma perpetuação eterna do meu espírito quando a matéria se dissolver, irá ser o meu objecto transcendente de reflexão, entrecruzando razão e paixão. A “Bola na Rede” propícia um extasiar de emoções desmedidas, contraditórias, dialécticas. O golo é o ponto marcante na ligação afectiva com este desporto, um marco na nossa cronologia vivencial. A marcação do tento constrói essa panóplia diversa de simbologias, vista por uns como um beijo na rede, por outros como uma lança que trespassa o coração. Esse momento de fruição e trauma momentâneo é relembrado, revivido e reconstruído ao longo das nossas vidas. O grito de golo é uma expressão da “liturgia” desportiva mais solene. Na religião e no desporto, as liturgias/gritos de golo devem apenas pautar o quotidiano, mas nunca a finalidade, a substância da crença. A racionalidade da veneração só é feita se empreendermos um questionamento constante e incessante da nossa identidade, não para negar, mas para fortalecer, solidificar e aprimorar essa natureza intemporal. Renego liminarmente a concepção de que a paixão é incontestavelmente a antítese da racionalidade. Para esse amor racionalmente lúcido, irei socorrer-me da conjugação dos tempos e de uma transdisciplinaridade de vários saberes.

A “Bola na Rede” pontua essa plenitude de significados que este jogo suscita. Sem dúvida, o objectivo final do jogo é apenas o início da procura da compreensão do fenómeno social total. 

 

António Nicolau de Almeida, responsável pela fundação do Futebol Clube do Porto em 1893, era um importante comerciante de vinho do Porto. Esta instituição desportiva está perfeitamente incorporada e identificada com a identidade da cidade e dos portuenses. O comércio do vinho do Porto marca indelevelmente a história do seu clube mais afamado e também da cidade. Para essa actividade comercial não existe símbolo mais marcante do que os barcos Rabelos. Estas embarcações são o testemunho de uma era na qual cada viagem era uma aventura no limiar da vida e da morte. Em meados da década de 60 foram substituídos pelos comboios e camiões. A inactividade económica actual contrasta com o seu poder simbólico presente, atestado pela sua perpetuação como ícone, navegando ainda hoje nas ribeiras da Régua, Gaia e Porto. Sem as suas odisseias talvez o Alto Douro não fosse conhecido como a região da vinha e do vinho.

barco rabelo
Barco Rabelo no rio Douro – um clássico portuense
Fonte: pt.wikipedia.org

Os Rabelos foram durante séculos os únicos meios disponíveis para transportar as pipas de vinho desde a zona de produção até ao entreposto exportador, no Porto e em Gaia. No Porto “vintage” de Lopetegui quem será esse jogador “Rabelo”? Neste início de época, os azuis e brancos têm denotado imensa dificuldade na saída de bola, com uma troca de passes circular entre os quatro membros da defesa, que se tem revelado inoperante e, por vezes, muito arriscada. Essas deficiências provocadas por um excesso de jogo apoiado na 1ª fase de construção não se explicam apenas pela articulação dos membros de sector. É necessário enquadrar o médio defensivo neste processo.

Sendo descabido falar de um ex-jogador quando se quer explicar as deficiências da equipa, importa mencionar o “polvo” Fernando para compreender a mudança de estilo nessa posição específica. Este era um jogador mais posicional, com um perfil enquadrado e semelhante ao dos seus predecessores no lugar de médio defensivo puro (ou trinco). Paulo Assunção, Costinha, Jaime Pacheco ou André, para citar alguns, eram jogadores mais equilibradores, mais estáticos no posicionamento, lateralizando preferencialmente no passe. O Futebol Clube do Porto necessita de um médio defensivo que assegure não apenas a cobertura de espaços, mas que ligue o sector defensivo com os restantes colegas do “miolo” (passe curto) e com a linha de avançados (passe médio/longo), ou seja, necessita de um pivot. A indefinição do modelo de saída de bola na zona defensiva é também explicada pela constante alternância de jogadores e também da própria ideia de jogo para a linha média, mais concretamente na sua “pedra” mais recuada. Naquele posicionamento já actuaram Marcano, Herrera, Casemiro e Ruben Neves. O espanhol, central adaptado, é forte nas marcações mas empresta pouca dinâmica ao colectivo. O mexicano é muito bom na condução de bola junto ao pé em velocidade e apresenta destreza suficiente para sair daquela zona de pressão com a bola controlada; o seu problema surge no momento seguinte, o da entrega – Herrera ainda é algo débil no passe, mesmo no curto. O brasileiro Casemiro disponibiliza-se bem para jogar com os defesas e tem um passe longo magistral mas quando recebe a bola fá-lo inúmeras vezes de costas e tem dificuldade em rodar e se perfilar para a baliza adversária, perdendo a posse nessas ocasiões. Dito isto, o jogador mais completo para a posição é Rúben Neves. Recua, aproximando-se dos defesas para a ligação, sai bem da pressão em rotação ou progressão, vertical e seguro no passe curto, hábil na variação do sentido de jogo, confiante para procurar desmarcações a 30 metros e para arriscar a finalização com o seu potente remate de meia distancia.

FC PORTO - MARITIMO
Rúben Neves pode ser a melhor das soluções para posição ‘6’
Fonte: abola.pt

Este jogador, formado nas escolas azuis e brancas é esse médio, que, como um barco Rabelo, navega desde a “zona de produção” até aos “entrepostos exportadores”, ou seja, proporciona a ligação entre sectores – o defensivo e o ofensivo – sem descurar a segurança e a cobertura zonal.

O Futebol Clube do Porto, com a saída do “Polvo”, tem de alterar a tipologia estilística colectiva e o perfil individual nessa posição nevrálgica, que marcou historicamente estas últimas três décadas grandiosas do clube. Com este paralelismo histórico, procuro reavivar uma velha identidade, que proporcione carácter à equipa de futebol e familiaridade afectuosa a quem a segue com paixão.

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