
Oriundo de Setúbal, Tiago Teixeira percebeu desde cedo que ia estar envolvido no mundo do futebol. Dentro da área, contou com várias funções e esteve presente em vários históricos nacionais, onde viveu momentos de glória, mas também episódios de tristeza. Ganhou destaque ao serviço do Sporting, onde foi adjunto de João Pereira, mas já tem uma carreira com muito para contar, tanto em Portugal como no estrangeiro. É o mais recente convidado do Entrevista Bola na Rede.
Bola na Rede: Olá, Tiago Teixeira! Um gosto estar aqui a falar contigo sobre a tua carreira.
Tiago Teixeira: Olá! Muito feliz por estar aqui.
Bola na Rede: O Tiago Teixeira já contou com várias funções no mundo do futebol. Gostava de saber como decidiu enveredar por esta área…
Tiago Teixeira: O futebol sempre esteve presente na minha vida desde que era pequeno. A minha família gostava muito do desporto e tinha uma relação com o Vitória FC. Sempre fomos adeptos e sócios, desde pequeninos. Acabámos por brincar muitas vezes no Bonfim, já que o meu avô participou em várias direções. Começou aí o gosto pelo futebol. A minha formação também esteve relacionada com o desporto. Desde cedo que gostei de ensinar e de partilhar conhecimento. Acabei por iniciar assim esta carreira de treinador e consegui dar continuidade.
Bola na Rede: Vamos falar do Vitória FC mais à frente da nossa entrevista. Gostaria que falássemos do Barcelona, já que passou pela Catalunha como scout. Como é que surgiu esse convite?
Tiago Teixeira: Nesse primeiro ano eu estava no Comércio e Indústria, mais um histórico de Setúbal. Sempre consegui manter alguns contactos e fui fazendo muito relatórios de observação de jogos, de adversários, individuais de jogadores… Consegui a possibilidade de fazer uma entrevista com o Barcelona, de maneira a mostrar as minhas capacidades, através do meu empresário, que recomendou o meu nome. Fui contactado pelo clube e marcaram-me uma viagem para fazer a tal entrevista. Reuni-me na altura com o Andoni Zubizarreta, que na altura era o diretor desportivo. O Albert Valentín também estava, porque também era responsável pelo futebol do Barcelona. Acabei por ficar e foram quase três épocas como scout responsável por todos os jogadores em Portugal. Na última temporada fiquei apenas com a zona Sul. O Daniel Barreira entrou para a zona Norte. Foi uma experiência muito boa. Trabalhar para um clube da dimensão do Barcelona e identificar jogadores e fazer relatórios para a tentativa de contratações foi fantástico. Por acaso não fizeram nenhuma contratação nessa altura, mas foi um período muito importante, também para a minha evolução enquanto treinador. Acabei por ser analista, scout, desempenhei muitas funções e fazer isso foi muito importante. Acabo por ter muitos conhecimentos em diversas áreas.
«Na altura recomendei o Bernardo Silva e o João Cancelo, quando ainda estavam na equipa B do Benfica. Essas gerações tinham jogadores muito bons».
Bola na Rede: Suponho que as condições no Barcelona fossem de topo…
Tiago Teixeira: Sim, claro. Só estar presente na academia, na La Masia, é algo que nãos e explica. É um mundo à parte e uma cultura à parte. Só quem está lá e vive essa oportunidade é que pode falar. É um clube fantástico, com todas as condições, mas com uma exigência enorme. Não é qualquer jogador que pode ir para o Barcelona. Nós tínhamos esse cuidado de tentar escolher os melhores dentro de cada perfil e de cada posição. Cada posição tinha um perfil específico e era isso que procurávamos.
Bola na Rede: Não sei se nos pode revelar, embora já tenha passado algum tempo, alguns dos nomes que recomendou de cá de Portugal…
Tiago Teixeira: Na altura recomendei o Bernardo Silva e o João Cancelo, quando ainda estavam na equipa B do Benfica. Essas gerações tinham jogadores muito bons. Foram gerações mesmo muito boas. Porém, nessa altura outros clubes conseguiram aproveitar e o Barcelona não os conseguiu contratar.

