Desde que começou o novo ciclo em Stamford Bridge, o Chelsea tem sido protagonista não apenas pelos nomes que chegam, mas também pelas dores de cabeça, dentro e fora do campo, que acompanham um plantel praticamente reconstruído.
A época 2025/26 promete muito, mas também exige reflexão: como transformar tanta movimentação em sucesso sustentável e felicidade no clube?
No verão de 2025, o Chelsea gastou cerca de 355 milhões de euros e recebeu aproximadamente 353 milhões de euros em vendas. O saldo foi praticamente neutro, mas o volume é gigantesco.

Houve a chegada de alguns nomes que prometem impacto imediato ou futuro: João Pedro (ex-Brighton), Jamie Bynoe-Gittens (Borussia Dortmund), Alejandro Garnacho (Manchester United), Jorrel Hato (Ajax), Liam Delap (Ipswich), Estevão Willian (Palmeiras), entre outros jovens talentos como Dário Essugo e Kendry Paez.
O plantel atual, depois de um trabalho de “limpeza” por parte de Enzo Maresca para reduzir jogadores que estavam a mais, está fixado em cerca de 25 jogadores para a equipa principal, embora a lista oficial mais alargada chegue aos 42/43 jogadores quando se contam todos os seniores registados.
Na época passada, apesar do regresso à Liga dos Campeões, a equipa teve dificuldades, principalmente no ataque, que produziu menos golos do que o esperado face ao número de ocasiões criadas, e o número de jogos sem sofrer golos ficou aquém das expectativas.
Estatísticas recentes mostram um Chelsea com posse de bola média superior a 61%, o que se tem traduzido em oportunidades razoáveis, mas ainda com problemas na finalização.
Há ainda lesões de jogadores importantes, como Cole Palmer, o que prova que a profundidade do plantel será constantemente testada.
Contratar muito não significa resolver muito. E o Chelsea tem enfrentado alguns obstáculos claros. Os jogadores novos demoram a adaptar-se ao estilo de jogo, à Premier League e à pressão mediática e o excesso de jogadores gera competição saudável, mas também frustrações e dificuldade em gerir minutos.

Em termos de equipa técnica, o treinador, atualmente na figura emblemática de Enzo Maresca, precisa de tempo para colocar as suas ideias e encontrar duplas e setores que funcionem.
Só que no futebol, assim como noutros desportos, nem todos os reforços rendem de imediato, o que implica paciência e risco financeiro.
E depois surge o problema maior. Com tanto investimento, as expectativas são automáticas: vencer já.
Enzo Maresca aposta num Chelsea com posse de bola, pressão alta e transições rápidas. Os números confirmam evolução. No entanto, ainda precisa de manter a consistência nos momentos decisivos, principalmente defensivos, e acelerar a adaptação dos novos jogadores ao modelo que utiliza. É aqui que o atual projeto do Chelsea precisa de aprender com o passado recente.
Sob a liderança de Abramovich, a filosofia era simples: contratar estrelas e mudar de treinador sempre que o rendimento caía, o que trouxe títulos, mas pouca estabilidade.

Já na era Tuchel, houve identidade, culminando na conquista da Liga dos Campeões de 2021, mas a instabilidade diretiva e o choque de ideias acabaram por ditar o fim precoce.
Com Potter e Pochettino, o problema foi outro: excesso de jogadores sem uma linha clara de recrutamento, que dificultou a criação de uma base sólida.
O projeto de Maresca distingue-se por duas coisas: procura dar continuidade tática (posse e organização com bola) e tenta alinhar a estratégia de mercado com uma ideia de futebol, em vez de apenas acumular nomes. O sucesso dependerá de manter esta coerência, sem repetir os erros de “reset” constantes que marcaram a última década.
Para que o projeto Chelsea se torne realmente feliz, há três pontos-chave que devem estar na mesa de negociações. O primeiro, e talvez o mais difícil, é resistir à tentação de mudar tudo ao primeiro tropeço. O segundo, que exige dedicação e tempo, é saber gerir expectativas, egos e tempo de jogo, que é tão importante como o talento. E por último, mas não menos importante, fazer menos contratações, mas mais cirúrgicas.
Com estabilidade, paciência e coerência, o Chelsea pode transformar esta torrente de contratações num projeto sustentável e competitivo.
A felicidade, em futebol, é muitas vezes efémera. Mas a felicidade duradoura exige mais do que milhões: exige método, clareza e cultura.