Paris 2024, Natação #2: Guardar o melhor para o fim

modalidades cabeçalho

Não houve uma confirmação assertiva daquilo que se supunha à partida. A piscina de Paris La Defense tinha mesmo uns centímetros a menos, mas não se revelou tão assim tão lenta, com quatro recordes mundiais e 19 recordes olímpicos a serem batidos. Não faltaram performances surpreendentes, decisões ao centésimo e algumas surpresas. Neste artigo, abordamos os principais destaques das finais olímpicas de natação, desde o dia 31/07 até ao termo da competição.

31/07 – Uma bala chinesa

Leon Marchand encantou o público francês e os adeptos de natação em geral, vencendo duas provas muito exigentes como são os 200m mariposa e os 200m bruços na mesma sessão. Se a prova de mariposa foi decidida nos últimos 50 metros, com a ultrapassagem a Kristof Milak (em clara fadiga), a de bruços pareceu decidida desde o início, apesar do fecho tipicamente forte do australiano Stubblety-Cook.

O chinês Pan Zhanle surpreendeu todo o mundo ao esmagar o recorde mundial dos 100m livres, que já lhe pertencia. Sem se preocupar minimamente com a profundidade da piscina, saiu “a matar” nos primeiros 50 metros, deu mais de um segundo de avanço a todos os adversários e registou a estrondosa marca de 46.40.

As finais femininas condecoraram duas das melhores nadadoras da história. A “veterana” Sarah Sjöström sagrou-se pela primeira vez campeã olímpica dos 100m livres, prova em que é a detentora do recorde mundial. Já Katie Ledecky venceu novamente os 1500m livres com grande autoridade (e novo recorde olímpico), prova em que provavelmente seria tetra-campeã olímpica, não tivesse esta sido adicionada ao calendário olímpico feminino apenas em 2021.

01/08 – Mais um dia de Verão

Summer McIntosh venceu os 200m mariposa com novo recorde olímpico, confirmando-se como a figura de maior destaque no setor feminino. A jovem canadiana viria a sair de Paris com três ouros e uma prata em provas individuais. O húngaro Hubert Kos sagrou-se campeão olímpico nos 200m costas masculinos, registando um tempo que daria apenas o bronze em Tóquio e que só bastaria para vencer a prova se regressássemos a Atenas 2004. A saída ousada de Apostolos Christou prometeu e acabou por resultar numa prata tangencial, depois de uma quebra natural nos últimos metros.

Kate Douglass impediu a dobradinha da sul africana Tatjana Smith, conquistando o ouro nos 200m bruços, com uma prova muito bem gerida.  Finalmente, na estafeta mais longa do programa (4x200m livres), as australianas ameaçaram o seu próprio recorde do mundo e viram-se também ligeiramente ameaçadas pelo terceiro percurso da estafeta dos Estados Unidos, protagonizado pela estrela Katie Ledecky. Nenhuma das ameaças se concretizou, com o último parcial de Ariarne Titmus a bastar para garantir a vitória. Foi estabelecido um novo recorde olímpico, a 58 centésimos da melhor marca mundial registada no mundial de 2023, em Fukuoka.

02/08 – O orgulho de Toulouse

A prova mais rápida do calendário olímpico, os 50m livres masculinos, terminou com a primeira medalha olímpica individual para Cameron McEvoy, campeão do mundo da mesma prova em 2023. O australiano superiorizou-se ao britânico Benjamin Proud e ao atleta da casa Florent Manaudou, campeão olímpico em 2012, que foi assim medalhado neste evento pela quarta vez consecutiva. O campeão de Tóquio 2021, Caeleb Dressel, ficou-se pela sexta posição.

No setor feminino, Kaylee McKeown juntou o ouro dos 200m costas ao que já tinha conquistado na prova de 100m, novamente com melhor marca olímpica da história, repetindo assim a dobradinha conseguida na capital japonesa. Finalmente, e numa das finais com desfecho mais previsível, Marchand venceu tranquilamente os 200m estilos masculinos. Foi abaixo o recorde olímpico de Phelps, estabelecido no cubo aquático de Pequim, e os seis centésimos que separam o francês do recorde mundial de Ryan Lochte têm os dias contados. Quatro ouros em quatro provas para aquele que é no momento, sem qualquer dúvida, a maior estrela da natação mundial.

03/08 – A melhor da história

Em mais uma prova desapontante do recordista mundial Caeleb Dressel, que não passou da meia-final, Kristof Milak fez um segundo percurso demolidor para ultrapassar o canadiano Josh Liendo e garantir o ouro dos 100m mariposa por nove centésimos.