Bola na Rede: Dois anos depois, mais precisamente na temporada 2014/15 decidiu voltar a Portugal. Deixou de lado o scouting para fazer parte da equipa técnica, neste caso do Atlético. Por que decidiu dar este passo?
Tiago Teixeira: Na altura eu trabalhava em Portugal, não estava fixo em Espanha. Fazia o país todo e estava por cá. Partilhava o scout com alguns treinos de futebol. Surgiu esse convite através do mister Rui Nacimento, a quem eu estou eternamente grato por meter dado essa oportunidade de começar numa liga profissional como treinador adjunto. Também já tinha estado no Vitória FC, mas como analista da equipa principal, mas não tinha essa experiência como adjunto numa liga principal. Foi uma excelente oportunidade. Começámos a época no Atlético, mas terminámo-la no Marítimo B. Digamos que foi assim o início do trajeto profissional.
Bola na Rede: Em 2015 viveu a sua segunda experiência enquanto treinador principal, no Oriental Dragon, onde até se cruzou com o António Carraça, que hoje em dia é um dos comentadores mais conhecidos do futebol nacional. O que achou da experiência de regressar ao posto?
Tiago Teixeira: É verdade. Eu comecei a época ainda como adjunto do Pinhalnovense, com o mister José Vasques. Ele acabou por sair e entrou o mister Paulo Mendes. Quando ele também saiu surgiu esse convite. O Oriental Dragon acabava por ser quase uma equipa B do Pinhalnovense. Na altura eu estava com o mister Paulo Mendes e achei que era uma boa oportunidade para sair e agarrar outro projeto, mesmo estando ligado ao Pinhalnovense. Foi uma excelente oportunidade.
«Não foi fácil de gerir, mas acho que o Belenenses é um grande clube, é um dos históricos do futebol português, tal como o Vitória FC. Não mereciam ter passado por estas situações».
Bola na Rede: Em 2016 tem a sua primeira aventura como treinador adjunto, mais precisamente na Arábia Saudita. Hoje em dia falamos de um campeonato recheado de craques, mas em 2016 não era bem assim. Qual o nível da competição?
Tiago Teixeira: Foi o mister Nélson, que agora nem está a treinar, que me convidou para ir para a equipa B do Al Taawoun. Tive a oportunidade de trabalhar com o José Gomes na equipa principal. Porém, a Arábia Saudita não tinha nada a ver com o que é hoje. O nível dos jogadores era bastante inferior, mesmo a própria mentalidade mudou bastante, tal como as condições de trabalho. Todas as infraestruturas à volta do futebol foram melhoradas e desenvolveram novas academias. Houve uma aposta muito mais forte no futebol. Ainda assim, foi uma experiência única, num país que na altura era bastante fechado. Estive em Buraida, que era uma cidade bastante conservadora, e foi um choque. Mudei de uma realidade europeia para um mundo onde as coisas eram muito fechadas. Foi uma excelente experiência e mantenho muitos contactos de jogadores e de diretores. É das melhores coisas que podemos guardar. É sinal de que algumas coisas correram bem.
Bola na Rede: Na altura o Tiago era treinador principal e voltou para a função de adjunto. Não sentiu que foi um passo atrás na sua carreira?
Tiago Teixeira: Não. O Oriental Dragon estava na Segunda Divisão da AF Setúbal e o lado financeiro também ajudou. Na Arábia não praticavam os valores que praticam atualmente, mas já existia uma diferença considerável. Foi uma das coisas que me levou a abraçar esse projeto.
Bola na Rede: Em 2017/18 integrou os quadros do Belenenses. O Tiago apanhou este conflito entre Belenenses e o B SAD. O ambiente era tão negativo dentro do clube?
