«O Paços de Ferreira é parte da minha vida e do meu percurso no futebol» – Entrevista BnR com Carlos Pinto

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    Carlos Pinto, treinador de 51 anos, está de volta à Arábia Saudita, mas foi em solo português onde obteve mais sucesso na carreira. Com passagens em Paços de Ferreira, Santa Clara, Académica, Desportivo de Chaves ou Famalicão, conta também no seu currículo com um Campeonato de Portugal e duas subidas à primeira divisão. Numa altura em que acaba de assumir o Al Safa, o Bola na Rede esteve à conversa com o técnico.

    Bola na Rede: Nascido na Capital do Móvel, foi formado no Paços de Ferreira tendo iniciado e acabado a sua carreira como jogador precisamente lá. Sente que a sua passagem de Carlos Pinto como treinador no Paços foi demasiado curta?

    Carlos Pinto: Já antes o disse, foi um orgulho enorme ser treinador do Paços de Ferreira. Pacense, nascido e criado, o clube onde me formei, onde comecei a jogar futebol profissional e quando surgiu a oportunidade de treinar não hesitei. Na altura, com a pressão acrescida de ser um treinador da terra e de frequentar os mesmos espaços onde aqueles que vivem o Paços também estarem e por isso, foi tudo vivido com uma intensidade maior. A passagem foi a que as circunstâncias ditaram e estarei sempre grato ao clube.

    Bola na Rede: Gostaria de voltar a treinar o Paços, tendo em conta a situação do clube e aquilo que o mesmo pode representar para si?

    Carlos Pinto: Já o disse, o Paços de Ferreira é parte da minha vida e do meu percurso no futebol, foi onde vivi e cresci como pessoa e jogador. Tinha muita vontade de treinar o Paços e demos sempre o nosso melhor, mas por ser da terra, por ser próximo dos que estão no estádio todos os domingos, não foi fácil e para os meus foi uma situação muito difícil. Não há arrependimento, mas foi uma experiência que vivi e que passou.

    Bola na Rede: Reparei que quando foi campeão do Campeonato de Portugal com o Freamunde em 2013/2014, tinha na sua equipa o Pedrinho, o médio que na altura tinha 21 anos. O Pedrinho depois acabou por ir para o Paços de Ferreira e estabeleceu-se como uma figura da liga em vários momentos. Queria perguntar-lhe se a sua ida para o Paços de Ferreira como treinador esteve diretamente ligada com a do jogador também?

    Carlos Pinto: O Pedrinho foi meu jogador em Freamunde, numa época em que tínhamos muito jogadores jovens e de muita qualidade, em quem apostamos sem hesitações. Se for analisar essa equipa há muitos jovens na altura que acabaram por fazer percursos bonitos no futebol profissional. O Pedrinho, por se enquadrar naquilo que era a ideia de jogo que queríamos implementar na altura, foi uma escolha natural. Jogador com qualidade, que conhecia bem e que nos podia trazer coisas boas ao sistema. E não me enganei, exemplo está na referência que deixou no clube. Mas há outros que lancei que muito me orgulha olhar para as carreiras que tiveram, como é exemplo o Pedro Tiba, Kevin Pina, o Pedro Monteiro, o Fernando Andrade, o Franco, entre outros…

    Bola na Rede: Olhando precisamente para o jogador, o Pedrinho, de que forma é que o mesmo pode servir de exemplo para jovens que aos 21 anos se encontram a jogar no Campeonato de Portugal e depois dão um grande salto para outros patamares? Acha que a qualidade nas divisões inferiores não é suficientemente valorizada em alguns casos ou circunstâncias?

    Carlos Pinto: Há uma diferença significativa entre o futebol de formação e o patamar mais elevado das ligas profissionais. O Campeonato de Portugal, a Liga3 ou a Liga Revelação são excelentes espaços competitivos para os jovens jogadores fazerem essa transição. Hoje, nesses patamares, trabalha-se muito bem e isso ajuda os jovens a despontarem, a mostrarem a sua qualidade e talento. Se estas duas caraterísticas estiverem lá, se o jogador trabalhar bem, seja em que patamar estiver, a oportunidade vai acontecer. Nunca tive receio de apostar em jovens – acho até que nenhum treinador receia apostar em jovens. É necessário é que a qualidade e o talento sejam acompanhados de trabalho, resiliência e muitas vezes alguma paciência para que possam errar e aprender com isso. Do que mais gosto é de um jogador irreverente. E normalmente os mais jovens têm mais esta caraterística.

    Bola na Rede: Acha que é preciso ter sorte na carreira ou quem tem efetivamente qualidade acaba sempre por conseguir atingir altos patamares?

    Carlos Pinto: Não basta a qualidade e o talento. É preciso trabalhar todos os dias, ter muita vontade de vencer na carreira. Como em qualquer outra profissão. Temos inúmeros exemplos de talentos que se perderam e outros a quem não era reconhecido talento e tanta qualidade, que com trabalho, com a repetição, a persistência e muita vontade e profissionalismo, acabaram por fazer carreira. Já agora deixe-me dar esta nota: o futebol profissional, o futebol dos ídolos e do talento é a ponta de um funil muito apertado, onde já estão os melhores, e por isso convém continuar a ser competitivo para não ficar para trás.

    Carlos Pinto Chaves
    Fonte: GD Chaves

    Bola na Rede: Olhando para o seu percurso individual novamente, gostaria de me focar naquilo que fez ao serviço do Santa Clara. Conseguiu a subida à primeira divisão em 2017/2018, mas depois acabou por não orientar a equipa na época seguinte, onde iriam disputar a Primeira Liga. O que é que o levou a sair na altura?

