«Vou deixar um Benfica infinitamente melhor, com títulos europeus, contas certas e modalidades a bater-se na Europa» – Entrevista Bola na Rede a Cristóvão Carvalho

Cristóvão Carvalho é o primeiro entrevistado do Bola na Rede no âmbito das eleições presidenciais de outubro. Tem 52 anos e pensa num Benfica capaz de ganhar na Europa. O candidato aborda vários temas, desde os problemas financeiros, Champions League, Bruno Lage, Rui Costa e formação às modalidades, BTV e relações institucionais.

«Percebemos que tínhamos um projeto substancialmente diferente e disruptivo do que existia no futebol»

Cristóvão Carvalho
Fonte: Assessoria Cristóvão Carvalho

Bola na Rede: Cristóvão, por que é que decidiu candidatar-se à presidência do Benfica?

Cristóvão Carvalho: Muito bom dia. Obrigado pela oportunidade de falar para os benfiquistas através da vossa plataforma. A minha caminhada já começou há algum tempo. Nos finais do último mandato de Luís Filipe Vieira, senti que alguma coisa já não estava bem no Benfica, e isso veio a revelar-se com a saída do ex-presidente. Houve um convite pelo Rui Gomes da Silva para o acompanhar numa das listas. Aceitei. Intervim no que pude e foi uma experiência. Achámos, na altura, que Rui Costa poderia ser uma opção, merecia por tudo o que tinha dado como jogador ao Benfica. Foi o que a maioria dos benfiquistas pensaram. Percebeu-se que Rui Costa não reuniria o que o Benfica precisava e os erros sucederam-se. Não só no futebol, mas também na parte estrutural e financeira. As coisas começam a não correr bem e sente-se uma falta de liderança absoluta e uma inversão nos resultados, consubstanciada quase numa passadeira para que os nossos adversários nos ultrapassassem. Há cerca de dois anos, começa a haver uma ideia num grupo de pessoas à minha volta para criar uma alternativa ao Benfica, e começámos a estudar o Benfica. Percebemos então que tínhamos um projeto, mas um projeto substancialmente diferente e disruptivo do que existia no futebol. Procurou-se dentro ou fora do grupo uma pessoa que encabeçasse a lista, e começa a haver o consenso de que seria eu. Achámos que nenhuma alternativa pensava o Benfica como pensamos: um Benfica pensado para ganhar títulos europeus. Toda a sua organização financeira e desportiva tem de ser alicerçada numa forma diferente daquilo que é hoje. O Benfica tem uma tradição enraizada num modelo financeiro que está esgotado há muitos anos e quem apresenta alternativas continua a apresentar o mesmo modelo.

Bola na Rede: Que modelo fala?

Cristóvão Carvalho: O modelo está fundamentalmente assente em três pilares: direitos televisivos, Champions League e venda extraordinária de jogadores. A venda extraordinária de jogadores é um modelo ultrapassadíssimo e já devia ter sido abandonado há muito tempo. Funcionou durante uns anos quando da nossa formação saíam muitos jogadores com muita qualidade e o Benfica conseguia vender e realizar grandes mais-valias, mas isso depois não enfraquecia a nossa equipa de futebol. A partir do momento em que deixámos de ter essa quantidade de jogadores a entrar e passamos a ter de comprar jogadores no mercado, precisamos de os vender porque temos um défice enorme, e o modelo leva-nos a isto. Equipas enfraquecidas, sem estratégia, caminho e futuro. O Benfica precisa de ser absolutamente refundado a nível financeiro, uma situação que tem vindo a agravar-se nos últimos anos. O aumento da dívida tem sido brutal, e o Benfica não é sustentável muito mais tempo. Quanto às três principais receitas do clube, há uma incógnita brutal sobre os direitos televisivos. O Benfica abandonou o processo, não sabemos como vai ser. Este ano estamos a lutar pela Champions, se não entrarmos não é bom. Se não pudermos fazer a venda extraordinária de jogadores – porque não temos elementos para isso e não encontrarmos uma solução para que consigamos ter jogadores noutras condições para poder vender – o Benfica rapidamente entrará em colapso financeiro. Portanto, é preciso alguém com capacidade, conhecimento e as pessoas certas para poder alavancar uma situação destas, gerir uma empresa desta dimensão e colocá-la no rumo certo. Nas outras candidaturas, não vimos ninguém e estão praticamente fechadas.