Tiago Teixeira: É verdade, eu posso dizer que estive dos dois lados (risos). Entrámos no início do ano, não me lembro se foi em janeiro ou fevereiro. Ainda entrámos como Belenenses. Talvez até possa dizer que fui o último treinador do Belenenses na Primeira Liga (risos). Acabou por existir essa mudança. No início como estávamos a jogar no Estádio do Restelo nunca sentimos uma diferença gigante. Sabíamos do conflito, mas nunca sentimos nada, mesmo com os adeptos, que pudesse influenciar o nosso rendimento. Sentimos sempre um grande apoio e acho que fizemos um excelente final de época e na segunda época estivemos muito bem. Se calhar foi o melhor resultado da B SAD. Quando surgiu essa necessidade de termos que mudar o nome e emblema do clube, até foi antes de uma partida frente ao Benfica. Não foi fácil de gerir, mas acho que o Belenenses é um grande clube, é um dos históricos do futebol português, tal como o Vitória FC. Não mereciam ter passado por estas situações. São dois grandes clubes que deviam estar na Primeira Liga. Têm excelentes adeptos e muitos adeptos. A experiência foi ótima ao lado do mister Silas, a quem eu também estou muito agradecido.

Bola na Rede: Em 2019/20 cumpre provavelmente um dos seus sonhos de vida, estar no Vitória FC. Inicialmente foi o coordenador de scouting e em seguida faz duas temporadas como diretor desportivo. Considera que o Vitória FC faz falta ao futebol português?
Tiago Teixeira: Voltei para o Vitória FC depois de ter estado aqui nos Emirados Árabes Unidos. Estive uma época no Hatta. Com a situação do COVID-19 o campeonato parou em março e fiquei mais um mês. Não existiam voos e tivemos que esperar um mês para ter um voo para Frankfurt. Depois consegui regressar a casa. Nessa altura surgiu esse convite por parte do presidente Paulo Gomes para ingressar no Vitória FC, para tentar reestruturar todo o clube. A equipa ainda estava na Primeira Liga. Queria formar um gabinete de scouting que fosse transversal a todos os escalões. Esse era o objetivo número um. O que aconteceu depois já todos sabem. Infelizmente o clube acabou por cair para o Campeonato de Portugal e a direção acabou mesmo por cair. Ficaram apenas algumas pessoas que acabaram por segurar o clube. Ficámos nós, estivemos sem direção durante meses. Eu e mais uma ou duas pessoas conseguimos segurar tudo. Só quem esteve dentro do Vitória FC é que sabe realmente o quão difícil foi. Não foi mesmo nada fácil. As pessoas estiveram lá a trabalhar e todos os jogadores e as equipas técnicas estiveram envolvidas. Todos sabem o que fizemos para salvar o clube. Felizmente ainda conseguimos regressar à Liga 3 e ficar nesse escalão. Não conseguimos fazer mais. Foram dois anos bastante exigentes. Foram os dois anos mais duros para mim a nível profissional, sem dúvida. Passámos por muito. Nesse caso eu era diretor desportivo, mas tive quase que ser presidente. Era eu que tinha que dar o ‘sim’ a quase tudo e tinha que resolver quase todos os problemas. Felizmente após esses dois anos surgiu um investidor que nos ajudou a regularizar quase todas as dívidas que tínhamos. Também nos ajudou a fazer os PERs [Processos de Revitalização Empresarial] e conseguimos devolver alguma dignidade ao clube. É uma instituição que não merece passar por estas situações, nem os adeptos merecem. Chegámos a ter 10 mil, 12 mil, talvez 14 mil, num estádio da Liga 3. O Vitória FC é assim.
Bola na Rede: O Tiago Teixeira cresceu no Bonfim. Enquanto adepto, como vê a situação do Vitória FC atualmente?
