Tour de France #2: Uma luta titânica e um sprinter em evidência

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Ao fim de quinze dias de competição, a classificação geral da 110.ª edição do Tour de France começa a aproximar-se cada vez mais do que poderá ser a classificação geral final do maior evento velocipédico do mundo.

OS DOIS EXTRATERRESTRES CONTINUAM JUNTOS E INSEPARÁVEIS, ENQUANTO ALGUNS SAEM E OUTROS ENTRAM NO TOP 10

As duas principais coqueluches, o dinamarquês Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) e o esloveno Tadej Pogacar (UAE Team Emirates), líderes das duas equipas mais bem classificadas do ranking mundial, partiam para a segunda semana separados por uma diferença temporal de 17 segundos a favor do dinamarquês, que se tem vindo a esbater lentamente. Os dois têm andado colados à roda um do outro, sendo rara a situação numa etapa de montanha em que, voluntariamente, um dos dois se deixa distanciar pelo adversário, tais são a equiparação de forças e a tensão vivida. Ainda assim, involuntariamente, o camisola amarela Vingegaard teve de abdicar de 8 segundos da vantagem dos 17 de que dispunha da nona até à décima quinta etapa, conseguidos por Pogacar, fruto da sua superior capacidade explosiva.

Chegados ao fim da segunda semana da Volta à França, os dois extraterrestres encontram-se distanciados por 9 segundos, com vantagem para Jonas Vingegaard, e a última semana, que contará com um contrarrelógio montanhoso, uma etapa com o mítico Col de la Loze em evidência e ainda uma penúltima tirada marcadamente acidentada, ditará se Jonas Vingegaard revalida o seu estatuto de campeão em título ou se Tadej Pogacar conquista o seu terceiro Tour.

No que toca à disputa pelo pódio, após o inédito final da primeira semana no Puy de Dôme, o australiano Jai Hindley (BORA-hansgrohe) possuía uma vantagem confortável de mais de um minuto e meio sobre os mais diretos rivais. Porém, após um fim de semana menos conseguido, o vencedor do Giro de 2022 encontra-se na quinta posição da classificação, tendo-se deixado ultrapassar pelo emergente Carlos Rodríguez (INEOS Grenadiers) e pelo primeiro maillot jaune desta edição da “Grande Boucle”, Adam Yates (UAE Team Emirates), que, em princípio, estarão já arredados da disputa pela vitória final, mas que mantêm a chama da luta pelo pódio bem viva. Rodríguez parte na pole position para a última semana, aproximadamente 20 segundos à frente de Yates, com Hindley a cerca de um minuto dos dois.

No que diz respeito ao restante top 10, desde o Puy de Dôme até Saint-Gervais Mont-Blanc deixaram de aí figurar a estrela multidisciplinar Thomas Pidcock (INEOS Grenadiers), com prestações abaixo do expectável no último fim de semana; e um dos princiapais garantes do desportivismo no pelotão, Romain Bardet (Team dsm-firmenich), que, estando já fisicamente debilitado, foi ainda vítima de uma queda que o forçou a abandonar a prova.

Quanto aos que se mantiveram no top 10, são eles: o melhor gregário de luxo de alta montanha do mundo, Sepp Kuss (Jumbo-Visma), cuja regularidade lhe assegura a sexta posição de momento; o vencedor da Vuelta de 2018, Simon Yates (Team Jayco AlUla), que tem tido também alguns azares e está no oitavo lugar da classificação geral; e o francês David Gaudu (Groupama-FDJ), que tem sofrido horrores para se manter no grupo dos favoritos, mas que tem feito das fraquezas forças e segurado o seu top 10 com uma capacidade de resiliência admirável, estando colocado no nono posto.

De notar ainda as entradas nos 10 melhores do espanhol Pello Bilbao (Bahrain-Victorious), que tirou proveito de uma fuga no início da segunda semana para ser agora sétimo colocado; e de Guillaume Martin (Cofidis), que, como já é habitual, integrou uma escapada na derradeira etapa da segunda semana para figurar, à entrada para a terceira semana, como a “lanterna vermelha” do top 10.

Com possibilidades de integrar o top 10 da classificação geral final, estão ainda: o austríaco Felix Gall (AG2R Citroen Team), o britânico Thomas Pidcock, o francês Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), o espanhol Mikel Landa (Bahrain-Victorious) e o alemão Emanuel Buchmann (BORA hansgrohe).

