O raio-x ao FC Porto de Francesco Farioli depois da goleada ao Casa Pia

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FC Porto Cabeçalho

As lágrimas do FC Porto são agora de alegria, de esperança e da saudade que se matou em poucas semanas. Depois de uma época mais que conturbada, onde os tropeços e as quedas se seguiram, os azuis e brancos respiram melhor. Se é verdade que o mercado entusiasmou e aumentou a qualidade do plantel, também o é que o melhor reforço do FC Porto se senta sempre no banco de suplentes e se chama Francesco Farioli. O arranque do campeonato demonstra-o.

Diante do Casa Pia, o FC Porto rubricou a sua melhor exibição, particularmente na primeira parte, aniquilando todas as chances dos gansos saírem em transição e matando qualquer hipótese de discutir o jogo. Foi a melhor exibição do FC Porto de Francesco Farioli, de quem já é possível traçar um perfil sólido e coerente. O mercado ainda deverá mexer, há questões de encaixe na equipa (Rodrigo Mora acima de todas as outras) e as lesões poderão abrir novas portas ou revelar fragilidades, mas há um caminho traçado bastante claro sobre o que o FC Porto quer e não quer fazer.

Francesco Farioli FC Porto
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Embora o italiano tenha surgido na senda de Roberto De Zerbi, de quem foi adjunto, e tenha aparecido como vanguardista na maneira como explorava e criava vantagens na saída de bola, o FC Porto destaca-se, nesta fase inicial, como uma máquina de duelos e de pressão. Há argumentos com bola, mas o campeonato português não exige um reportório muito variado no que diz respeito ao superar pressões e o maior destaque é mesmo o momento sem bola. Aliado à qualidade neste momento, a incapacidade gritante de ser competitivo na última temporada explica o entusiasmo associado ao momento defensivo azul e branco.

O FC Porto pressiona alto e de forma individualizada, com marcações individuais no campo todo e encaixes claros no adversário. Contra o Casa Pia, Luuk de Jong acompanhou José Fonte no seu papel de líbero e guiou os extremos a pressionar por dentro e os laterais a saltar na pressão aos alas. Com o meio-campo emparelhado, Alan Varela compensou a ausência dos laterais e pressionou Livolant. Gabri Veiga e Victor Froholdt são médios de estampa física e capacidade de deslocação e a equipa consegue encher o campo.

Mais do que o desenho, destaca-se a capacidade física dos atletas do FC Porto. O mercado evidenciou o privilégio dado a jogadores com perfil atlético e capacidade física e o onze-tipo de Francesco Farioli confimou-o. A junção do plano tático com a capacidade física da equipa tem permitido ao FC Porto instalar-se no meio-campo ofensivo, impedir o adversário de ter conforto com a bola e recuperar bolas rápido. Na transição de temporadas, não há nenhuma diferença tão gritante como a reação à perda.

Victor Froholdt FC Porto
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

A capacidade nos duelos estende-se à bola parada. O FC Porto ganhou uma nova maneira de ferir adversários. Tem gente na área que sobe alto, ganha segundas bolas e tem um executante de luxo em Gabri Veiga para pegar na bola e a colocar no destino. É um FC Porto muito mais multidimensional e com mais valências para ter conforto e ferir.

É nesta lógica do conforto para ferir que a equipa também se estrutura ofensivamente num 4-3-3 com dinâmicas claras. Os laterais ficam mais baixos, Alan Varela é protegido e vê o jogo de frente, os médios oferecem soluções de chegada e os extremos oferecem largura e abrem o campo. Contra o Casa Pia, não houve Samu Aghehowa, revitalizado para atacar espaços e oferecer soluções ao invés de jogar frequentemente de costas para a baliza a 50 metros do golo, mas Luuk de Jong ofereceu outros argumentos na ligação de costas para o jogo e no envolvimento associativo.

Farioli quer os laterais baixos para reduzir os riscos em construção, facilitando trocas de passe horizontais e privilegiando o timing do passe à pressa da aceleração. O FC Porto chega rapidamente à frente, mas fá-lo sem forçar, esperando a altura certa para acelerar e procurar um movimento dos médios a atacar as costas da linha defensiva ou um dos extremos abertos. Neste aspeto, Alberto Costa e Zaidu (titular face à lesão de Francisco Moura) compensam a ausência de variabilidade a ver o jogo de frente com a possibilidade de se projetarem desde trás e de aparecer na frente com movimentos surpresa inesperados.