Tiago Teixeira: Não sou só eu, todos os vitorianos sofremos a ver o clube neste estado. Entrou agora outra direção, felizmente. Já conseguiu subir para a Primeira Distrital. Espero que consigam manter o equilíbrio financeiro para que pouco a pouco consigam reestruturar o clube e subir aos poucos. Acho que não é necessário subir muito rapidamente, estabelecer metas, como dizer que em cinco anos se quer estar na Primeira Liga. Não pode ser assim. O clube tem de se organizar e reestruturar aos poucos. Acho que é isso que estão a tentar fazer. Fizeram um excelente trabalho a temporada passada e esta época parece-me que estão a seguir o caminho. Espero que continuem. Sou sócio desde que nasci, a minha família igual. Não é fácil ver o Vitória FC neste estado, mas esperemos que seja apenas o começo de uma recuperação.
«Foram dois anos bastante exigentes no Vitória FC. Foram os dois anos mais duros para mim a nível profissional, sem dúvida. Passámos por muito. Nesse caso eu era diretor desportivo, mas tive quase que ser presidente».
Bola na Rede: Esperemos que sim. Em 2022/23 deixou o escritório e volta a vestir o fato de treino e vai para o Sporting, inicialmente para o escalão de Sub-23, para adjunto. Como surgiu este convite?
Tiago Teixeira: Nesse momento tinha mais um ano de contrato com o Vitória FC. Já tinha tido algumas propostas para voltar a treinar. Nessa altura o João Pereira convidou-me para integrar a equipa técnica e foi um desafio aceitei com agrado. Um clube com a dimensão do Sporting é enorme. O projeto de carreira que era acho que foi uma excelente oportunidade. Foi a melhor opção que podia ter tomado naquela altura.
Bola na Rede: Antes de falarmos da sua experiência no Sporting, gostava de saber como avalia a importância da Liga Revelação no futebol português.
Tiago Teixeira: É importante se estiver bem estruturada e se os clube conseguirem fazer essa ligação ao futebol profissional. Muitos clubes usam apenas a Liga Revelação para colocar jogadores, apenas por encaixe. Não os estão a preparar para a equipa principal. Acho que os clubes deviam pensar um bocadinho na Liga de Sub-23 como uma ponte para o futebol profissional. Muitas vezes os jogadores saem de um campeonato de Sub-19 ou até Sub-17, no caso do Benfica e do Sporting que têm jogadores muito jovens a jogar num patamar mais elevado, e não estão preparados para a equipa principal. A Liga Revelação tem a função e ser uma liga intermédia, que não tem a qualidade e a exigência da equipa principal e das ligas profissionais, mas acaba por prepará-los para estar num patamar mais elevado. Prova disso é que há muitos jogadores saem dos Sub-23 e encaixam bem na Primeira e Segunda Ligas.
Bola na Rede: Em vários casos há clubes que não têm uma equipa B e têm de recorrer aos Sub-23…
Tiago Teixeira: Certo, por isso é que às vezes é um grande salto. Ir dos Sub-19 para a equipa principal. Assim há uma equipa intermédia para fazer a ligação. Existe também a possibilidade dos jogadores da equipa principal poderem baixar, ter algum ritmo e ajudar os mais jovens. Isto faz bem à sua própria evolução.

Bola na Rede: No Sporting trabalhou nos Sub-23, na B e na equipa principal. Já falaremos nesta última. Gostava primeiro de saber quais são as grandes diferenças entre trabalhar nos Sub-23 e na equipa B.
Tiago Teixeira: Sinceramente, acho que está mais relacionado com a competitividade. No Sporting as idades são muito semelhantes. A diferença é de um ano, talvez. Muitas vezes na equipa B há jogadores mais jovens do que nos Sub-23. Isso aconteceu-nos em alguns casos. Tivemos o Geovany Quenda com 15 ou 16 anos. Na equipa B, durante o nosso primeiro ano, tínhamos muitos jogadores de 17 e 18 anos. Em termos de idade não é muito diferente. Na equipa B também tens jogadores mais experientes e que competem em outro patamar. A Liga 3 é muito mais exigente do que a Liga Revelação.
