Fez toda a formação no SL Benfica e 53 jogos pelas camadas jovens da Seleção Portuguesa. Foi treinado por alguns dos treinadores mais conhecidos do futebol português, mas o seu espírito explorador e sem medo do desconhecido não lhe permitiu permanecer em Portugal. Jogou em vários campeonatos, em diferentes continentes e apanhou algumas surpresas pelo meio, não tendo dúvidas que isso contribuiu para a sua aprendizagem e crescimento como jogador e como pessoa. Pelo caminho, concretizou muitos dos seus sonhos e revela-nos tudo nesta entrevista.
«Devemos fazer as coisas com divertimento, só assim conseguimos aproveitar ao máximo aquilo que estamos a viver»
Bola na Rede: Fizeste a tua formação no SL Benfica, num clube reputado pela qualidade dos jogadores que forma, como é que foi todo esse processo?
Ricardo Esteves: Fazer a formação toda no Benfica é de facto algo que me orgulha porque, para além de ser formado como jogador no Benfica, aqueles treinadores todos que estavam naquela altura, e penso que neste momento também é o mesmo caminho que têm, para além de formarem jogadores, formavam homens. Porque na vida não é só o desporto, mas sim também como podemos viver no nosso dia-a-dia e acho que acima de tudo, aquilo que tive depois de tantos anos, porque foram 15 anos ligados ao Benfica (comecei no Benfica com seis anos, saí com 21), mas aquilo que tiro acima de tudo, para alem da aprendizagem que tive como jogador, e se calhar tive os melhores treinadores de formação, foi sobretudo também na qualidade humana, aquilo que nos ensinaram para sermos melhor como jogadores e como homens sobretudo. E acho que isso é de louvar porque, como disse há pouco, não é só o desporto que importa, mas também a pessoa que se torna.
Bola na Rede: Antes de falar do teu percurso como profissional, ainda fizeste 53 jogos pelas camadas jovens de Portugal e venceste inclusive o Campeonato da Europa de seleções sub-16, ao lado de jogadores como Simão Sabrosa, Petit e Hugo Leal; que recordações tens desta competição e dos jogadores com quem jogaste?
Ricardo Esteves: Eu tive o prazer de fazer parte de uma geração de jogadores que tiveram grande sucesso na carreira, nomeadamente como o Hugo Leal, o Simão Sabrosa, foram de facto jogadores com quem tive o prazer de jogar com eles no Benfica. Por exemplo, joguei com o Hugo Leal na formação, com o Simão Sabrosa na equipa principal do Benfica, como outros como o Caneira, que também jogou comigo nas seleções e no Benfica, na equipa principal. Mas sobretudo foi uma seleção de grandes jogadores que fizeram carreira muitos boas, e tínhamos uma grande seleção. Fomos campeões da Europa sub-16, fomos vice-campeões da Europa sub-18, tivemos um Campeonato do Mundo onde as coisas não nos correram bem, mas tínhamos uma grande seleção. Acima de tudo, para além da competição em si, de jogarmos em clubes diferentes, éramos uma Seleção unida e de grandes amigos, que até hoje essa amizade perdura.
Bola na Rede: Em 1998/99 és emprestado pelo Benfica ao Clube Oriental de Lisboa, que na altura estava na II Divisão B, e és treinado por José Peseiro. Que memórias tens deste teu primeiro campeonato a nível sénior e de trabalhares com um treinador tão conhecido como o José Peseiro?
Ricardo Esteves: O José Peseiro nessa altura também estava no início da carreira, estava a dar os primeiros passos como treinador. Para mim foi importante porque eu vinha de uma realidade totalmente diferente, vinha do Benfica, era a transição de júnior para sénior, e encontrei uma realidade totalmente diferente. Vinha de um clube grande, onde tínhamos todas as condições de treino, para uma realidade totalmente diferente, para um clube muito humilde, embora com um excelente treinador, que era o José Peseiro e depois vemos a carreira que ele tem feito, mas foi importante para o meu crescimento. Eu vinha a jogar em competições com jogadores da minha idade e fui pela primeira vez jogar com jogadores muito mais velhos que eu, numa competição muito mais dura e obviamente, para um jovem, é sempre bom jogar nestas competições para o seu crescimento, para ficar com outra atitude em campo, com mais maturidade, e para mim, com a idade que fui, era importante dar este passo para poder crescer.