Bola na Rede: Como é que o Benfica pode estabilizar essa situação financeira e que ideias tem para isso?

Cristóvão Carvalho: O maior problema do Benfica é neste momento um problema financeiro. Se não estivesse no lugar onde estou e não tivesse assumido a responsabilidade de preparar e fazer uma candidatura, queria era que o Benfica ganhasse. Como sócio, a minha primeira preocupação não seria com os problemas financeiros, mas agora essa tem de ser essa preocupação. Se não resolvermos os problemas financeiros, não conseguimos resolver os problemas desportivos e o Benfica está num grave problema financeiro. É disfarçado, porque o Benfica é uma empresa muito grande, que fatura muito dinheiro, mas também consome muito dinheiro. Qualquer candidato que se apresente nestas eleições, se não apresentar uma solução financeira perfeitamente estruturada e credível, não faz sentido apresentar-se. Estas eleições não se resolvem com beijar o manto sagrado, aumentar os lugares do estádio e contratar jogador A, B ou C. Tem de haver um plano complexo. Irei apresentá-lo. Está completamente fechado, não o vou dizer por respeito aos benfiquistas. No dia 4 de setembro, apresentarei a todos com detalhe e rigor. O que posso dizer é com toda a garantia e segurança que esse processo está tratado e resolvido.

«Se fizer isso, tenho a certeza de que vamos ser vencedores na Champions League»

Cristóvão Carvalho
Fonte: Assessoria Cristóvão Carvalho

Bola na Rede: O Cristóvão já falou várias vezes que o Benfica tem de pensar em ganhar a Liga dos Campeões. Qual é o plano para fazer isso acontecer?

Cristóvão Carvalho: Toda a estrutura do futebol tem de ser alicerçada numa estrutura financeira. Sem dinheiro, não se consegue fazer isto. Se olharmos para os últimos quatro anos e este último ano, o Benfica está a fazer, a nível de futebol, exatamente o oposto dos clubes vencedores. Nos clubes europeus que vencem Champions League e jogam com regularidade “quartos”, “meias” e finais, encontramos um treinador inspirador de excelência, com muita experiência de Champions, e uma estabilidade enorme na equipa de futebol. É com estabilidade e o tempo que se garante o sucesso. O Benfica tem feito exatamente o oposto: um entreposto de jogadores, um entra-sai e posições que não são colmatadas. Não há um plano. Se perguntarmos ao presidente do Benfica o que é que ele quer ganhar, ele não saberá responder. Se percebermos um pouco de futebol, as últimas contratações do Benfica não vieram para jogar no Benfica. Vieram para ser um trampolim e seguirem para outros clubes em pouco tempo. Isso permite ganhar nada. Como é que se ganha? Dando as condições aos jogadores e treinadores para que eles acreditem, motivem-se e consigam algo que poucos conseguem que é ser campeões europeus. Não há muitos que o consigam. Não é o dinheiro que ganha, são projetos, estabilidade e são clubes com a dimensão do Benfica com 400 mil sócios. Temos de construir a equipa com base nestes pressupostos.

Bola na Rede: Disse que os melhores jogadores do Benfica podem ser segurados durante 4 anos. Qual é o seu plano para não deixar sair os jogadores para clubes como Real Madrid, Barcelona etc…?

Cristóvão Carvalho: Pagando-lhe o valor que é justo. Não há outra solução. O Benfica tem dinheiro se souber fazer as coisas que lá tem. Temos uma capacidade de receita ao nível dos maiores do mundo. O que não temos é um plano financeiro estruturado e definido para rentabilizar muito mais as nossas receitas. Há um jogador que era proibido ser vendido no Benfica, não só pela sua qualidade. Sentia o Benfica e tinha alma Benfica. É o João Neves. O João Neves pediu 3 milhões de euros anuais para ficar no Benfica. Não havia jogadores a ganhar isso? Até mais do que um. Precisava-se de vender o João Neves para ter dinheiro, e assim não se constrói nenhuma equipa. Não é preciso que os jogadores fiquem a vida inteira no Benfica. Tem de haver um grupo que seja a espinha dorsal do Benfica. O nosso rival [Sporting] que ganhou a Liga e vai disputar o campeonato connosco, quantos jogadores mudou? Quase nada. Um. O resto está lá tudo. O Benfica tem de ter essas condições. Tem de ter os contactos e as pessoas certas para isso. Se trouxermos da formação dois ou três jogadores, e esses jogadores souberem que vão ficar os melhores dois ou três anos na equipa principal, e que o Benfica os vai renumerar em função disso, eles ficam. É preciso pessoas que estejam desligadas de todo este sistema que está montado. É o meu objetivo. Se fizer isso, tenho a certeza de que vamos ser vencedores. Não é num ano ou no outro, vamos acabar por ser vencedores. Dizem-me «é impossível, és louco. O Benfica não mais ganhará a Champions». Há pouco tempo, todos desorganizados como estamos a equipa estava a jogar os quartos de final. Um pouco mais competentes, estamos lá. Numa final, é preciso um pouco sorte e a sorte também nos assiste. Tenho um projeto a 12 anos para o Benfica. A cada quatro anos decide-se, mas isto tem de ser planificado. Em 12 anos não tenho de ter essa ambição? Claro que tenho. Agora, pelo caminho que as coisas andam, sinto que não vamos lá chegar e o Benfica é assim um Titanic. Rapidamente sai de uma adversidade, mas se não tiver soluções também rapidamente afunda a uma velocidade louca. É uma preocupação que tenho e quero dar condições ao Benfica.

