O manual de instruções ofensivas que funciona mesmo sem Viktor Gyokeres | Sporting

Sporting

Ver um jogo do Sporting é ver uma verdadeira avalanche de situações ofensivas. Diante do Estoril Praia os leões comprovaram a tese dos mais sóbrios e demonstraram que nem precisam de um Viktor Gyokeres ao melhor nível para vencer e vencer bem. Foram 23 remates, três deles a entrar e inúmeras situações de perigo a abrilhantar a oitava vitória consecutiva dos leões, a sétima para o campeonato. Nas últimas seis também não sofreu golos.

Mesmo mudando a abordagem defensiva, apostando em marcações individuais a campo inteiro e numa linha defensiva mais subida, o Sporting concede muito pouco ao adversário pela maneira como recupera bolas em zonas subidas do terreno. O momento da contrapressão – resposta à perda de bola – dos leões permite recuperar bolas imediatamente após as perder, asfixiando adversários e gerando vantagens. Isto porque o Sporting já se encontra com os jogadores no meio-campo ofensivo, em virtude de ter estado a atacar, e consegue rapidamente voltar a atacar enquanto a defensiva adversária, que já procura lançar-se na frente, libertou espaços que antes deixavam de existir. Defender e atacar andam de mãos dadas no futebol e, a forma como se procura recuperar a bola, diz muito sobre a postura que se quer ter com ela.

Geny Catamo Sporting
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Mesmo voltando a ter de mudar a dinâmica à esquerda, com Maxi Araújo a atuar por dentro e o duo Matheus Reis-Nuno Santos atrás do uruguaio, o Sporting concentrou muito volume ofensivo deste lado. O uruguaio ainda precisa de tempo e de integração para se olear, de forma perfeita, com uma equipa que joga com os olhos fechados, e o perfil foi claramente pensado para partir de posições mais recuadas e abertas no campo. Ainda assim, e não sendo um elemento de ligação como Pedro Gonçalves o é, o extremo mostrou capacidade para jogar em espaços curtos e para identificar o espaço para receber e se virar de frente para o jogo.

O Estoril Praia, como vem sindo habitual, defende em 4-3-3 com a linha defensiva e a linha média baixas e muito juntas, procurando anular o espaço entrelinhas. Face aos cinco homens do Sporting permanentemente a atacar a última linha, era o médio – Michel Costa à direita, Jandro Orellana à esquerda – quem baixava para permitir aos canarinhos ter igualdade numérica. Quer pegando no ala dos leões, quer procurando fechar a linha de passe para o extremo, libertando o lateral para defender por fora, os canarinhos davam espaço precisamente na frente deste médio que o Sporting, com Maxi Araújo e Francisco Trincão bem ligados, aproveitou.

Se à esquerda o volume foi maior, à direita o critério elevou-se. O perfil dos jogadores em cada lado do campo também o explica. O que Matheus Reis ofereceu em condução e presença no meio-campo ofensivo (delicioso o trabalho no primeiro golo), Zeno Debast deu na qualidade do passe a descobrir o extremo. Quer finalizando jogadas construídas pelo corredor esquerdo, quer alternando posições (entre ala e extremo um dos jogadores abria e o outro compensava com o movimento contrário e recebia por dentro), Geny Catamo e Francisco Trincão causaram perigo constante. A forma como os padrões táticos estão tão bem assimilados que se tornam naturais e permitem aos jogadores expressar a criatividade de forma livre e sem travões é o segredo do Sporting que ataca pelos três corredores e dificulta a tarefa aos sistemas defensivos.

Hidemasa Morita Sporting
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Por dentro, destacou-se Hidemasa Morita. É notável a capacidade do médio ocupar diversos espaços, quer na construção como na definição. Ter os médios a entrar na área para atacar situações de cruzamento e preencher todas as zonas de finalização é outra das justificações para a fase ofensiva do Sporting ser tão dominante. A inteligência do nipónico – suportada pela segurança e estabilidade que Morten Hjulmand oferece – dá recursos múltiplos aos leões.

