O verão de 2025 promete ser o mais agitado dos últimos anos no Estádio do Dragão. Com a entrada de Francesco Farioli no comando técnico, a estrutura do FC Porto está empenhada em desenhar uma equipa à imagem do novo treinador, cuja matriz tática privilegia a organização, a posse estruturada e o controlo dos ritmos de jogo.
Num contexto desportivo cada vez mais exigente e financeiramente delicado, a SAD portista enfrenta o desafio de reequilibrar contas sem comprometer a competitividade, levando à necessidade de tomar decisões firmes, algumas delas impopulares, mas inevitáveis. O plantel será alvo de uma renovação cirúrgica, ajustada às ideias do técnico italiano, mas também à realidade do clube, que não pode continuar a suportar ativos que não acrescentam rendimento imediato ou se afastaram do rigor exigido internamente.
Neste quadro de reorganização estrutural e estratégica no FC Porto, há cinco nomes cujo futuro já não passa pelo Dragão. Por razões distintas — disciplinares, físicas, contratuais ou puramente técnico-táticas —, todos os jogadores que, posteriormente, apresentarei neste artigo deixaram de se enquadrar no projeto que Farioli procura implementar. A sua venda representa um triplo benefício: gera liquidez, abre espaço no plantel e elimina potenciais focos de instabilidade.
Posto isto, ao contrário de movimentos de mercado ditados apenas pela oportunidade ou conveniência, estas saídas refletem uma política consciente e alinhada com um plano mais vasto: preparar o FC Porto para um novo ciclo competitivo, com jogadores totalmente comprometidos com a ideia de jogo e com a exigência histórica do clube. Mais do que uma questão de rendimento imediato, trata-se de definir com clareza quem faz parte do futuro. E, neste momento, há, pelo menos, cinco jogadores que já não fazem.
5.

Marko Grujic – A passagem do médio sérvio pelo Estádio do Dragão foi marcada por altos e baixos, mas, muito provavelmente, deverá terminar agora sem grande surpresa. A grave lesão sofrida em 2024 afastou Grujić dos relvados por longos meses e coloca-o um passo ainda mais atrás relativamente aos colegas e aos planos de Farioli para o FC Porto.
Com apenas cinco jogos realizados na época passada e com o contrato a terminar no final da próxima temporada, o tempo de Grujic no Porto chegou ao fim por via natural. Num modelo que exige intensidade e versatilidade nos médios, o antigo jogador do Liverpool parece não encaixar nem física, nem taticamente, o que justifica a sua exclusão das contas para 2025/26.
4.

André Franco – Chegado ao FC Porto em 2022 depois de uma ascensão notável no Estoril Praia, André Franco prometia ser um médio ofensivo capaz de romper linhas e oferecer criatividade em zonas interiores. Contudo, a sua evolução estagnou e a sua influência foi-se diluindo com o tempo.
A temporada passada foi reflexo disso mesmo: 23 jogos, a maioria como suplente, e apenas um golo marcado. A falta de intensidade nos duelos, a escassa capacidade de verticalizar o jogo e a dificuldade em se impor em contextos de maior exigência acabaram por tornar o jogador prescindível. A saída do mesmo será, por isso, um processo natural de renovação e de reajuste do núcleo criativo da equipa.
3.

Gonçalo Borges – Formado nas escolas do clube, Gonçalo Borges chegou a ser apontado como uma das grandes promessas da nova geração portista. Veloz, imprevisível e tecnicamente evoluído, o extremo parecia talhado para assumir protagonismo. No entanto, a sua afirmação ficou sempre aquém do desejado. A irregularidade exibicional, a fraca produção ofensiva nos momentos de decisão e a inconsistência tática comprometeram a sua evolução.
Sem grande margem para mais tentativas num projeto que exige competitividade imediata, a saída de Borges deverá abrir espaço a outras soluções mais maduras ou com maior margem de impacto direto. Aliás, a imprensa desportiva já fala numa bastante provável saída para o Feyenoord, um contexto que me parece que lhe possa ser favorável para se conseguir estabilizar no futebol europeu.
2.