Bola na Rede: Apoia o regresso de jogadores ao Benfica, como no caso de João Félix?

Cristóvão Carvalho: Por regra, vou-lhe responder como adepto. Não como candidato. Uma escolha de um jogador não deve ser analisado dessa forma: se é ex-jogador ou não. No Benfica tem de haver uma estrutura altamente profissional que esteja a nível de scouting, prospeção, treino, escolha,e de um CEO desportivo que saiba exatamente quem se quer para o lugar que seja. Se essa pessoa for um jogador que tenha saído do Benfica e for a peça que precisamos, é óbvio que temos de ir buscar. Não sou emocional nas contratações nem devemos ser. A escolha tem de sair de um departamento altamente profissional e técnico para diminuir a margem de erro. É assim que a minha equipa vai contratar atletas. O Benfica vai deixar de ser um interposto de jogadores, vamos contratar aqueles que precisarmos na necessidade que tivermos. Na questão do João Félix em particular, ainda bem que não veio. Não era um jogador que fosse neste momento necessário para o Benfica. Não tinha o equilíbrio nem a forma, não fez pré-época e o Benfica precisa de jogadores que entrem e joguem. Estamos em alta competição. Não era o melhor momento nem para o João Félix nem para o Benfica.

Bola na Rede: Se ganhar as eleições, Bruno Lage é o seu treinador?

Cristóvão Carvalho: Tenho imenso respeito por Bruno Lage. É uma excelente pessoa e um treinador que já nos deu títulos. Fez um trabalho muito bom e aceitou treinar o Benfica num momento muito adverso e não me esqueço disso. A saída de Roger Schmidt foi uma situação muito mal gerida pela direção de Rui Costa. Desgastou imenso aquela estrutura e depois era preciso alguém para aceitar. Agora Bruno Lage não tem as características que eu quero implementar no Benfica. Não é um treinador que joga frequentemente Champions, ganha Champions e é inspirador. Tem outras características. Não é o meu treinador para o Benfica. Quero um treinador que esteja no top-5 mundial. Tenho de o convencer, de o motivar e vou ter de o trazer para o Benfica. Não tenho dúvidas nenhumas de que vou conseguir.

Bola na Rede: Tem algum nome em mente?

Cristóvão Carvalho: Se for procurar um dos cinco treinadores que jogaram Champions, há de ser um desses. Não vou fazer uma aposta em alguém que vem para aqui fazer uma experiência. O treinador tem de ser o investimento, mais bem rentabilizado e a peça que não pode falhar. Escolha um do top-5 e há de ser um desses. O modelo está definido. São treinadores que tenham jogado com frequência nos “quartos”, “meias” e finais da Champions. E se possível que tenha ganho uma, que isso é que é inspirador. O treinador é a pessoa mais importante do projeto. Temos de criar as condições financeiras para isso. Diferente é quando chegar e estar lá o Bruno Lage, até pode estar em 1.º com a equipa a jogar um futebol maravilhoso. Nessa altura, sento-me com ele e digo-lhe que não é o meu perfil de treinador. Vou começar a trabalhar na construção da próxima temporada com outro treinador. Ele, como profissional, fará o seu trabalho até lá chegar e se as coisas correrem bem, continuará. Se as coisas não correrem bem, iremos chegar a um entendimento numa próxima oportunidade. Bruno Lage já sabe que não é o meu treinador, mas o Benfica é uma casa séria e irá cumprir rigorosamente com todos os profissionais, sejam quais forem, logo com um treinador que nos deu títulos e é um homem respeitador, honesto e de enorme carácter. Só temos de o respeitar.

