João Almeida tornou-se no primeiro ciclista português a fechar no top 5 das três Grandes Voltas (Giro, Tour e Vuelta), um feito absolutamente notável e que nem o malogrado campeão Joaquim Agostinho havia conseguido.
Uma marca histórica alcançada pelo ciclista natural das Caldas da Rainha e que aos seus 25 anos, cimenta a sua posição como um dos melhores ciclistas do pelotão internacional.
Na sua primeira participação na Grande Boucle francesa, João Almeida conseguiu um mais do que honroso quarto lugar, igualando o melhor resultado da sua carreira (obtidos na Volta a Itália de 2020 e na Volta à Espanha de 2022), sendo que na corrida italiana já fechou no pódio, terminando em terceiro lugar na edição de 2023.
Há 20 anos (desde José Azevedo na edição de 2004) que nenhum português conseguia fechar no top 5 da Volta à França e este facto já por si seria digno de registo.
Mas só iremos perceber a devida dimensão desta façanha do ciclista nacional com o passar dos anos.
João Almeida foi apenas superado na maior prova do ciclismo mundial pelo belga Remco Evenepoel (seu antigo colega de equipa e já vencedor da Vuelta, assim como campeão mundial de estrada e de contra-relógio), pelo dinamarquês Jonas Vingegaard (vencedor das edições do Tour de 2022 e 2023) e pelo superlativo esloveno Tadej Pogačar (seu atual companheiro de equipa e o melhor ciclista da atualidade, já vencedor de três Tour e detentor de variadíssimos recordes, tendo ganho seis etapas (!) nesta edição).
Isto quer dizer que João Almeida foi o melhor de todos aqueles ciclistas que não eram chefes de fila das suas equipas. O seu papel era o de trabalhar para Pogačar e ser o seu melhor gregário. Para além de ter cumprido esse objetivo na perfeição e trabalhando incansavelmente para o seu líder, conseguiu ser de uma regularidade assinalável e prova disso, é este meritório quarto lugar.
Os seus antigos e atuais colegas de equipa sempre destacam o seu companheirismo, educação, humildade e espírito de sacrifício. João Almeida tem esperado pacientemente pela sua oportunidade e certamente que a equipa lhe irá permitir lutar por objetivos maiores num futuro próximo. É este tipo de postura que é bastante apreciada pelos diretores desportivos das equipas de ciclismo.
O seu talento é inegável e na sua curta carreira, já obteve resultados bastante significativos, como ter ganho a Volta ao Luxemburgo, a Volta à Polónia e ter conseguido um excelente segundo lugar na última edição da Volta à Suíça, prova que serve de preparação para a Volta à França.
Neste contra-relógio individual (última etapa desta edição do Tour), o ciclista português conseguiu um espantoso quinto lugar na etapa, conseguindo defender o seu histórico quarto lugar e aumentar a vantagem para o ciclista que o perseguia: o espanhol Mikel Landa.
Se mantiver a sua ética de trabalho e humildade como o tem feito até agora (e tudo faz crer que assim seja), poderemos estar a falar do primeiro ciclista português a conseguir ganhar uma grande volta e provavelmente não iremos ter que esperar muitos anos para que isso se torne uma realidade.
Tudo é possível com este ciclista fenomenal e as esperanças que nele são depositadas são bastante grandes, como atesta a publicação de felicitações do nosso primeiro-ministro Luís Montenegro. Estou confiante de que Almeida estará à altura das expectativas.
Apesar de ser um ciclista muito completo (vai bem na alta montanha onde consegue imprimir uma grande cadência, tem um bom arranque, defende-se muito bem no contra-relógio, etc…), ainda tem uma margem de progressão bastante grande e está longe de estar no seu prime.
A ambição do ciclista português não tem limites e uma vez terminado o Tour, já está a pensar na Volta à Espanha, onde quer lutar por um lugar no pódio.
O céu é o limite para um ciclista que está chamado a fazer história no ciclismo nacional mas que está talhado para as maiores batalhas e está destinado a deixar um legado importante no ciclismo internacional.