Bola na Rede: Na época seguinte começas no Benfica B, mas na segunda metade época és emprestado ao Vitória de Setúbal e fazes a tua estreia aí na Liga Portuguesa; como é que encaraste esse momento, foi o concretizar de um sonho de infância?
Ricardo Esteves: Sim, foi. Eu estive no Oriental com 18 anos, depois passei para a equipa B do Benfica porque eu fui para o Oriental emprestado no intuito de crescer como jogador. Depois regressei ao Benfica para a equipa B, onde já jogámos numa competição de seniores e depois, por ter jogado nas seleções e por ter estado num Torneio de Toulon pela Seleção, tive o convite para ir para o Vitória de Setúbal, onde o treinador era o Rui Águas, que estava interessado em que eu fosse emprestado ao Vitória de Setúbal. Para mim foi gratificante e foi uma hora de felicidade porque era o concretizar de um sonho, apesar da minha estreia não ter sido no Benfica como sénior na I Liga, o meu sonho, de alguma forma, foi concretizado. Jogar a I Liga com 19 anos onde fiz todos os jogos no Vitória de Setúbal desde a altura em que fui emprestado até sair, onde tive algum protagonismo naquela equipa, onde tinham grandes jogadores como Chiquinho Conde, como Hélio, como o Mamede, como Marco Tábuas, nomes que fizeram carreira no futebol internacional e nacional. Era gratificante estar numa equipa de jogadores conhecidos, e para um jovem, jogar na I Liga com 19 anos era de facto um sonho concretizado. Agradeço muito com míster Rui Águas que, apesar da minha idade, de ser um jovem, apostou, sem qualquer receio, nas minhas qualidades, e apostou muito em mim na equipa e a jogar sempre.
Bola na Rede: Após uma breve passagem pelo FC Alverca e pelo Benfica B, fazes finalmente a tua estreia pela equipa principal do Benfica. Após a formação no clube, e diferentes experiências a nível sénior noutros clubes, como descreves aquele momento em que fazes a estreia pelo Benfica?
Ricardo Esteves: Aí foi o concretizar do sonho que sempre tive. Eu sempre tive o sonho, desde de pequeno, de vestir a camisola do Benfica na equipa principal e quando o fiz foi de facto uma alegria imensa porque foi o concretizar de todos os anos que trabalhei para aquele momento. Não foi a melhor altura para entrar no Benfica, para um jovem entrar num clube grande que estava a ter muitas dificuldades financeiras, dificuldades internas, de estrutura, muitos treinadores a entrar e a sair, muitos jogadores a entrar e a sair, a instabilidade que havia naquele clube naquele momento, não era a melhor altura para eu entrar no Benfica. Mas havendo a oportunidade de poder jogar no clube que me formou, onde eu estive ligado durante 15 anos, eu não poderia deixar de apanhar aquela oportunidade. Não só na vida, mas no futebol sobretudo, o comboio só passa uma vez, e o comboio passou de porta aberta e eu tinha que entrar porque de facto era a minha oportunidade.

Bola na Rede: O treinador que te concedeu essa estreia foi Toni, uma lenda do Benfica, recordas-te daquilo que ele te disse quando te anunciou que ias jogar?
Ricardo Esteves: Para já, dar a oportunidade de jogar a qualquer jovem numa equipa principal e nomeadamente no Benfica, uma equipa grande, sabemos que acredita em nós e aquilo que ele disse era para me divertir em campo. Obviamente, sabendo a responsabilidade que é jogar num clube grande, mas acima de tudo, para fazer aquilo que sabia e para me divertir em campo porque, para além da concentração, para além da atitude que se tem de ter em campo, devemos fazer as coisas com divertimento, só assim conseguimos aproveitar ao máximo aquilo que estamos a viver.