Bola na Rede: Que avaliação faz do plantel do Benfica? O que é que pretenderia fazer no mercado de inverno?

Cristóvão Carvalho: Neste momento, não conseguimos ter essa perceção. Os jogadores na comunicação social têm um “report” para os sócios, depois no campo às vezes não acontece. Neste momento, temos 6, 7 jogadores novos e não sabemos como é que vão funcionar, se se vão adaptar, o que é que vai acontecer. É muito cedo para isso. Neste momento, é impossível dizer o que vai ser a equipa do Benfica. Face às mudanças, parte atrás do nosso principal adversário que foi campeão o ano passado, temos de correr mais e andar mais. Espero que as coisas estejam a correr bem. Se não estiverem a correr bem, quando chegar ao Benfica, vou ter de fazer algo que não existe: um departamento de scouting em condições, porque fomos perdendo grandes profissionais para grandes clubes. Vou ter de reconstruir uma área completamente ao abandono do Benfica. O Benfica tem de ser campeão no próximo ano, temos de ir à Champions. Portanto iremos reforçar a equipa (se for necessária) com os jogadores necessários para que isso aconteça. Isso é fundamental.

Bola na Rede: Quais são as suas ideias sobre a aposta na formação?

Cristóvão Carvalho: Seixal é o nosso pote de ouro. Foi algo que o Benfica criou e potencializou. Tem algumas coisas que neste momento não estão a funcionar como deviam. O Benfica está a perder velocidade na captação de jovens, porque existiram outras academias que motivam melhor os jovens, pagam melhor e têm pessoas a recrutar com mais qualidade. As formas de recrutamento do Benfica têm sido abandonadas. Hoje no Benfica não sai aquela quantidade de jogadores que gostaríamos, sendo que esta última fornada nos parece excelente. Não podemos é cometer os mesmos erros, que é perder muitos destes jogadores. O Benfica tem de mudar na recrutar e também apresentarei um plano, que nos permite ter uma possibilidade muito mais ampla de jogadores. Não posso ainda revelar mais sobre isso, mas isso é fundamental. A base tem de ser amplificada e ter um maior número de jogadores. Há outra coisa que não acontece e não percebo. O Benfica não forma treinadores. Nós não temos um grande treinador. Há quantos anos o Benfica não vende um grande treinador? Temos de ter paralelamente uma escola de treinadores. É uma mais-valia muito importante para podermos colocar treinadores noutros sítios do mundo, noutras perspetivas e valorizar o nosso futebol. Também queremos fazer uma ligação mais simples e direta à equipa principal.

«Modalidades? Estou convencido que num mandato de 4 anos temos a casa toda arrumada, custos controlados, equipas altamente competitivas e a ganhar»

Cristóvão Carvalho
Fonte: Assessoria Cristóvão Carvalho

Bola na Rede: Avançamos agora para outros temas da realidade do Benfica. Quais são as suas principais ideias para fortalecer as modalidades?

Cristóvão Carvalho: Quando falamos de futebol, falamos de SAD, que é uma participada do clube, onde envolve a maioria do capital com uma base de gestão mais controlável. Quando falamos de modalidades, falamos do clube e o clube não tem essas fontes de receita. Há as modalidades em que os meninos começam a praticar e vão subindo de escalão até às profissionais, que de modalidades não têm nada. São as profissionais. As de pavilhão, o atletismo, o projeto olímpico… Estas são um problema no Benfica: têm um custo excessivo e poucos resultados, e isso cria um prejuízo muito grande.

Bola na Rede: Como fará essa gestão a nível financeiro?