    Carlos Pinto: Na altura foram, acima de tudo, razões familiares que me levaram a não continuar. Queria estar perto dos meus e a missão no Santa Clara estava concluída com sucesso, tanto que já havia comunicado à direção essa vontade de regressar para perto de casa.

    Bola na Rede: Acha que existe alguma falta de continuidade nos projetos portugueses que prejudicam o sucesso a longo prazo dos clubes?

    Carlos Pinto: O futebol é uma profissão de grande desgaste em que somos avaliados semanalmente pelo resultado imediato e nessa perspetiva não há muita margem para um projeto de experimentação. Eu creio que os próprios dirigentes o que querem é que todos tenhamos sucesso e que um treinador fique no clube por muitos anos. Mas o futebol, pela sua especificidade, obriga a muitas mexidas estruturais de um ano para o outro, e a receita que serviu para alcançar o sucesso este ano pode não resultar no ano seguinte…

    «ESTAMOS DE MALAS FEITAS PARA A ARÁBIA SAUDITA».

    Carlos Pinto

    Bola na Rede: Tendo presenciado o envolvimento saudita, como é que viu, e vê, este crescimento do futebol no país? Acha que é algo passageiro ou é algo que tem efetivamente futuro e capacidade de se tornar numa das principais ligas em todo o mundo?

    Carlos Pinto: Eu creio que este investimento vai continuar a acontecer nos próximos anos até porque há claramente um objetivo de organizar um Mundial de grande qualidade de futebol no país. A base de recrutamento e de talento não é grande e, quando não temos matéria-prima, importamos. Há essa capacidade financeira, creio que vão continuar a apostar no sentido de tornar o país uma potência no futebol.

    Bola na Rede: Sente que a cultura do país está aberta e disposta a esta mudança de paradigma?

    Carlos Pinto: Por estas razões que antes descrevi, há muito entusiasmo com todas as estrelas do futebol mundial que jogam na Arábia Saudita. Jogadores como o Cristiano Ronaldo, ídolos da modalidade, fazem os miúdos sonhar e isso fará crescer a prática do desporto no país. O número de treinadores estrangeiros que chegaram à Liga trazem mais competência também e o futebol evoluí. É um investimento que estão a fazer e uma política que vamos ver se tem continuidade.

    Bola na Rede: Olhando agora para o seu futuro, gostaria de lhe perguntar por onde passa o seu principal objetivo. Se por Portugal ou pelo estrangeiro?

    Carlos Pinto: Sou treinador de futebol e o futebol é universal. Nessa perspetiva não há uma preferência. Felizmente ao longo da minha carreira fui acumulando competências, trabalhado muito na análise, adaptando-me aos dias e à permanente evolução do desporto. Por uma questão sentimental, estar perto de casa é sempre mais fácil, mas o treinador está sempre de mala feita como se costuma dizer. Felizmente estou numa profissão global que me permite fazer o que sei e que gosto em qualquer parte do mundo.

    Bola na Rede: Em qualquer um dos cenários, que tipo de projetos lhe agradariam mais?

    Carlos Pinto: Um projeto em que me seja permitido treinar e colocar em prática a minha ideia de jogo, num clube estruturado e com uma filosofia bem clara e definida. Já me chegaram tempos idos em que o treinador era olheiro, psicólogo, team manager e ainda treinador. Aqui ou fora de Portugal, hoje trabalha-se melhor neste aspeto e, felizmente, das propostas que me têm sido colocadas, já há muito esta filosofia. Acho que a fase de namoro é fundamental para que o casamento dê certo. Não é o projeto que mais me agradaria nem o cenário onde ele possa acontecer a questão. É a identificação entre todas as partes envolvidas no projeto que é fundamental para o sucesso do trabalho que quero muito voltar a fazer.

    Bola na Rede: Se pudesse escolher qual seria o seu desejo para a esta próxima época?

    Carlos Pinto: Treinar. Encontrar este casamento entre o que é o projeto de um clube, ter as condições necessárias para ser o que sei ser: treinador.

    Bola na Rede: Esse casamento está para breve?

    Carlos Pinto: Está. Ao longo das últimas semanas tenho estado a analisar diferentes propostas e a procurar definir aquilo que neste momento é a uma boa oportunidade para prosseguir a minha carreira. Por onde tenho passado, creio que tenho deixado trabalho. E o trabalho naturalmente cria condições para que possamos voltar a trabalhar. Por exemplo, na Arábia Saudita, o que estávamos a fazer foi reconhecido por quem de perto lidava connosco, pelos jogadores, e o Médio Oriente é para onde vamos voltar. É o Al-Safa FC, que nos lançou um desafio e estamos de malas feitas para regressar à Arábia Saudita. Já conhecemos a competição e isso permite-nos estar melhor preparados para este desafio. Como disse antes, há uma aposta muito grande que estão a fazer e vamos focados nesse objetivo de dar o nosso contributo ao projeto. Naturalmente queremos ganhar mas também contribuir para o futuro e crescimento do futebol da Arábia, por onde precisa de criar bases.

    Nota de redação: a entrevista a Carlos Pinto foi realizada antes da sua oficialização como novo treinador do Al Safa.

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    Guilherme Terras Marques
    Guilherme Terras Marques
    Orgulhoso estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê no futebol e na sua cultura uma paixão. É apenas mais um jovem ambicioso que sonha fazer do jornalismo desportivo a sua vida. Escreve com o novo acordo ortográfico