São muitos os padrões do Sporting ofensivamente e as nuances no modelo de jogo de Rúben Amorim. E nem foi preciso falar de Viktor Gyokeres que fez, talvez o jogo mais apagado da temporada (muito por mérito da exibição de Kévin Boma). O sueco oferece muitos golos aos leões e é fundamental na manobra ofensiva do Sporting, até pela presença, atraindo a atenção dos defesas e libertando espaços noutras áreas do campo. Para além disto, é o mais capaz no Sporting de atacar o espaço nas costas da linha defensiva, no posicionamento para finalizar e funcionando como referência, dando opções para o Sporting jogar mais longo e direto. Mas não é (só) por Viktor Gyokeres que o Sporting é avassalador ofensivamente. Tanto que, no primeiro jogo em que o sueco não marcou nem assistiu, os leões passearam e deram mais um recital de futebol ofensivo. A sensação de imponência veio para ficar.

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: O segundo golo do Sporting é demonstrativo da dinâmica entre o ala e o extremo do Sporting com um aberto e o outro a entrar por dentro e atacar a linha de fundo e um médio a pisar a área. Qual a importância tática do cruzamento atrasado e da entrada dos médios na área, principalmente contra blocos mais baixos?

Rúben Amorim: Geralmente os médios são mais difíceis de apanhar porque vêm de trás e são um homem extra a entrar na linha defensiva. O Estoril joga com uma linha de quatro e ainda torna mais complicado para o Estoril fazer esse acompanhamento. Os cruzamentos atrasados e as dinâmicas vêm do treino. Eles têm muito treino, um fica e outro vai e tentar ler o que o colega da frente faz porque nunca está a ver o que o de trás vê e eles têm de se ler. A eles existe essa regra, o jogador que está à frente faz o movimento e o outro contraria esse movimento. São essas as coisas que requerem trabalho e tempo. O cruzamento atrasado é sempre muito importante porque todos os centrais fecham a área e se os médios não chegarem a tempo torna-se complicado.

Bola na Rede: Nesta temporada o Estoril tem defendido num 4-3-3 com os defesas e os médios muito próximos. Contra uma linha de 5 como a do Sporting, foi um dos médios a baixar para permitir a igualdade numérica. Pergunto-lhe qual a razão tática por detrás desta organização defensiva?

Ian Cathro: É uma boa pergunta, talvez vamos tomar um café e falar de futebol. Gosto muito de falar de futebol. Simplesmente faz parte do nosso processo. Cada um olha para o jogo de uma maneira e nós estamos a começar o nosso caminho juntos como equipa. Compro-te um café e falamos mais.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

Subscreve!

Artigos Populares

Luís Figo revela que jogador levaria do Barcelona para o Real Madrid

Luís Figo foi um dos jogadores que trocou o Barcelona pelo Real Madrid, uma transferência que marcou o futebol mundial.

A realidade do Sporting na posição de extremo: as opções de Rui Borges

O Sporting esteve no mercado em busca de um extremo até ao final da janela de transferências, mas não conseguiu fechar nenhum nome.

Nottingham Forest pondera despedir Nuno Espírito Santo e já há um candidato ao lugar do português

O Nottingham Forest está a ponderar seriamente demitir Nuno Espírito Santo. Domenico Tedesco é visto como o grande candidato ao posto.

Luís Filipe Vieira apresenta regulamento eleitoral alternativo para as eleições do Benfica

Luís Filipe Vieira é um dos candidatos à presidência do Benfica e quer um regulamento eleitoral alternativo para as eleições de outubro.

PUB

Mais Artigos Populares

Os pormenores da lesão de Luuk de Jong pelo FC Porto

Luuk de Jong saiu lesionado da partida entre o FC Porto e o Lusitânia Lourosa, deixando Francesco Farioli furioso.

Particular dramático para Francesco Farioli: as alternativas do FC Porto aos jogadores lesionados

O FC Porto viu Luuk de Jong e William Gomes saírem lesionados da partida particular frente ao Lusitânia Lourosa

Bernardo Silva rendido a Cristiano Ronaldo: «É um líder e a sua experiência é muito importante para os objetivos»

Bernardo Silva realizou esta segunda-feira a antevisão da partida entre Portugal e a Hungria, relativa à qualificação para o Mundial 2026.