Cristóvão Carvalho: Entendo o Benfica como um clube eclético e utilidade pública. Temos uma função atribuída pelo estado. Desde a nossa fundação, tiramos os miúdos da rua (agora do sofá) para praticar desporto. Nessa função, o Benfica vai continuar a fazer. No meu caso, o Benfica vai continuar a investir para lhes dar as melhores condições, equipamentos e infraestruturas corretas e não me importa se dá prejuízo ao clube. Assumo claramente e invisto mais, porque é daí que se formam os homens e as mulheres do amanhã. E o Benfica orgulha-se muito disso. Nas modalidades amadoras mas profissionais, temos de repensar a solução. A solução que aí assenta é diferente da SAD, onde tem uma estrutura profissional com uma margem de erro menor. No clube é diferente e não existe uma estrutura profissional. Deve existir. A nossa ideia é agrupar modalidades que tenham conexões entre si e vamos criar o que chamamos “Mini-SADs”, que são estruturas profissionais e vamos dimensioná-las à medida daquela ou daquelas modalidades em causa para conter os custos, ter pessoas profissionais a trabalhar nelas a captar patrocínios e potencializar os jogadores. Envolve uma panóplia, como a Benfica TV, que tem de ter uma intervenção muito forte para valorizar estes jogadores. Temos de aproveitar tudo: como o método de treino, de recuperação, scouting e o big data no futebol. Temos de a trazer para as modalidades de uma forma reestruturada. Provavelmente algumas modalidades temos de dar um passo atrás para depois dar dois à frente. O Hóquei é um caso desses, onde se tem investido demasiado e não temos resultados. Repensar tudo e começar a reconstrui-la. Estou convencido que num mandato de 4 anos temos a casa toda arrumada, custos controlados, equipas altamente competitivas e a ganhar. A desorganização é muito grande e temos de arrumar a casa. Temos uma ideia de como está mas sabemos quando lá chegarmos não será melhor do que pensámos e temos de estar preparados para isso.

Bola na Rede: Tenciona criar/terminar alguma das modalidades?

Cristóvão Carvalho: Neste momento, não penso nisso. No estudo que fizemos sobre o Benfica, não há nenhuma modalidade que acreditemos ter de terminar por estar em absoluto descontrolo. Temos é de mexer muita coisa. Algumas modalidades estão mesmo muito desorganizadas, onde existe um custo excessivo. Estive nos Nacionais de Atletismo e assustou-me um pouco. Temos atletas de grande qualidade, mas há desorganização. O Benfica fez um investimento muito grande nas primeiras linhas e desinvestiu nas segundas linhas. Não fomos campeões este ano porque houve um jogador muito bom da primeira linha que se lesionou, e não tínhamos segunda linha. Não era mais fraca, não tínhamos. Tivemos de adaptar um atleta que fazia outra modalidade. Isso não pode acontecer, tem de haver um equilíbrio. Não existe dentro do clube uma estrutura organizada e profissional para poder trabalhar essas modalidades e alicerça-se fundamentalmente no vice-presidente, que acredito que não chegue a tudo. Acredito que falta alguns elementos e temos de os trazer. Acabar não, uma ou outra modalidade dar um passo atrás para depois dois à frente. O Benfica é Modalidades.

«Quando eu chegar, as coisas não vão ser como estão agora. O Benfica tem de ser respeitado e vou exigir consideração»

Cristóvão Carvalho Isaías
Fonte: Assessoria Cristóvão Carvalho

Bola na Rede: Continuando agora com outros temas. Como serão as relações institucionais com FC Porto e Sporting?

Cristóvão Carvalho: Nunca tive muitas dúvidas sobre isso. Eu e a minha equipa temos uma vantagem: não temos qualquer ligação ao futebol e tudo o que seja estas “tricas e triquinhas” eles vão ter muita dificuldade em lidar connosco, porque não vamos alinhar em nada disso. As instituições que existem são a Federação, Conselho de Arbitragem, Liga e por aí. São instituições que têm de ter o respeito de todos os clubes, incluindo o Benfica. Essa instituição tem de fazer o seu trabalho e existem normas para gerir. A única que o Benfica tem de ser é ter as pessoas certas que conheça essas normas e faça valer os interesses do Benfica. Não tenho de ser amigo nem íntimo com o presidente da Liga, da Federação nem estar a negociar lugares. Eles é que têm de fazer isso, eles é que têm de equilibrar os seus órgãos. Se não os equilibrarem, tenho de dizer “meus amigos isto não está a funcionar, há regras e há um protocolo”. Posso dar um exemplo. Tá dito e redito que o Sporting dominou um setor absoluto no futebol português. E quem é a culpa? É do Benfica. Não soube sentar e falar. Tem de haver um equilíbrio. Se houver uma voz forte e determinada, tudo vai funcionar corretamente. Eu estou aqui para defender os interesses do Benfica. Não queremos ser mais nem menos do que os outros, queremos uma gestão igualitária. Não podemos ficar quietos, não nos fazer representar, não dizer rigorosamente nada e depois quando as coisas acontecerem irmos por reação. Fazemos comunicados que não têm pés nem cabeça e ainda nos riem de nós. Não vou deixar que isso aconteça. Temos de defender a nossa posição. O Benfica tem ido tarde e continuar a chegar tarde.