Bola na Rede: Quando via jogadores a serem promovidos à equipa A, e em alguns casos a afirmarem-se, como é que vivia isso? Por um lado certamente havia orgulho, mas por outro perdia peças fundamentais do seu plantel sem poder fazer nada…
Tiago Teixeira: Sim, mas é um motivo de orgulho. São os nossos meninos que se vão estrear na equipa principal. Eu acho que todos sabem, quem trabalha na B e nos Sub-23, o objetivo principal é formar jogadores para a equipa que está num patamar superior. Dá mesmo muito orgulho. Tivemos esse privilégio sempre que era chamado um jogador à equipa principal, até para as convocatórias. Tentávamos ir aos jogos para estarmos presentes nesse momento. Era um motivo de orgulho para nós e eles ficavam contentes com a nossa presença.
Bola na Rede: Em 2024 foi a sua vez de ser chamado à equipa principal, com a restante equipa técnica da equipa B. Sentiu que estavam prontos para esse salto?
Tiago Teixeira: Sentimos que estávamos preparados. As coisas não correram bem, os resultados não correram bem. Em termos de jogo, em termos de do que nós víamos nos jogos, acho que estivemos bem. Os resultados não foram os melhores, mas isso pode acontecer a qualquer treinador. Temos que estar preparados para se não correr bem, que as direções, neste caso o presidente, possam ter que tomar uma decisão que nos afete. O futebol vive disto. Os treinadores estão sempre a prazo, não dá para mudar 20 jogadores e é mais fácil mudar a equipa técnica. Na altura não sentimos nada da parte dos jogadores. Eles estavam completamente focados. Às vezes a bola bate e entra e outras vezes sai. É assim o futebol.
«Acredito que podíamos ter sido campeões pelo Sporting. Sabemos que o futebol muda de um dia para o outro. Às vezes basta um resultado para as coisas mudarem».
Bola na Rede: O Sporting acabou por ser campeão pela mão do Rui Borges. Acha que a equipa técnica liderada por João Pereira é tratada com alguma injustiça? Dá ideia de que são colocados, de certa forma, num segundo nível, atrás de Ruben Amorim e Rui Borges?
Tiago Teixeira: Não sei. Eu pelo menos não ligo muito a isso. O mister Rui Borges e a sua equipa técnica conseguiram conquistar o campeonato com todo o mérito. Foram vários os campeões nacionais. Foi o mister Rui Borges, o Amorim, fomos nós, foram todas as equipas técnicas. Cada um teve a sua parte de importância durante o processo, a bem ou a mal. No final, tudo influenciou para que o Sporting pudesse ser campeão.
Bola na Rede: Olhando um pouco para trás, se vos tivessem dado mais algumas semanas, acredita que poderiam inverter os resultados, tendo em conta que na sua visão as exibições eram satisfatórias? Acredita que o Sporting seria campeão pelas mãos do João Pereira?
Tiago Teixeira: Acredito que sim. Sabemos que o futebol muda de um dia para o outro. Às vezes basta um resultado para as coisas mudarem. Às vezes os jogadores precisam de confiança para marcar, para fazerem o melhor jogo da época. As coisas podem mudar de um dia para o outro. Acredito que podíamos ter continuado e chegar ao sucesso.

Bola na Rede: Nesta fase não sentiu saudades de se treinador principal? Dada a falta de habilitações do João Pereira, estava em pé, conversava com os jornalistas…
Tiago Teixeira: Não. Eu e os restantes elementos da equipa técnica tínhamos perfeitamente a noção de quais eram as nossas funções dentro da mesma. Só quando saímos é que temos um bocadinho para pensar e para refletir. Avaliámos tudo também. Depois de terminar essa experiência é que pensei que era a altura ideal para regressar ao posto de treinador principal e ter uma nova experiência nesse cargo.
Bola na Rede: Para fecharmos o tema Sporting, gostava de falar sobre um jogador dos leões. O Tiago Teixeira elogiou em várias ocasiões o Geovany Quenda. Acredita que o jogador está pronto para sair para a Premier League e assumir-se no Chelsea?