No que toca à disputa pela classificação geral final da Volta à França, tudo está ainda por decidir, esperando-se ainda muito fogo de artifício.

DOIS EM UM, COM UMA DEDICATÓRIA ESPECIAL

A etapa de abertura da segunda semana de competição, com um percurso bastante acidentado e com uma ligação de quase 170 km entre Vulcania e Issoire, começou de forma bastante confusa, com a formação de múltiplos grupos ao longo da estrada e com vários corredores a serem precocemente deixados para trás, vitimas de um ritmo altíssimo que vinha sendo imposto desde o início da tirada. Finalmente, com cerca de 100 quilómetros para o fim da etapa, a situação estabilizou e um grupo de 14 ciclistas teve permissão para disputar entre si a etapa, tendo estes de se debater com as temperaturas elevadas que se verificavam. Na última subida, coroada a menos de 30 quilómetros da meta, o letão Krists Neilands (Israel-Premier Tech) isolou-se e durantes muitos quilómetros rodou sozinho na frente da corrida até que, nos últimos cinco quilómetros da etapa, já numa secção plana, recebeu a companhia indesejada de mais cinco ciclistas. Na batalha tática final, o basco Pello Bilbao fez tudo bem e deu uma aula de como vencer aos rivais, batendo no risco de meta o alemão Georg Zimmermann (Intermarché-Circus-Wanty) e subindo igualmente ao sexto lugar da classificação geral. No final, dedicou emotivamente o seu triunfo ao seu ex-colega de equipa suíço, Gino Mader, que faleceu em junho, vítima de uma queda na Volta à Suíça.

ELE ESTÁ IMPARÁVEL

A décima primeira tirada, com uma ligação de aproximadamente 180 km entre Clermont-Ferrand e Moulins, estava destinada a ser disputada pelos velocistas. As equipas dos sprinters controlaram, como já é habitual, a distância para os fugitivos do dia e, na altura certa, organizaram-se para deixar os seus finalizadores na posição perfeita para disputarem a vitória. Mais uma vez a disputa dos comboios foi intensa, mais uma vez Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck) pôde saborear o sabor da vitória. Dylan Groenewegen (Team Jayco AlUla) ainda tentou evitar a quarta conquista de etapa do camisola verde, mas o belga, mesmo sem Mathieu Van Der Poel (Alpecin-Deceuninck) como “poisson-pilote”, esteve sempre no controlo da situação e nunca pareceu que o seu triunfo pudesse ser posto em causa por quem quer que fosse.

MODO CONTRARRELÓGIO ATIVADO

A décima segunda tirada, entre Roanne e Belleville-en-Beaujolais, foi desenhada para que da fuga do dia saísse um vencedor de etapa e assim aconteceu. Contabilizando duas subidas de segunda categoria e três de terceira categoria, com o topo da última delas a ser atingido a 30 km da chegada, este era um traçado armadilhado para alguém com uma leitura de corrida bem apurada e num bom estado de forma e foi aqui que surgiu um espanhol já vencedor de uma etapa do Tour em 2016, Ion Izagirre (Cofidis). O experiente basco esperou o momento certo na subida final, o Col de la Croix Rosier, e distanciou-se dos companheiros de fuga com um ataque bem medido, que rapidamente lhe permitiu ter uma vantagem de 20 segundos na subida, que foi gradualmente aumentando durante a descida que se sucedeu, nas pequenas colinas que se seguiram e no plano final, tendo chegado à meta isolado com perto de um minuto de vantagem sobre Mathieu Burgaudeau (TotalEnergies) e Matteo Jorgenson (Movistar Team), alcançando assim a segunda vitória da Cofidis nesta 110.ª edição do Tour.

OS GREGÁRIOS DE LUXO TAMBÉM TÊM DIREITO A VENCER

A décima terceira etapa, com chegada ao Grand Colombier, tratou-se de mais uma oportunidade de vitória para os fugitivos. Chegados ao Grand Colombier, a única ascensão categorizada da jornada, Quentin Pacher (Groupama-FDJ) decidiu abrir as hostilidades com uma aceleração explosiva, mas foi o veterano gregário de luxo Michal Kwiatkowski (INEOS Grenadiers), que encarnando o provérbio popular “devagar se vai ao longe”, saiu vitorioso no final: não reagiu às acelerações iniciais bruscas e, posteriormente, com um ritmo inigualável pelas duas dezenas de companheiros de fuga que o acompanhavam, seguiu inabalável para a sua segunda vitória de etapa na carreira na Volta à França, no topo do Grand Colombier.

