Dez anos depois, as mesmas contas | SL Benfica

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Barreiros, 29 de Abril de 2013. O Benfica puxava a ferros uma vitória que lhe garantia vantagem confortável sobre o Futebol Clube do Porto de Vítor Pereira – à 27.ª jornada, a faltar três jogos para o final por serem só 16 equipas, eram quatro os pontos de avanço.

Aquela equipa, com Luisão, Maxi, Nico ou Cardozo tinha sofrido muito nas duas temporadas anteriores, com fracassos a toda a linha nos confrontos com Dragões – e por isso mesmo, pensaram eles, o martírio havia terminado com essa margem que, a faltar tão pouco para a meta, se tornava tão confortável como a melhor das poltronas.

Decidiram então sentar-se, refastelar-se, descontrair e abrir os braços, num misto entre o espreguiçar e um suspiro histérico de nervosismo, ali mesmo no relvado madeirense, passando a mais arrogante das mensagens.

O sofrimento acumulado tirou a clarividência à equipa e impediu-a de dar o melhor exemplo. Assim que se ouviu o apito final do árbitro e se viu a reacção dos jogadores, benfiquistas aos magotes invadiram o Marquês para o reservar com a gigante tarja que se fez famosa à conta do que se passou depois – empate caseiro com o Estoril de Marco Silva e a Kelvinada no Porto.

2012-13 tinha começado com um golpe de artista de Luis Filipe Vieira. No último dia de mercado vendia Javi Garcia, o trator espanhol agora feito adjunto e estrela campeã em 2010, e uns dias depois, quando os mercados orientais ainda não tinham arrumado as trouxas, vendia Witsel ao Zenit.

Numa machadada, matava dois coelhos – e arruinava o meio-campo do Benfica, que se via sem os seus titulares e sem substitutos sérios.

Subia na hierarquia Nemanja Matic, o jovem sérvio que serviu como moeda de troca por David Luiz, e… ninguém.

Este jogo pode ser a lufada de ar fresco que Jesus precisa
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Jorge Jesus meteu-se a inventar e lá descortinou um indisciplinado argentino como oito de eleição e foi aos juniores descobrir André Gomes. O sentido prático do treinador não deixou a temporada morrer imediatamente e a equipa não tombou.

Como agora, começou por se perceber que não era a mesma coisa – mas ao poucos foram-se fixando ideias, os mais consagrados como Aimar espalharam sabedoria e a coisa foi ao sítio como nunca ninguém imaginou.

A certa altura, jogava-se muito mais que com a dupla anterior a comandar operações –   que tinham dado ‘show’ em certas alturas de 2011-12, mas nunca com o brilhantismo que Matic-Enzo atingiram a determinada altura: a equipa fluía, as oportunidades sucediam-se, perder só em solo europeu – até Maio, o Benfica tinha perdido… um jogo em contexto nacional: nas meias-finais da Taça da Liga… curiosamente, um desempate por penalties contra o Sporting de Braga!

Dez anos volvidos, a situação é tudo idêntica. Ao bom aproveitamento de Jesus a quatro jogos do fim (22 vitórias e quatro empates, 89,4% dos pontos possíveis ganhos) aconchegam-se os bons números de Schmidt (25 vitórias em 30 jogos, 85%).

Em 2013 contavam-se 70 golos marcados até então (2,69 de média), e agora, ao fim de 26 jornadas – para se ser justo – havia 67 golos (2,57); Se ir à Madeira em 2013 era visto como uma trabalheira – aquele Marítimo, apesar do 10.º lugar final, só perdeu três jogos em casa -, por estes dias receber o Braga parece ainda mais intransponível; Em vez de uma ida ao Dragão, temos uma ida a Alvalade na penúltima jornada, para compor o leque de comparações e deixá-lo mais credível.

Tanta parecença foi aproveitada por vários órgãos de comunicação social e à caixa de ressonância foram chamados Kelvin, pelo O Jogo, e Jorge Jesus pel’ A Bola, dois nomes fortemente ligados aquele final de catástrofe e, para quem acredita mesmo em bruxas, é aviso suficiente para se tomar cautela – numa fase onde a cultura da internet tem o estrondoso poder de influenciar a realidade, não podem os benfiquistas mais supersticiosos dormir descansados – o timing das declarações de Jorge Jesus assusta e traz de volta memórias duma tragédia que toda uma geração não esquecerá tão cedo. 

Não será então uma vitória frente ao Sporting de Braga, por muito descanso que dê às contas do título benfiquista, que deverá ser vista como remate final; os festejos deverão ficar guardados apenas para o fim de semana de 21 de Maio, quando for hora de visitar Alvalade – se possível com quatro pontos de avanço.

Como em 2012-13 também, a questão física impõe-se como séria dor de cabeça e com repercussões na perfomance da equipa – dum Benfica triturador testemunhámos a transformação em Benfica inofensivo, sem ideias, aparvalhado na hora de controlar investidas adversárias e dependente dos humores de figuras eclipsadas como João Mário e Rafa.

Como remate final, a certeza e o alívio do perseguidor não ser o mesmo nem do mesmo calibre – porque não há Lucho González, Hulk ou Jackson, nem o Sérgio Conceição de 2023 conseguiu construir um percurso tão imaculado quanto o de Vítor Pereira, que ganhou aquele campeonato de forma invicta – apenas seis empates – e que durante o seu reinado de dois anos no Dragão, perdeu apenas… uma vez para a Liga. Em 60 jogos!

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