Tiago Teixeira: Acredito que sim. É um jogador extremamente talentoso que está a passar por uma nova fase. Entrou agora na idade adulta, não foi fácil para ele crescer tão depressa. Foi praticamente obrigado a crescer e colocado num patamar com muita exigência. Não é nada fácil lidar com isso. Não foi só ele, todas as pessoas que o rodeiam também estão relacionadas com isto. Têm-no apoiado, tal como a estrutura do Sporting. O Quenda esteve muito bem nos últimos jogos, este muito bem na seleção Sub-21. Não tenho qualquer dúvida que ele vai ter muito sucesso, seja no Sporting ou no Chelsea.
Bola na Rede: No último verão aceitou a proposta do Al Wasl, para orientar os Sub-23. Trabalha com o Luís Castro ao nível diário. O que é que o fez aceitar ir para os Emirados novamente?
Tiago Teixeira: Durante este período em que estive sem treinar, desde janeiro até ao final da época, tive algumas abordagens, mas nada em concreto. No final deste período surgiu esta possibilidade de regressar aos Emirados, mas não inicialmente para o Al Wasl, mas sim ao Hatta, onde já tinha estado. Já tinha recebido três convites para regressar. Na altura olhei com bons olhos para o regresso. Conversei com os responsáveis e aceitei a proposta, estava mesmo tudo preparado para que eu voltasse. Entretanto recebi esta proposta para entrar no Al Wasl. É um clube com uma dimensão incrível aqui nos Emirados e era uma excelente oportunidade para mim, ainda para mais estando perto de um treinador como o mister Luís Castro, com quem posso aprender muito, posso ter uma relação mais próxima e isto é mesmo muito importante quando existe uma equipa A e uma equipa secundária. Tem de se tentar conciliar tudo, subidas e descidas de treinadores, gerir as cargas de treino… foi uma excelente oportunidade e aceitei.

Bola na Rede: Como têm corrido estas primeiras semanas do seu novo trabalho?
Tiago Teixeira: Acho que têm corrido muito bem. Temos 11 semanas de trabalho. No começo até tivemos muitos jogadores, uma fase em que estávamos focados na seleção de jogadores. Inicialmente o recrutamento não foi fácil. Existiam muitos jogadores com contrato e a equipa de Sub-21, que também existe no clube, ainda não tinham arrancado os trabalhos e esses jogadores juntaram-se a nós. Semana após semana fomos conseguindo equilibrar o plantel. Acho que fizemos uma excelente pré-temporada. O primeiro jogo não correu muito bem, ainda não tínhamos os jogadores que tínhamos contratado, não estavam inscritos para o primeiro encontro. Também não contámos com alguns da equipa principal. Os dois jogos seguintes foram muito melhores. Correram bem. Tivemos uma excelente vitória contra o Al Ain, no estádio deles. Os jogadores sabem que são apenas três pontos e temos uma grande caminhada pela frente, sabendo que o objetivo principal é preparar jogadores para estarem na equipa principal. Já conseguimos atingir esse objetivo. Um dos nossos jogadores já teve minutos na equipa principal. É um motivo de orgulho e queremos conseguir colocar mais jogadores na equipa principal, cada vez mais jovens.
Bola na Rede: Ia questioná-lo sobre os objetivos e já me ultrapassou. Olhando de outra maneira, não existe nenhum objetivo de pontos ou de classificação?
Tiago Teixeira: Não existe, mas queremos tentar ganhar todos os jogos. Um clube desta dimensão tem que lutar para ganhar todos os jogos. Queremos incutir essa mentalidade nos jogadores. Porém, o objetivo é prepará-los para estarem prontos para serem chamados na equipa principal e darem o seu melhor contributo, apresentando rendimento.
Bola na Rede: Em outras ocasiões admitiu que gostava de voltar a trabalhar na Primeira ou na Segunda Ligas. Achou inclusivamente que não fazia sentido regressar ao Sporting B, porque estavam na Liga 3. Não contou com convites de Portugal antes de assinar com o Al Wasl?
