A arte de defender e de atacar | Estrela da Amadora x Vitória SC

No futebol há que saber defender e saber atacar. As duas dimensões principais do jogo estão intrinsecamente interligadas e, mesmo que o jogo seja passado quase exclusivamente numa delas, pode ser resolvido pela outra. O Estrela da Amadora passou muito mais tempo a defender que a atacar, o Vitória SC esteve na proporção inversa e o jogo terminou empatado a duas bolas.

O Estrela da Amadora permitiu muito pouco defensivamente. José Faria reforçou a linha defensiva, lançou três centrais e conseguiu controlar a maioria dos duelos. Com os extremos a funcionar mais à frente, em momentos de subida de linhas, ou mais recuados, reduzindo ainda mais o espaço despovoado, o conjunto da Reboleira defendeu-se num híbrido entre o 5-2-3 e o 5-4-1 e esteve sólido atrás.

Quando o Vitória SC colocava cinco elementos na linha mais avançada (laterais, extremos e ponta de lança), o Estrela da Amadora tinha igualdade numérica e controlava as entradas dos extremos por dentro, procurando aparecer no espaço entre os centrais, e as tentativas de oferecer largura por parte dos vimaranenses.

Kaio César Vitória SC
Fonte: Ana Beles / Bola na Rede

Por dentro, e com Leonel Bucca a garantir constantes acompanhamentos, descendo muitas vezes até à zona dos médios, o meio-campo do Vitória SC, setor indispensável para compreender o arranque de época vimaranense, estava perante um setor armadilhado com várias trancas à porta que reduziam as possibilidades de por lá entrar. Se é verdade que o Estrela da Amadora ainda não esteve um jogo sem sofrer, também é verdade que, diante do Vitória SC, deu mostras de solidez defensiva. Só não travou quatro toques de génio, dois em cada golo.

Os últimos jogos – este incluído – mostraram que ainda há um longo caminho para o conjunto de Guimarães percorrer. O arranque fulgurante de época não foi fogo de vista, longe disso, mas uma chama que os vimaranenses têm de continuar a incendiar com as doses certas de maturidade e solidez em todos os momentos. Porque a base do trabalho, que são sempre os jogadores, está lá.

No primeiro golo é a interpretação e capacidade de colocar a bola de Tiago Silva quem abre caminho ao momento de génio de Nuno Santos, um artista à solta na Primeira Liga. No segundo golo, apareceu Tomás Handel a inventar um passe imprevisível e o primeiro toque de Samu Silva, abrindo caminho ao derrube de Issiar Dramé. Num jogo coletivamente tão complicado, há muita mão de obra capaz de resolver num Vitória SC que está, finalmente, a dar-lhe o protagonismo que merece.

Nuno Santos Vitória SC
Fonte: Ana Beles / Bola na Rede

Dois lances isolados acabaram por impedir o triunfo dos Conquistadores. Ainda que tenha sofrido golos em todos os jogos, é na frente que o Estrela da Amadora precisa de continuar a crescer para não ficar refém de momentos caídos do céu, como o lance em que vence o penálti, ou de segundas bolas – que também é preciso ganhar – como no golo que empatou o jogo ao intervalo.

Leonel Bucca tem ganho cada vez mais espaço e nota-se a diferença do jogo estrelista com o médio argentino em campo. Não tem o perfil físico do médio faz-tudo, mas tem a inteligência e a capacidade técnica para deambular em campo e definir. No equilíbrio que ainda é necessário entre os jogadores que procuram atacar o espaço – Kikas ou André Luiz – e os que pedem bola no pé – Rodrigo Pinho, Alan Ruiz – ter um capaz de acrescentar nas duas dimensões é muito valioso.

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: O Estrela da Amadora colocou hoje mais um homem na linha defensiva e procurou juntar os setores e controlar ao máximo a entrada do Vitória SC. Neste contexto qual a importância das combinações por dentro e da presença de jogadores nas costas dos médios para o jogo fluir?

Rui Borges: Nós estávamos preparados para o que o Estrela apresentou, um 5-2-3 que era às vezes um 5-4-1 em termos defensivos. Estávamos preparados para isso e sabíamos o que tínhamos de fazer. Conseguimos em construção superar facilmente a pressão do Estrela, entrámos em fase de criação também, faltou-nos um bocadinho de agressividade ofensiva no último terço. Na fase de construção e criação fomos superiores, conseguimos entrar entrelinhas. Em termos defensivos sabíamos que se estivéssemos organizados, com bons timings de pressão, o Estrela ia procurar passes verticais, que foi o que procurou na primeira parte. Acaba por fazer um golo numa segunda bola que vem para cruzamento num lançamento longo em que somos pouco agressivos em encurtar espaços ao portador da bola. Tirando isso o Estrela procurou passes verticais para as costas da linha defensiva, mas estávamos preparados para isso e identificados. Controlámos o jogo, só nos faltou um bocadinho de agressividade em termos ofensivos. Na segunda parte foi igual. Não vou estar a discutir se é penálti ou não, mas como aquele penálti existem 500 iguais. Falta um bocadinho de maturidade nesse sentido, porque o Estrela não criou nada. Tirando bolas longas nas costas para explorar a segunda bola e provocar a nossa linha defensiva, não foi capaz de conseguir entrar na fase de construção ou de criação. Controlámos o jogo, faltou mais ratice em alguns momentos e alguns comportamentos.

Bola na Rede: O Estrela da Amadora hoje entra num 5-2-3 capaz de espelhar o Vitória SC em campo, que baixa muitas vezes um médio para a saída a três e projeta os laterais. Pergunto-lhe se foi este o principal intuito da mudança de sistema e se sente que foi bem sucedida no sentido de anular os pontos fortes do Vitória SC?

José Faria: Não só. Foi uma das, sendo que o Vitória faz muitas vezes isso, mas constrói muitas vezes em 4+1 ou em 4+2. Sabemos que os três médios têm muita mobilidade. A estratégia passou um bocadinho por equilibrar o meio, com o Kikas a condicionar o 6 e dando referências diretas aos nossos médios, numa fase mais adiantada. Quando montassem a três a nossa ideia seria pressionar com o Kikas de outra forma. Não tentámos espelhar. Analisamos cada adversário de forma particular e exaustiva e tentamos, numa fase inicial, anular os pontos fortes. São uma equipa com bastante mobilidade, o Nuno [Santos] de um lado dá muita superioridade, o Kaio [César] é mais vertical e ajustámos em função disso. Sinceramente penso que a nossa estratégia resultou, estou contente com o comportamento dos atletas, mas não é só isso. Disse isso na antevisão, o mais importante são as dinâmicas independentemente do adversário.

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O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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