Bola na Rede: Considera então que Rui Costa tem falhado na ligação com essas instituições e também a nível dos comunicados?

Cristóvão Carvalho: Rui Costa não tem esse perfil. Está enleado numa rede que não sabe como sair dela. Também não está assessorado devidamente com alguém com conhecimento, que esteja desligado e sem interesses no futebol. Quando é assim, é muito difícil. Já se percebeu que as relações de amizade, conhecimento do fundo, ser um homem do futebol não ajudam. Não o têm ajudado, porque ele não se sabe impor. Não tem essa característica. Tem muitos anti-corpos ao longo da vida. Atrás dele, também não tem uma equipa que o queira fazer, porque todos se escondem e todos têm medo. É normal. Se você não tem um líder, alguém ao qual acredita e vá defender, também se vai esconder. O Benfica tem sido atropelado em tudo isso. Nessa matéria de liderança, Rui Costa falhou redondamente. Os benfiquistas têm um grande carinho por ele como futebolista e ídolo do clube, mas isso é uma coisa. Outra coisa é ser presidente do clube, marcar a voz e dar um murro na mesa quando é preciso dar um murro na mesa. Quem age por reação, é incompetente. Se deixou que o facto negativo aconteça, já está a ser incompetente.

Bola na Rede: Qual é a sua opinião sobre Reinaldo Teixeira na liderança da Liga Portugal e Pedro Proença na liderança da FPF?

Cristóvão Carvalho: Desses dois, não tenho opinião. Chegaram há muito pouco tempo. Não tenho opinião, ainda não fizeram grande coisa. Daquilo que vejo, essas instituições têm pessoas à frente que são responsáveis pelos atos que praticam. Os clubes têm de colocar a nu quando as coisas não estão bem. Se me agrada o que tenho ouvido nos últimos tempos? Não. É surpresa? Não. Se eu lá estivesse saberia o que teria de fazer. Essas pessoas, se eu for presidente do Benfica que acredito que seja, que estejam preparadas. Quando eu chegar, as coisas não vão ser como estão agora. Garanto. O Benfica tem de ser respeitado e vou exigir consideração. O Benfica não quer superioridade, quer igualdade. Tem de haver equilíbrio na nomeação de cargos.

«Tenho uma proposta para a btv que vai dar muita polémica»

Cristóvão Carvalho
Fonte: Assessoria Cristóvão Carvalho

Bola na Rede: Partindo para uma última parte da entrevista. Qual o futuro da BTV e Rádio Benfica com Cristóvão Carvalho no poder?

Cristóvão Carvalho: Da rádio Benfica não lhe sei dizer qual é o futuro, porque não sei qual é o presente. As dificuldades foram tantas e o projeto foi montado assim tão rápido, que está absolutamente turbulento. São meios muito importantes. A BTV é um braço armado do Benfica e está completamente desaproveitado. É um desperdício. É um instrumento brutal que pode chegar a milhares e milhares de sócios, passar a mística do clube, dar alegria aos benfiquistas. A BTV está muito desaproveitada, com três ou quatro pessoas que são sempre os mesmos e falam de coisas sem interesse. E não é em canal aberto, que é outra coisa que não me entra na cabeça. Podia ser um canal de grande referência, uma receita fundamental para o clube. Nem acho que aquilo seja um canal de propaganda, deve haver muito poucas pessoas a ver. Subscrevem para ver os jogos, porque depois não têm paciência para ver o resto. E há tanta gente do Benfica a querer utilizar a BTV: artistas, cantores, pessoas que têm algo a acrescentar, programas… Basta olhar para os canais dos grandes clubes europeus. Têm comentadores fantásticos, programas ricos. A BTV tem de levar uma volta brutal e apresentarei um projeto que surpreenderá.

Bola na Rede: Pode dizer algo mais sobre isso?

Cristóvão Carvalho: Posso dizer que vai dar muita polémica. É uma proposta arriscada, mas perfeitamente calculada e que vai mudar muita coisa no Benfica.

Bola na Rede: Essa proposta está incluída no projeto de aproximação de adeptos-clube?