A NOVA RAPOSA

O décimo quarto dia de competição, com a subida de categoria especial do Col de Joux Plane como cenário principal, terminava numa descida que se seguia a esta duríssima ascensão. Na subida, a UAE e a Jumbo colocaram ritmos altos para prepararem as ofensivas dos respetivos líderes, Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard. Quando estes foram deixados um contra o outro, para o ato final, Pogacar mostrou-se superior, mas não conseguiu criar uma diferença efetiva na estrada, devido à resistência de Vingegaard e também a uma blocagem involuntária feita por veículos de duas rodas. Com a vigilância permanente que existia entre os dois extraterrestres no final da subida, Carlos Rodríguez e Adam Yates acabaram por reentrar no grupo dianteiro na fase inicial da descida e o espanhol, qual raposa de tenra idade, aproveitou de forma taticamente perfeita a vigilância mútua dos dois principais favoritos para abrir um espaço na descida e, com uma descida mais ousada, conseguiu o suficiente para erguer vitoriosamente os braços na meta, repetindo o feito que do seu colega de equipa no dia anterior.

MAIS UMA VEZ FICOU DEMONSTRADO QUE VELHOS SÃO OS TRAPOS

O final da segunda semana de competição, marcado por uma tirada com final em alto, em Saint-Gervais Mont-Blanc, teve como 15 primeiros classificados da etapa apenas integrantes da fuga da jornada. De todos estes, Wout Poels (Bahrain-Victorious) foi o primeiro a cruzar de linha de meta, batendo o segundo classificado, a superestrela Wout Van Aert (Jumbo-Visma), por mais de dois minutos. Esta vitória de etapa de um dos mais fiéis escudeiros de um dos maiores vencedores de sempre do Tour, Chris Froome, traduziu-se na primeira etapa conquistada pelo neerlandês de 35 anos de idade numa Grande Volta e na segunda vitória de etapa da Bahrain nesta edição do Tour.

A MONTANHA DEVERÁ SER DECIDIDA NUM NEGÓCIO A CINCO

No que toca às contas da classificação da montanha, Giulio Ciccone (Lidl-Trek)            e Neilson Powless (EF Education-EasyPost) encontram-se em igualdade pontual na liderança, com 58 pontos. Olhando ao perfil da última semana e tendo em conta o facto do italiano ser melhor trepador que o norte-americano, Ciccone deverá partir em vantagem, mas só a estrada o decidirá efetivamente. A menos de cinco e dez pontos destes dois seguem os dois candidatos à camisola amarela, Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar, respetivamente. Há ainda que ter em conta, num plano mais distante, o incansável belga Wout Van Aert, que se tiver liberdade para disputar a camisola das bolinhas vermelhas, é um sério candidato, estando a 11 pontos de Powless e Ciccone.

Importa igualmente não esquecer outros candidatos com menores possibilidades, como: Felix Gall, Tobias Johannessen (Uno-X Pro Cycling Team), Michal Kwiatkowski, Michael Woods (Israel Premier-Tech), Wout Poels e Thibaut Pinot.

A CAMISOLA DOS PONTOS JÁ TEM DONO

A camisola verde já tem dono: Jasper Philipsen. Se tudo correr de acordo com o previsto os mais de 140 pontos que Philipsen tem de vantagem sobre os seus mais diretos rivais, Mads Pedersen (Lidl-Trek) e Bryan Coquard (Cofidis), serão mais do que suficientes para assegurar a sua subida ao pódio em Paris como detentor final da camisola identificativa do líder da classificação dos pontos. As quatro vitórias de etapa já alcançadas provam que ele é o velocista em melhor momento de forma e que só um motivo de força maior, nomeadamente um abandono, lhe tirará do corpo a camisola distintiva de que é dono.

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Miguel Monteiro
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O Miguel é um estudante universitário natural do Porto, cuja paixão pelo desporto, fomentada na infância pelos cromos de Futebol que recebia e colava nas cadernetas, considera ser algo indescritível. Espetador assíduo de uma multiplicidade de desportos, tentou também a sua sorte em algumas modalidades, sem grande sucesso, tendo encontrado agora na análise desportiva uma oportunidade para cultivar o seu amor pelo desporto e para partilhar com os demais as suas opiniões, nomeadamente de Ciclismo, modalidade pela qual nutre um carinho especial.

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