A recuperação da Loba de Ranieiri

A vitória no Ennio Tardini, a quatro dias de receber o Porto, confirmou os positivos sinais: Claudio Ranieri, do alto da sabedoria empregue por 74 anos bem passados, voltou mesmo uma terceira vez à Roma do seu coração para a livrar do marasmo competitivo.

Até à 12.ª jornada, De Rossi pouco tinha conseguido – a Roma acumulava 13 pontos na Liga e só um triunfo na Liga Europa. Ranieri chegou com duas missões, ser treinador e ao mesmo tempo um conselheiro para todo o quadro directivo. Quanta honra para o ragazzaccio nascido nas margens do Tibre e criado perto da San Saba!

Entra em Novembro e as coisas vão-se compondo, sempre ao seu ritmo: o futebol nunca foi champanhe mas sóbrio, preferencialmente em 4-4-2 – fora assim que arrumara o seu Nápoles pós-Maradona, encaixando um imberbe Gianfranco Zola nas costas de Careca; a Fiorentina, com Rui Costa como bengala de Batistuta; o Valência pré-Europa, com duas linhas muito juntas e focadas na recuperação rápida da bola; no Chelsea que leva às Meias da Liga dos Campeões; a Juventus que recupera dos abismos do Calcio ou o Mónaco de Jamés, Moutinho e Falcão, com o qual também subiu e foi imediatamente segundo lugar.

A apaixonante epopeia do Leicester deu-lhe finalmente a recompensa pela inabalável confiança nas próprias ideias e fez-lhe justiça perante eterna desconfiança dos adeptos, que focando no seu palmarés e só vendo Taças e nada de Campeonatos, sublinhavam o seu pé-frio. A esses Claudio relembra sempre as circunstâncias de cada etapa, uma carreira marcada pelas missões impossíveis ou presentes envenenados, já que quando acabava de reconstruir equipas e estava pronto para lutar nas mesmas condições dos rivais, lhe tiravam o tapete.

A primeira experiência no Olímpico foi em 2009-10. Substituía Spalletti em Setembro e foi por alí fora com os Tottis, os De Rossis e os Júlios Baptistas, chegando a estar 24 jogos sem perder – por isso, à 34.ª jornada era líder, em despique com o Inter de José Mourinho (o campeão europeu). Uma derrota inesperada com a Sampdoria deitou tudo a perder, ainda que o segundo lugar final (mais a final da Coppa) justificasse plenamente a continuidade para o ano seguinte, ainda que sem resultados práticos.

Voltaria pelo apelo do coração em 2018-19, como interino, depois de Di Francesco perceber que porta da rua era e é a serventia da casa. Fez a transição pacífica para Paulo Fonseca, nas mesmas condições de estabilizador com que supostamente regressou em 2024. A ideia em Novembro era garantir que não fosse tudo por água abaixo. Só que a coisa parece ter pernas para andar: contabilizando os jogos sob seu comando, a Roma é a quarta melhor equipa italiana.

Em 2025 é mesmo o melhor conjunto da Liga. A vitória deste Domingo frente ao Parma representou a saída vitoriosa dum ciclo infernal – Eintracht, Nápoles, Milão fora, Veneza fora, Porto fora, Parma fora – com apenas uma derrota. Para a Serie A, Ranieri não perde desde 15 de Dezembro, quando foi a casa do Como de Fábregas – são nove jogos e seis triunfos desde então.

Em 12 jornadas, Ranieri ganhou 21 pontos e só perdeu três jogos. A Europa, via Conference, está agora a uns míseros cinco pontos de distância (alô, Fiorentina) e onze vai-se cimentando em redor de figuras unânimes, desta vez num sistema da moda: arrumando o conjunto em 3-4-3, Claudio não abdica porém das traves-mestras ideológicas do seu futebolês, com a segurança defensiva a construir-se sobre a coesão das linhas e a reacção exasperada à perda.

Mancini encaixa-se entre Ndicka e Celik; Cristante, Paredes e Koné compõem uma parelha intermediária, suportada em largura por Angeliño (mais utilizado da época) e El Shaarawy ou Saelaemakers; Dovbyk vê-se bem substituído pelo combativo Shamurodov; e Dybala encarna os grandes trequartistas do Calcio histórico e vai assumindo responsabilidades, sendo dos mais interventivos da Serie A nas candidaturas ao Prémio Regularidade. E há quem cresça a imitá-lo, porque há sempre luz que baste na sombra dos grandes.

«Acredito muito nele, não é fácil jogar aqui. Está a dar tudo de si e tem que se manter calmo: é ele o futuro da Roma»”.[1] Foi assim que reagiu à classe de Matías Soulé esta tarde, depois do irrepreensível livre directo que definiu o placard.

Depois da saída da Juve, uma boa passagem pelo Frosinone garantiu ao prodígio um lugar no plantel da Loba, ainda que a parca utilização tenha proporcionado algumas frustrações próprias da idade, porque afinal são só 1096 minutos até Fevereiro – pouco mais que 12 jogos completos. Quem melhor então que um mestre como Claudio para acalmar a efervescência da juventude e garantir o desenvolvimento pleno do talento, dotando-o da força psicológica para suportar as toneladas de potencial?


[1] Tradução livre de: https://www.tuttomercatoweb.com/serie-a/roma-ranieri-gol-bellissimo-dovevamo-chiuderla-dybala-sta-bene-giovedi-gioca-2070457

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