Não houve uma confirmação assertiva daquilo que se supunha à partida. A piscina de Paris La Defense tinha mesmo uns centímetros a menos, mas não se revelou tão assim tão lenta, com quatro recordes mundiais e 19 recordes olímpicos a serem batidos. Não faltaram performances surpreendentes, decisões ao centésimo e algumas surpresas. Neste artigo, abordamos os principais destaques das finais olímpicas de natação, desde o dia 31/07 até ao termo da competição.
31/07 – Uma bala chinesa
Leon Marchand encantou o público francês e os adeptos de natação em geral, vencendo duas provas muito exigentes como são os 200m mariposa e os 200m bruços na mesma sessão. Se a prova de mariposa foi decidida nos últimos 50 metros, com a ultrapassagem a Kristof Milak (em clara fadiga), a de bruços pareceu decidida desde o início, apesar do fecho tipicamente forte do australiano Stubblety-Cook.
O chinês Pan Zhanle surpreendeu todo o mundo ao esmagar o recorde mundial dos 100m livres, que já lhe pertencia. Sem se preocupar minimamente com a profundidade da piscina, saiu “a matar” nos primeiros 50 metros, deu mais de um segundo de avanço a todos os adversários e registou a estrondosa marca de 46.40.
As finais femininas condecoraram duas das melhores nadadoras da história. A “veterana” Sarah Sjöström sagrou-se pela primeira vez campeã olímpica dos 100m livres, prova em que é a detentora do recorde mundial. Já Katie Ledecky venceu novamente os 1500m livres com grande autoridade (e novo recorde olímpico), prova em que provavelmente seria tetra-campeã olímpica, não tivesse esta sido adicionada ao calendário olímpico feminino apenas em 2021.
01/08 – Mais um dia de Verão
Summer McIntosh venceu os 200m mariposa com novo recorde olímpico, confirmando-se como a figura de maior destaque no setor feminino. A jovem canadiana viria a sair de Paris com três ouros e uma prata em provas individuais. O húngaro Hubert Kos sagrou-se campeão olímpico nos 200m costas masculinos, registando um tempo que daria apenas o bronze em Tóquio e que só bastaria para vencer a prova se regressássemos a Atenas 2004. A saída ousada de Apostolos Christou prometeu e acabou por resultar numa prata tangencial, depois de uma quebra natural nos últimos metros.
Kate Douglass impediu a dobradinha da sul africana Tatjana Smith, conquistando o ouro nos 200m bruços, com uma prova muito bem gerida. Finalmente, na estafeta mais longa do programa (4x200m livres), as australianas ameaçaram o seu próprio recorde do mundo e viram-se também ligeiramente ameaçadas pelo terceiro percurso da estafeta dos Estados Unidos, protagonizado pela estrela Katie Ledecky. Nenhuma das ameaças se concretizou, com o último parcial de Ariarne Titmus a bastar para garantir a vitória. Foi estabelecido um novo recorde olímpico, a 58 centésimos da melhor marca mundial registada no mundial de 2023, em Fukuoka.
02/08 – O orgulho de Toulouse
A prova mais rápida do calendário olímpico, os 50m livres masculinos, terminou com a primeira medalha olímpica individual para Cameron McEvoy, campeão do mundo da mesma prova em 2023. O australiano superiorizou-se ao britânico Benjamin Proud e ao atleta da casa Florent Manaudou, campeão olímpico em 2012, que foi assim medalhado neste evento pela quarta vez consecutiva. O campeão de Tóquio 2021, Caeleb Dressel, ficou-se pela sexta posição.
No setor feminino, Kaylee McKeown juntou o ouro dos 200m costas ao que já tinha conquistado na prova de 100m, novamente com melhor marca olímpica da história, repetindo assim a dobradinha conseguida na capital japonesa. Finalmente, e numa das finais com desfecho mais previsível, Marchand venceu tranquilamente os 200m estilos masculinos. Foi abaixo o recorde olímpico de Phelps, estabelecido no cubo aquático de Pequim, e os seis centésimos que separam o francês do recorde mundial de Ryan Lochte têm os dias contados. Quatro ouros em quatro provas para aquele que é no momento, sem qualquer dúvida, a maior estrela da natação mundial.
03/08 – A melhor da história
Em mais uma prova desapontante do recordista mundial Caeleb Dressel, que não passou da meia-final, Kristof Milak fez um segundo percurso demolidor para ultrapassar o canadiano Josh Liendo e garantir o ouro dos 100m mariposa por nove centésimos.
Nos 200 estilos femininos, McIntosh foi bem mais rápida que a brucista Kate Douglass no percurso de costas, o que foi suficiente para tocar na parede 36 centésimos de segundo mais cedo. Nota ainda para Alex Walsh, que liderava a prova na entrada para os últimos 25 metros, e que, apesar de ter chegado em terceiro, viu o bronze ser-lhe retirado devido a uma viragem de costas para bruços claramente irregular.
Nos 800m livres femininos, Katie Ledecky liderou a prova do início ao fim e bateu Ariarne Titmus e Paige Madden para se tornar campeã olímpica da prova pela quarta vez consecutiva. A norte americana de 27 anos tornou-se a atleta com mais ouros olímpicos (nove), em ex aequo com a ginasta soviética Larisa Latynina. Para fechar em beleza o penúltimo dia de provas, tivemos o segundo recorde mundial do torneio, na estafeta mista de 4×100 estilos: com duas equipas a nadar abaixo do anterior recorde, foram os Estados Unidos a levar a melhor sobre a China. Os percursos de Gretchen Walsh (mariposa) e Torri Huske (livres) foram determinantes para a vitória, numa prova que se realizou apenas pela segunda vez em Jogos Olímpicos.
04/08 – Chave de ouro
Sarah Sjöström sugeriu na meia-final dos 50m livres que poderia mesmo alcançar o seu próprio recorde mundial, mas acabou por garantir o ouro com uma marca cinco centésimas mais lenta. A sueca, tetra-campeã mundial desta prova, conseguiu assim o ouro olímpico pela primeira vez, após ter conquistado a prata em 2021.
A maior surpresa estava mesmo guardada para o último dia. Nos 1500m livres masculinos, Robert Finke começou muito forte e liderou ininterruptamente até ao título. A 100m do fim, Fink tinha mais de dois segundos de avanço para o recorde e conseguiu mesmo manter-se à frente da linha amarela, apesar do último parcial alucinante de Sun Yang. O cronómetro parou em 14.30.67. Digno de menção foi também o quinto lugar e novo recorde mundial júnior protagonizado pelo turco Kuzey Tuncelli.
Para a despedida, as duas estafetas de 4x100m estilos. No setor masculino, a decisão parecia ser entre França e Estados Unidos à entrada para o percurso de livres. No entanto, Pan Zhanle tinha outras ideias, e uma marca “sobre-humano” de 45.92 deu o ouro à China e superou o parcial de Jason Lezak (46.06), que era o mais rápido de sempre desde 2008. Na prova feminina, a vitória sorriu aos Estados Unidos: Smith, King, Walsh e Huske lideraram desde o início e estabeleceram o segundo recorde mundial da sessão em 3.49.63.
O medalheiro da modalidade fechou com os EUA em primeiro lugar, Austrália na segunda posição e França a completar o pódio. Termina assim o ciclo olímpico dos melhores atletas da natação mundial que, depois do descanso merecido, voltarão ao trabalho já com olhos postos em LA 2028.