Nos 200 estilos femininos, McIntosh foi bem mais rápida que a brucista Kate Douglass no percurso de costas, o que foi suficiente para tocar na parede 36 centésimos de segundo mais cedo. Nota ainda para Alex Walsh, que liderava a prova na entrada para os últimos 25 metros, e que, apesar de ter chegado em terceiro, viu o bronze ser-lhe retirado devido a uma viragem de costas para bruços claramente irregular.

Nos 800m livres femininos, Katie Ledecky liderou a prova do início ao fim e bateu Ariarne Titmus e Paige Madden para se tornar campeã olímpica da prova pela quarta vez consecutiva. A norte americana de 27 anos tornou-se a atleta com mais ouros olímpicos (nove), em ex aequo com a ginasta soviética Larisa Latynina. Para fechar em beleza o penúltimo dia de provas, tivemos o segundo recorde mundial do torneio, na estafeta mista de 4×100 estilos: com duas equipas a nadar abaixo do anterior recorde, foram os Estados Unidos a levar a melhor sobre a China. Os percursos de Gretchen Walsh (mariposa) e Torri Huske (livres) foram determinantes para a vitória, numa prova que se realizou apenas pela segunda vez em Jogos Olímpicos.

04/08 – Chave de ouro

Sarah Sjöström sugeriu na meia-final dos 50m livres que poderia mesmo alcançar o seu próprio recorde mundial, mas acabou por garantir o ouro com uma marca cinco centésimas mais lenta. A sueca, tetra-campeã mundial desta prova, conseguiu assim o ouro olímpico pela primeira vez, após ter conquistado a prata em 2021.

A maior surpresa estava mesmo guardada para o último dia. Nos 1500m livres masculinos, Robert Finke começou muito forte e liderou ininterruptamente até ao título. A 100m do fim, Fink tinha mais de dois segundos de avanço para o recorde e conseguiu mesmo manter-se à frente da linha amarela, apesar do último parcial alucinante de Sun Yang. O cronómetro parou em 14.30.67. Digno de menção foi também o quinto lugar e novo recorde mundial júnior protagonizado pelo turco Kuzey Tuncelli.

Para a despedida, as duas estafetas de 4x100m estilos. No setor masculino, a decisão parecia ser entre França e Estados Unidos à entrada para o percurso de livres. No entanto, Pan Zhanle tinha outras ideias, e uma marca “sobre-humano” de 45.92 deu o ouro à China e superou o parcial de Jason Lezak (46.06), que era o mais rápido de sempre desde 2008. Na prova feminina, a vitória sorriu aos Estados Unidos: Smith, King, Walsh e Huske lideraram desde o início e estabeleceram o segundo recorde mundial da sessão em 3.49.63.

O medalheiro da modalidade fechou com os EUA em primeiro lugar, Austrália na segunda posição e França a completar o pódio. Termina assim o ciclo olímpico dos melhores atletas da natação mundial que, depois do descanso merecido, voltarão ao trabalho já com olhos postos em LA 2028.

João Pedro Santos
João Pedro Santos
Licenciado e mestre em Biotecnologia pela Universidade de Aveiro, é atualmente estudante do Programa Doutoral em Engenharia Química e Biológica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Tendo a música e o desporto como grandes interesses, dedicou-se recentemente à escrita de artigos de opinião para o projeto Bola na Rede.

Subscreve!

Artigos Populares

Quando pode o Benfica x Chelsea ser retomado? O que diz o protocolo

O Benfica x Chelsea foi interrompido devido a ameaça de tempestade. Fica a saber mais sobre o protocolo ativado.

Benfica x Chelsea interrompido muito perto do final do jogo

O Benfica x Chelsea foi interrompido devido a ameaça de tempestade. Protocolo do Mundial de Clubes 2025 ativado.

Inglaterra conquista Euro Sub-21 após bater Alemanha no prolongamento

A Inglaterra venceu a Alemanha por 3-2 e conquistou assim o Euro Sub-21. Britânicos ganham pela segunda vez consecutiva.

Benfica x Chelsea: Trubin surpreendido por Reece James e Blues estão a ganhar

O Chelsea está a vencer o Benfica por 1-0 nos oitavos de final do Mundial de Clubes 2025. Reece James surpreendeu Trubin.

PUB

Mais Artigos Populares

Benfica terá baixa de peso caso avance para os quartos de final do Mundial de Clubes 2025

O Benfica e o Chelsea estão a lutar pelos quartos de final do Mundial de Clubes 2025. Pavlidis castigado caso águias passem.

Donos do Celta de Vigo a um passo de comprar o Feirense

O Feirense vai passar a ser liderado por Marián Mouriño, que é a atual presidente do Celta de Vigo, emblema da La Liga.

Nova medalha para Diogo Ribeiro: Campeão da Europa Sub-23 nos 50 metros mariposa

Diogo Ribeiro continua a fazer história. Português sagrou-se este sábado campeão europeu nos 50 metros mariposa.