Tiago Teixeira: Sinceramente não recebi nada de Portugal, nem sequer abordagens. Tive algumas abordagens no estrangeiro, uma possibilidade na Arábia outra no leste europeu. Também tive mais abordagens aqui dos Emirados. Portugal não recebi nada, nem da Liga 3. Claro que gostaria um dia de voltar, mas neste momento estou muito satisfeito com este projeto. Foi o ideal para voltar ao contexto de treinador principal.

Bola na Rede: Para começarmos a fechar, tenho aqui umas perguntas relacionadas com o futebol português e relativamente rápidas de responder. Gostava que me desse a sua opinião sobre certos temas. Para si, qual é a equipa que está mais preparada para ser campeã?
Tiago Teixeira: Ui (risos). Fazendo uma análise assim muito geral, acho que o Sporting será sempre o principal candidato. É bicampeão nacional, tem um onze base que tem vários jogadores que jogam juntos há cinco/seis anos. Isso é mesmo muito importante e pode fazer a diferença. O presidente Frederico Varandas tem feito um excelente trabalho nesse aspeto, mantendo a estrutura, mantendo os principais jogadores e isso é extremamente importante. O FC Porto foi o clube que contratou melhor, na minha opinião. Fechou com os jogadores certos para as posições certas. Dentro do modelo de jogo do Farioli são jogadores que encaixam na perfeição. Fizeram mesmo excelentes contratações. O Benfica é sempre um candidato. Acabou por fazer um grande investimento esta época. Com o Bruno Lage não apresentaram um trabalho tão atrativo, digamos assim. A capacidade ofensiva talvez não seja a melhor. Não sofreram muitos golos, mas ofensivamente não conseguiu demonstrar o seu potencial, poderiam ser mais dominadores. Acredito que será uma luta a três até ao fim.
Bola na Rede: O Tiago Teixeira trabalhou com o Viktor Gyokeres. Acredita que Luis Suárez e Fotis Ioannidis vão fazer esquecer o sueco?
Tiago Teixeira: Será uma missão bastante difícil. Os números que o Viktor deixou em Portugal são muito difíceis de igualar. O Suárez e o Ioannidis são excelentes jogadores, mas muito dificilmente chegarão aos números do Gyokeres. Vamos ver.
«José Mourinho é, para mim, a maior referência enquanto treinador e, sem qualquer dúvida, a sua chegada representa uma contratação de enorme valor para o Benfica».
Bola na Rede: Como olhou para a chegada de José Mourinho ao Benfica?
Tiago Teixeira: Conheço o Mister José Mourinho há muitos anos e tive o privilégio de acompanhar de perto o seu percurso como treinador, colaborando com ele em algumas situações através da elaboração de relatórios. É, para mim, a maior referência enquanto treinador e, sem qualquer dúvida, a sua chegada representa uma contratação de enorme valor para o Benfica. Será também um motivo de grande orgulho para o nosso país contar com o treinador português mais titulado, tanto na Liga dos Campeões como nas principais competições nacionais.
Bola na Rede: Para fecharmos, o Tiago Teixeira trabalhou em vários escalões de formação. Quem acha que pode ser a revelação desta temporada?
Tiago Teixeira: Eu tenho visto mais as seleções. A seleção A é das melhores seleções que já tivemos até hoje. É delicioso ver a seleção jogar, contam com jogadores fantásticos. Nos Sub-21 também temos craques. Eu ia colocar o Rodrigo Mora e o Geovany Quenda, para mim são dois jogadores incríveis, fora de série. O futebol é uma questão de oportunidade, não seis e vão ter oportunidades para serem as revelações do campeonato. Porém, para mim são dois jogadores incríveis que estão nos dois melhores clubes portugueses. Já entre os treinadores, escolho o Vasco Botelho da Costa, técnico do Moreirense. Começou bem, talvez seja a revelação. É um treinador jovem, com ideais que eu me identifico. Acredito que possa ser a revelação da Primeira Liga.
Bola na Rede: Muito obrigado por esta entrevista.
Tiago Teixeira: O gosto foi todo meu.