Cristóvão Carvalho: A BTV pode ser englobada em algo maior do que o vemos hoje: um canal a passar umas coisas e uns jogos de futebol. É o básico. Menos do que isso só se passasse uns desenhos animados para os meninos de manhã. A BTV vai ser incluída num projeto que resolve vários problemas no Benfica, onde vai ser um instrumento de comunicação rápida com os sócios. Uma comunicação que faz a aproximação aos sócios: leva o Benfica aos sócios mas também faz com o que os sócios comuniquem mais facilmente com o Benfica. Vai ser algo diferente e terá bastante impacto no Benfica.

Bola na Rede: Ainda sobre os adeptos, também tem alguma ideia concreta para aproximar os adeptos que residem no estrangeiro?

Cristóvão Carvalho: A grande aposta do meu projeto é a internacionalização da marca Benfica. Podemos ir para os PALOPS, onde existem muitos benfiquistas e que querem uma alternativa para o Benfica. Os grandes clubes europeus já estão a fazer isso: esses pacotes premium que dão uma receita muito importante ao Benfica. Tem de fazer isso, é fundamental. Depois também temos de ir para a Ásia, Estados Unidos, Canadá. Temos de ir para muitos sítios, onde o Benfica pode e deve marcar a sua presença e tem grandes consumidores do Benfica. Temos é dar um produto que querem, pensado e feito para eles. O Benfica não tem só para vender futebol masculino, tem futebol feminino, futsal, basquetebol, hóquei… uma série de modalidades e uma série estrelas fantásticas que temos. Basta ver o que os EUA estão a fazer há anos, adaptar o sistema e implementá-lo. Temos isso pensado e iremos apresentar. O Benfica tem uma capacidade de crescimento enorme, a base tem de ter qualidade. O Benfica é neste momento o maior clube do mundo em sócios, mas tem de crescer e vamos explicar como. E crescer em sócios não implica apenas buscar a cotização. Às vezes, isso não é importante. Se o sócio tiver um retorno maior do que a sua cotização e tiver outras coisas que possa consumir no clube, temos ganhos indiretos. O Benfica tem de ser criativo.

Bola na Rede: E como olha para as Casas Benfica?

Cristóvão Carvalho: As Casas do Benfica são o segundo grande braço armado do Benfica. Primeiro é a BTV. As Casas Benfica funcionaram bem. Tenho visitado muitas Casas e falado com muitos benfiquistas. Hoje, o que temos está perfeitamente identificado. As Casas Benfica 2.0 não tem nexo nenhum, completamente desajustado da realidade. O modelo que está hoje implementado nas Casas é um modelo que não funciona por dois tipos de razões: o Benfica não está disposto a ceder no know-how. O Benfica tem uma capacidade de conhecimento e tem de ensinar as pessoas como aquilo se faz. Esse é um primeiro problema. O Benfica não está disponível neste momento a colocar merchadising à consignação das Casas. O Benfica obriga que as Casas comprem o material e tenham lá. Isso é absolutamente inviável. As Casas não têm capacidade financeira para isso e perdem ambos. O valor que o Benfica dá na bilhética às Casas é ridículo, não paga os custos daquilo. Nesse know-how, o Benfica tem de perceber que as Casas não podem ser tratadas unicamente todas da mesma forma. Cada Casa é uma realidade diferente, com um público alvo, uma zona alvo, um rendimento diferente. Tem de haver algo criado, um departamento específico para ajudar com estas questões. Se assim for, as Casas vão ser o nosso braço armado e ajudar-nos imenso. Alavancar sócios, iniciativas, fazer viagens ao estádio. As que estão no estrangeiro, serem um centro de capitalização de sócios e pessoas de referência que possam consumir a marca Benfica. Isso tem de ser assumido pelo Benfica e investir para depois ter retorno. E o Benfica deixou cair completamente as Casas e hoje o que se vive são situações dramáticas. Presidentes e vice-presidentes a colocar do bolso deles o dinheiro para manter a Casa aberta. Isso não pode acontecer num clube como o Benfica. Deixou cair o projeto todo.

«Quem chegue ao Benfica que diga que estes homens puseram isto no sítio certo, limparam, os motores estão a trabalhar, o porta aviões está afinado e agora é continuar e não errar. É isto que eu sonho deixar ao Benfica»

Cristóvão Carvalho
Fonte: Voar para Vencer

Bola na Rede: Quando falou sobre o Benfica District, disse que tinha também um projeto a pensar numa expansão. O que tenciona fazer?