Alberto Costa Fahem Benaissa FC Porto Casa Pia
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Mais esperada foi, face à ausência de Pepê, a titularidade de William Gomes à direita. Mercado e futuro à parte, Rodrigo Mora não tem as características para ser um extremo de corredor. Precisa do conforto de ter colegas próximos com quem combinar e tem o corredor central – ou a liberdade para por lá aparecer – como o terreno fértil para a onda de desequilíbrios. Diante dos gansos, entrou para a direita, apareceu por dentro, mas esteve algo errático na decisão. Valorizou-se William Gomes, recompensado com a titularidade à direita. Entre os dois corredores, o brasileiro tem tido maior destaque a jogar a pé trocado, abrindo o campo com o pé esquerdo e podendo entrar por dentro. Além do remate fácil e do golo, ganha outro critério nas decisões e possibilidades no passe e na associação. Ganhou pontos como projeto a valorizar por Francesco Farioli.

Quando foi associado ao FC Porto, a maior dúvida sobre Francesco Farioli prendia-se na capacidade de desmontar blocos baixos. A capacidade de pressão – Froholdt como destaque do arranque da época – e a bola parada têm permitido adiar todos estes questionamentos. Contra o Casa Pia, o FC Porto fez, porventura, a exibição mais sólida e completa dos últimos longos meses antes de um dos jogos da temporada. Em Amesterdão, Francesco Farioli notabilizou-se nos jogos grandes, onde nunca perdeu nenhum. Terá pela frente um Sporting também em bom nível em Alvalade, num dos Clássicos mais aguardados dos últimos tempos. O tira-teimas do Campo Grande trará novidades quanto a este FC Porto que quer ser grande. Por agora, não há qualquer arranhão no raio-x e muito menos as fraturas expostas com que 2024/25 terminou.

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: É uma marca de água do início da época do FC Porto a pressão alta e individualizada a todo o campo, que hoje originou o primeiro golo. De um ponto de vista mais teórico, na sua ideia de jogo, quais os riscos e benefícios desta maneira de defender e qual a importância da capacidade física dos jogadores na sua aplicação em campo?

Francesco Farioli: Sobre a maneira de jogar futebol, costumo dizer que o futebol é uma questão de gosto. O que queres ver, o que gostas, o que não gostas, tudo tem riscos e benefícios. Honestamente, não há uma maneira melhor que as outras porque é possível vencer jogos de futebol em todos os estilos. Depois disso há coisas que gostas e coisas que não gostas. O que gosto, e quando comecei a ser treinador, é de uma equipa muito agressiva e algo camaleónica, capaz de pensar nos momentos em que é necessário baixar alguns metros. Geralmente, quando temos essa capacidade e tudo está bem, queremos ser muito agressivos no meio-campo ofensivo e lutar pelos duelos e pelos desafios, ser bravos e jogar com o espírito certo. Estes objetivos valem para a ideia de defender, mas também para a de atacar, porque tudo está combinado. Vejo tudo como o pacote total. Sobre a condição física, para mim é crucial. Acredito que, antes de serem jogadores de futebol, os jogadores de futebol têm de ser bons atletas. No futebol moderno, é muito claro onde é que o jogo está a ir e para onde vamos nos próximos anos. Ter capacidade física, mas também condições para expressar talento para mim é chave, bem como a capacidade de trabalhar em alta intensidade.

Bola na Rede: Nos poucos minutos em que o jogo foi competitivo, o Renato Nhaga ofereceu-se à equipa como médio de transporte, mas também com capacidade de definição e temporização de jogadas. Como vislumbra a temporada do jovem médio e que espaço é que pode ter no plantel do Casa Pia esta época e a longo prazo no futebol português?

João Pereira: Fico satisfeito com a pergunta, porque foi uma visão positiva. Penso que será a última e é bom culminar com essa. Só temos de aprender e retirar coisas positivas. O que veio de positivo é que esta equipa fora de portas tentou jogar. Fica o resultado de 4-0 que não interessa a ninguém, é museu e faz parte da história. O que podemos retirar? Uma equipa que tentou depois de um jogo contra o Sporting e diante de um adversário de igual patamar, ter uma abordagem mais confiante e fazer coisas diferentes com um menino de 18 anos num meio-campo onde jogam dois. Uma análise bastante positiva da sua parte, nós também temos uma análise positiva da forma como se entregou. Muitas vezes rodeado de adversários do FC Porto, a ter coragem e hombriedade de querer fazer mais do que estava a fazer. São indicadores muito bons. O grupo está confiante, nós estamos confiantes no grupo, o Casa Pia está confiante e é essa a mensagem que quero deixar.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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