Otávio Ataíde – Contratado em janeiro de 2024 por pouco mais de 12 milhões de euros, Otávio Ataíde chegou ao Dragão como um central de perfil moderno: agressivo na antecipação, forte no jogo aéreo e com saída de bola limpa. Porém, a sua passagem pelos azuis e brancos ficou marcada por episódios disciplinares que acabaram por comprometer a confiança do grupo técnico.
Em 2024/25, os 28 jogos realizados e os dois golos marcados revelam alguma consistência em campo, mas os comportamentos fora das quatro linhas tornaram insustentável a sua continuidade. A mais que provável mudança para o Paris FC pode significar um recomeço para o jogador, mas para o FC Porto representa a libertação de um ativo dispendioso e que nunca se afirmou como pilar da defesa.
1.

Pepê – O caso mais complexo e com maior simbolismo é o de Pepê. O brasileiro foi durante várias épocas um dos jogadores mais utilizados e respeitados do balneário portista. A sua polivalência, entrega ao jogo e capacidade de desequilíbrio tornaram-no peça-chave em várias fases do ciclo anterior. Porém, a última temporada ficou marcada por uma quebra de rendimento evidente, culminando num conflito com o então treinador Vítor Bruno. Apesar dos 45 jogos disputados, seis golos e quatro assistências, Pepê deixou de ser o fator desequilibrador de outrora. Para o modelo tático de Farioli, o brasileiro já não me parece que encaixe no tal novo paradigma. A sua saída, embora emocionalmente pesada, representa o fim de um ciclo e o início de uma nova abordagem estratégica.
A saída de Pepê representa talvez a decisão mais pesada e emocionalmente carregada desta lista. O brasileiro foi durante vários anos um dos elementos mais influentes do balneário, exemplo de entrega, versatilidade e espírito competitivo. Jogando como extremo, médio interior ou lateral, Pepê foi peça-chave em diversas fases da era Sérgio Conceição, adaptando-se com disciplina às exigências táticas que lhe eram colocadas.
Contudo, a temporada 2024/25 revelou sinais claros de desgaste competitivo. Apesar dos 45 jogos disputados, o impacto do brasileiro foi muito aquém do que o registo numérico sugere: seis golos, quatro assistências e um rendimento intermitente na maioria dos jogos. A par disto, um episódio de conflito com Vítor Bruno evidenciou algum desalinhamento interno, e a sua linguagem corporal, por vezes desligada, contrastava com a combatividade que o tornara referência.
Para Farioli, que procura construir um núcleo duro plenamente sintonizado com a nova visão de jogo, Pepê já não me parece que surja como solução viável. A sua saída encerra um ciclo que marcou o último Porto campeão, mas confirma igualmente a urgência de avançar.
Em suma, estas cinco saídas não representam apenas uma operação financeira ou uma mera limpeza de balneário. Poderão e deverão ser, acima de tudo, decisões ponderadas no âmbito de uma nova visão desportiva, centrada na modernização do modelo de jogo, na sustentabilidade do plantel e na recuperação de identidade competitiva. O FC Porto de Farioli prepara-se para mudar de pele — e estas decisões são os primeiros sinais visíveis de uma transformação que se quer profunda, coerente e sustentada.
Com a saída destes cinco jogadores, o clube assume uma posição de rutura controlada com o passado recente, apostando num projeto técnico assente na clareza, na exigência e na eficácia. Mais do que vender jogadores, o FC Porto está a libertar-se de pesos acumulados, redefinindo o perfil do seu futuro coletivo. A nova época ainda não começou, mas a reconstrução já está em marcha — e cada nome riscado do plantel principal é uma peça que cai para abrir espaço a uma estrutura mais alinhada com os novos tempos.