Cristóvão Carvalho: Temos algo pensado há muito tempo para um projeto a 12 anos. Percebemos claramente quer no Benfica quer no Seixal há muita área construtiva à volta que não está otimizada neste momento. Continuo a criticar o Benfica District, porque é um projeto mal pensado, mal estruturado e completamente eleitoralista, apresentado por um candidato nas instalações e com recursos do Benfica. Com políticos, governantes e um representante da FIFA que não deviam ter ido. Está tudo errado. Além disso, o projeto financeiro daquilo é irrealista. É de quem não tem a mínima noção do que é construir algo em Portugal. Um projeto daquela dimensão nunca será aprovado, mas se fosse, 200 milhões de euros, gastava-se pouco mais das fundações. O Benfica não tem condições nem estrutura financeira para isso. 200 milhões de euros é um valor ridículo para a quantidade de metros de construção que está ali. Eu acho que o Benfica precisa de rentabilizar a área que está à volta do estádio, mas não pode ser num projeto louco desses. Temos um projeto que iremos falar sobre ele, mas levará tempo e terá de ser discutido/trabalhado com os arquitetos responsáveis pelo mesmo. Essa rentabilização tem a ver também com o próprio estádio não ser utilizado de 15 em 15 dias. Tudo aquilo tem de ser utilizado todos os dias e há algo que não nos podemos esquecer. Ao lado temos uma zona comercial enorme, tem muita experiência nessa matéria e tem de ser envolvida no projeto. Não se pode ignorar isso. O projeto apresentado envolvia uma série de lojas, uma coisa louca, quando o Benfica não tem nenhuma experiência nessa matéria e quando temos alguém que é altamente técnico e experiente. Temos ao lado alguém profissionalizado, tem contrato de exclusividade com as melhores marcas, está no país inteiro. É só algo que não faz sentido não incluir esse parceiro que beneficiaria os dois. Ficaria satisfeito como sócio se dissessem que tínhamos um parceiro para cada área: um para a restauração, um para a área de hotéis, um para o desenvolvimento e entretenimento, etc… Não fizeram nada disso. Nós temos um projeto estruturado, pensada e com os parceiros corretos. Só assim funcionam. E há outra coisa que eles não pensaram e foi algo que pensei logo: o Benfica tem um problema crónico de estacionamento e ainda íamos colocar um centro comercial? Mas onde é que as pessoas iam estacionar os carros? Não tem qualquer nexo.

Bola na Rede: Onde imagina o Benfica no final do mandato?

Cristóvão Carvalho: Essa ideia está gravada na minha cabeça. Não implica que eu faça os 12 anos no Benfica, já sei que em 12 anos vou ter de sair e isso é ótimo. Se eu cumprir o que eu acho para o Benfica em 8 ou 9 anos e achar que está cumprido, eu dou a oportunidade para outros, porque acho que isso é que é a renovação no Benfica. Eu vou deixar um Benfica infinitamente melhor do que aquele que encontrei. Vou deixar o Benfica com títulos europeus. Vou deixar o Benfica com as contas certas. Vou deixar o Benfica com as receitas como nunca teve: super organizadas e com uma capacidade de crescimento enorme. Vou deixar uma academia a funcionar em pleno, com uma estrutura de entrada de jogadores na equipa principal fantástica. Vou deixar com pelo menos uma ou duas modalidades como referência a bater-se com o resto dos concorrentes europeus. Adoraria fazer. O Benfica precisa disto, com uma estrutura séria e honesta. Quem chegue ao Benfica que diga que estes homens puseram isto no sítio certo, limparam, os motores estão a trabalhar, o porta aviões está afinado e agora é continuar e não errar. É isto que eu sonho deixar ao Benfica. Se me derem essa oportunidade, eu acredito que o vou fazer.

Diogo Lagos Reis
Diogo Lagos Reishttp://www.bolanarede.pt
Desde pequeno que o desporto lhe corre nas veias. Foi jogador de futsal, futebol e mais tarde tornou-se um dos poucos atletas de Futebol Freestyle, alcançando oficialmente o Top 8 de Portugal. Depois de ter estudado na Universidade Católica e tirado mestrado em Barcelona, o Diogo está a seguir uma carreira na área do jornalismo desportivo, sendo o futebol a sua verdadeira paixão.

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