Como é que se lida com um louco? Um louco não é apenas aquele que se encontra desprovido de sensatez ou aquele que a partir das suas ações é visto como um mero tolo. Um louco pode também ser alguém que se caracteriza pela intensidade dos seus comportamentos, dos seus pensamentos, e que leva todas as suas práticas um pouco mais além. Um louco vive muitas vezes um passo mais à frente.
Com os loucos é preciso ter muita cautela nas pequenas e grandes abordagens, porque nunca se sabe ao certo o que é que o outro lado tem reservado. Os loucos são imprevisíveis.
Hansi Flick, o treinador do Barcelona, é um bom exemplo disso mesmo. O técnico alemão reside num ideal excêntrico e tem vindo a comandar um conjunto de homens que aos poucos se vão habituando a esse tal estilo singular de jogar. O Barcelona, desde o início da temporada, tem mostrado ser um bando de loucos capaz de alcançar grandes feitos, a todo o custo.

Isto porque, olhando para o modelo tático e estratégico de Hansi Flick, percebe-se que o risco se encontra sempre num nível extremo. Os catalães jogam muito subidos no terreno, têm uma cultura ofegante e de pressão sobre o adversário, além de tentarem apanhar sistematicamente a outra equipa em fora de jogo, o que naturalmente se apresenta como um ideal arriscado dado o espaço em que se avança no terreno. No entanto, parece resultar sempre.
Face a um conjunto como este, a margem de erro não pode ser extravagante, até porque dado ao risco a que o outro lado se expõe, o possível aproveitamento é também ele extravagante. Foi isto que o Benfica não teve em conta, naquele que foi o segundo duelo frente ao Barcelona nesta temporada.
Os catalães provaram cedo do próprio veneno e viram o espaço concedido entre a defesa e o guarda-redes transformar-se num lance resultante em expulsão, depois de um ótimo movimento de Pavlidis. Um momento que podia ter dado aos encarnados ainda mais alento, foi-se desvanecendo ao longo do encontro e acabou por não ser aproveitado, para total desespero daqueles que sentiam a atmosfera que se ia impondo.
No total foram 26 as oportunidades criadas pelo Benfica em todo o jogo e que tiveram no desperdício o lema de ordem durante os 90 minutos. Foi um autêntico festival de oportunidades falhadas por diversas razões, mas que tiveram todas o mesmo final, e não foi o golo. E como já é sabido, não se pode desperdiçar tanto frente a um adversário como este, em noites como estas, onde há tanto em jogo.
Depois de inúmeras ocasiões desperdiçadas, aconteceu o que mais se temia e o Barcelona chegou à vantagem depois de um erro grosseiro de António Silva, que deixou à mercê de Raphinha a oportunidade de fazer o golo inaugural, contra tudo o que estava a acontecer dentro das quatro linhas.

A verdade é que o Benfica tinha todas as possibilidades de sair vitorioso do encontro, por uma larga margem até, tal como no último jogo em janeiro. A equipa mostrou-se capaz de ferir o Barcelona e de se superiorizar frente ao modelo oposto. Ainda assim, pecou naquilo que é mais crucial, algo que não se verificou do outro lado e que é notaria mente diferenciador a este nível competitivo.
Um conjunto de erros que custou muito caro ao Benfica e que reduzem as hipóteses de passagem à próxima fase da Liga dos Campeões, num cenário que se mostrava tão positivo para os encarnados. Apesar da derrota não destruir por completo todas as esperanças relativamente à eliminatória, o Benfica coloca-se numa posição desconfortável, numa altura em que não o estava. Para a semana, em Barcelona, os encarnados terão o dobro do trabalho e o dobro da dificuldade para alcançar os quartos de final da competição.
O mundo é dos loucos e com os loucos não se brinca. Sai caro.