A maldição que paira sobre o FC Dynamo Moscovo

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“Uma terrível maldição paira sobre este clube.” – Yury Semin (treinador do FC Dynamo Moscovo entre Novembro de 2005 e Agosto de 2006)

O FC Dynamo Moscovo é uma das equipas com maiores pergaminhos na história do futebol russo, mas os seus tempos de glória e os seus feitos a nível nacional e internacional foram há muito esquecidos pelo imaginário colectivo, que guarda pouco mais do que trémulas memórias do ano de 1976, a última vez em que o emblema moscovita se sagrou campeão nacional do seu país. Pela mão de Aleksandr Sevidov, o FC Dynamo Moscovo vencia nesse ano o seu último título de campeão da era soviética, feito que não viria a repetir até à queda da URSS e nem mesmo até aos dias de hoje, uma vez que o velho gigante moscovita nunca logrou vencer a liga russa de futebol.

A eloquência de Lev Yashin, os golos de Sergei Solovyov ou até mesmo o pulmão defensivo de Aleksandr Novikov foram substituídos ao longo das últimas décadas por negócios ruinosos, investimentos financeiros catastróficos e uma falta de rumo e ideias para o futuro verdadeiramente alarmante, algo que tem levado os adeptos do FC Dynamo a um estado de histeria colectiva sustentada por uma espécie de castigo divino a tudo aquilo que o antigo testa de ferro do NKVD (polícia política de Josef Estaline, que mais tarde daria origem ao KGB), Lavrentiy Beria, fez “pelo” clube enquanto “mecenas” do mesmo até à sua execução, em 1953. Para além de ter deixado a sua triste marca no futebol, Beria foi um sanguinário invertebrado que condenou à morte imediata largos milhares de pessoas e enviou outros tantos para uma morte anunciada nos gélidos Gulags da Sibéria.

Os adeptos do FC Dynamo que ainda acreditam que a maldição de Beria continua a impedir o clube de chegar mais longe Fonte: FC Dynamo
Os adeptos do FC Dynamo que ainda acreditam que a maldição de Beria continua a impedir o clube de chegar mais longe
Fonte: FC Dynamo

Numa conversa com o famoso jornalista britânico Marc Bennetts, que reside desde há algum tempo a esta parte em Moscovo, um adepto ferrenho do FC Dynamo, de seu nome Dmitri, não teve dúvidas em afirmar que o clube estava amaldiçoado por tudo aquilo que Lavrentiy Beria fez “pelo” clube, não esquecendo o facto de este ter enviado Nikolai Starostin, o fundador do Spartak Moscovo, para um campo de trabalhos forçados sob a acusação de este ter planeado assassinar Josef Estaline após um jogo disputado entre as duas equipas na Praça Vermelha, em Moscovo: “estamos amaldiçoados… e é tudo por culpa do Beria (…) é uma maldição, é um castigo pelos crimes cometidos no passado. Estou totalmente convencido disso.

Por muito que tudo isto pareça vindo de um velho livro poeirento e cheio de histórias que nos fazem dormir mal à noite, a verdade é que a história recente do FC Dynamo Moscovo é uma mão cheia de nada e o último título conseguido digno de registo foi uma Taça da Rússia, em 1995.

Após ter terminado no 4ºlugar da Liga Russa na temporada passada, os Musora (Polícias), comandados pelo antigo internacional russo e guarda-redes do Spartak Moscovo Stanislav Cherchesov, entravam para a nova época com algum positivismo que, no entanto, se desvaneceu rapidamente antes de a mesma começar, uma vez que Cherchesov não resistiu à tempestade interna criada pela expulsão do clube das competições da UEFA, por falta do tão aclamado Fair Play Financeiro, e abandonou o FC Dynamo a 13 de Julho de 2015. O seu sucessor, Andrey Kobelev, é um homem de consensos, alguém que conhece bem os cantos à casa e que passou grande parte da sua carreira enquanto jogador, técnico e director ligado ao histórico emblema da capital russa. A saída de Cherchesov coincidiu também com um claro desinvestimento financeiro no clube que viu o VTB Bank, a máquina de injeção de capital no clube, afastar-se, ainda que de forma algo encoberta, para que o FC Dynamo passasse novamente para a alçada da Dynamo sports society e pudesse assim corresponder às exigências impostas pelo Fair Play Financeiro. Para além de Cherchesov e do seu bigode emblemático, saíram do clube grande parte dos jogadores estrangeiros, com o talentoso médio francês Mathieu Valbuena à cabeça dessa lista.

Andrey Kobelev não tem tido vida fácil ao leme do FC Dynamo, mas é justo dizer-se que, apesar de todas as restrições às quais tem sido sujeito, tem conseguido fazer brilhar na equipa principal jovens de elevado valor, como são os casos de Roman Zobnin, Yegor Danilkin, Aleksandr Tashaev, Grigori Morozov e Anatoli Katrich. Kobelev fez crescer aos poucos uma equipa composta por jovens jogadores russos apoiados na experiência dos internacionais Igor Denisov, Aleksei Ionov, Aleksandr Kokorin, Yuri Zhirkov, Pavel Pobregnyak e Vladimir Gabulov.

Andrey Kobelev, o homem que está encarregue de retirar o FC Dynamo da escuridão em que encontra Fonte: FC Dynamo
Andrey Kobelev, o homem que está encarregue de retirar o FC Dynamo da escuridão em que encontra
Fonte: FC Dynamo

O FC Dynamo Moscovo terminou a primeira parte do campeonato no 11º lugar, com 20 pontos obtidos em 18 jogos, mas a longa paragem de inverno e o mercado de transferências de Janeiro trouxeram mais más notícias para o técnico russo de 47 anos, que viu Aleksandr Kokorin e Yuri Zhirkov mudaram-se de armas e bagagens para a cidade de Pedro “O Grande”, São Petersburgo, para o FC Zenit de André Villas-Boas.

Para fazer face a estas contrariedades, e embora desprovidos da capacidade financeira que detinham há por exemplo dez anos, o FC Dynamo conseguiu, contudo, assegurar as contratações do talentoso médio centro bielorrusso Stanislav Dragun, que representou nas duas últimas temporadas o FC Krylya Sovetov, e do internacional russo Andrey Eschenko, que chegou por empréstimo do FC Anzhi.

Kobelev tem novamente a seu cargo uma equipa que precisa de ser reconstruida e que necessita de melhorar e muito a sua capacidade ofensiva, uma vez que apenas conseguiu apontar 20 golos durante a primeira parte do campeonato. A longa paragem de inverno não fez, no entanto, bem ao FC Dynamo, que foi verdadeiramente humilhado pelo FC Amkar no Quartos de final da Taça da Rússia na passada semana. Os comandados de Kobelev perderam por 3-1 em Perm, deixando uma imagem bastante pálida e a certeza de que ainda há muito por fazer até ao final da temporada, uma vez que até a própria manutenção está ainda longe de estar totalmente assegurada.

Para uma equipa como o FC Dynamo Moscovo, a despromoção seria muito possivelmente a machadada final na história de uma formação que nunca desceu de escalão ou então a gota final da “terrível maldição” que Lavrentiy Beria lançou sobre o clube.

Foto de capa: FC Dynamo

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Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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