Caso Lamine Yamal | O conflito entre o Barcelona e a Federação Espanhola

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Lamine Yamal costuma ser notícia por vários motivos, desde a sua vida pessoal, à sua vida amorosa, a atitudes que muitos consideram pouco humildes (as quais eu não vejo de essa forma), mas eu prefiro cingir a minha análise às suas constantes diabruras em campo, e ao seu drible estonteante. 

O jovem prodígio espanhol de apenas 18 anos tem tido uma ascensão meteórica na sua curta carreira, e prova disso é que se estreou pela seleção espanhola com apenas 16 anos e 57 dias (!) em 2023, coroando esse momento com um golo.

Em menos de três anos de carreira, Lamine Yamal já foi campeão espanhol por duas vezes ao serviço do Barcelona, já ganhou uma Taça do Rei e esteve a centímetros de marcar presença na final de uma Champions League. 

Naquela noite em Milão contra o Inter, Lamine viu frustrada essa ambição e desejo de marcar presença na final mais importante das competições entre clubes. Um remate excessivamente colocado, e que acabou por embater caprichosamente no poste, impedindo a equipa catalã de marcar o quarto golo, que decantaria completamente a eliminatória a favor do Barcelona, e garantiria a passagem para a final sonhada pela generalidade dos adeptos neutros do futebol entre Barcelona e PSG.

Pela seleção, Lamine Yamal foi campeão europeu sendo titularíssimo pouco depois de completar 17 anos, já marcou presença numa final da Liga das Nações (perdendo apenas nas grandes penalidades contra Portugal), e busca agora conseguir ganhar um Mundial com apenas 18 anos.

Esta breve introdução foi feita com o intuito de reforçar a dimensão que Lamine Yamal adquiriu de uma forma repentina, quer no seu clube, quer na sua seleção. Um processo de crescimento e maturidade acelerados e que tem de ser assimilado bem antes do tempo para um jovem adolescente. 

Esta pubalgia que Lamine vem arrastando desde o início da época, gerou um conflito aberto entre Barcelona e Federação Espanhola de Futebol, e este deve ser sanado o quanto antes, principalmente para o bem do próprio jogador.

Toda esta polémica estalou entre ambas as partes porque supostamente Lamine Yamal terá agravado a sua lesão com a sua excessiva utilização nos primeiros jogos de qualificação em Setembro para o Mundial, contra a Bulgária e a Turquia, no qual a Espanha ganhou confortavelmente, e de onde o próprio Lamine Yamal saiu insatisfeito e contrariado com a sua exibição e substituição, porque num jogo de alto nível da sua seleção (ganhou por 6-0 na Turquia), não tinha conseguido marcar o seu golo.

Essa suposição foi levantada por um indignado Flick que depois de se confirmar que Lamine iria falhar alguns jogos pelo Barcelona por ter vindo lesionado da seleção, alçou a voz e afirmou de uma forma indirecta que o seleccionador Luis de la Fuente não cuidava devidamente dos jogadores.

De lá para cá, o Barcelona foi conseguindo ganhar os seus jogos na ausência de Lamine com maior ou menor dificuldade, sendo que Lamine regressou no jogo contra a Real Sociedad, jogando apenas meia-hora para o preparar para o jogo com o PSG, disputado na passada semana. Nesse jogo contra a equipa basca, Lamine Yamal precisou de apenas um minuto em campo para deixar sentado um adversário e fazer a assistência para o golo da vitória do ponta de lança polaco Robert Lewandowski.

Mas contra o PSG, Lamine ressentiu-se da lesão e apesar de uma primeira meia-hora entusiasmante e endiabrada em que pudemos ver todo o seu infindável repertório de fintas, trivelas e roletas, na segunda parte foi apenas uma sombra daquilo que pode e sabe fazer. 

Acabou o jogo (que o Barcelona perdeu com um golo de Gonçalo Ramos já nos descontos da sua partida) de mão agarrada à cintura, pressagiando que não estava bem fisicamente, e apesar de Nuno Mendes ter assinado uma exibição extraordinária, a súbita queda de rendimento de Lamine num curto espaço de tempo durante o jogo, não podia ser apenas justificada com o fato de ter enfrentado o melhor defesa esquerdo do mundo da actualidade.

Lamine Yamal Barcelona
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Na semana passada, todos esperavam com expetativa pela conferência de imprensa do selecionador espanhol Luis de la Fuente. Anteriormente a essa conferência de imprensa, já corriam os rumores de que Lamine iria ter de voltar a parar.

Um autêntico “diz que disse” foi o que se viveu nos dias que antecederam a convocatória. A informação por parte da Federação Espanhola de Futebol e da respetiva equipa médica afirmando que não houve nenhuma infiltração, e que foi apenas administrado um anti-inflamatório (prática recorrente no futebol) porque o jogador tinha apresentado um desconforto na zona lombar, contrasta com a do Barcelona, que afirma peremptoriamente que o seu jogador foi infiltrado e a sua condição física menosprezada na última paragem de seleções.

O Barcelona não esperava que Luis de La Fuente fosse convocar Lamine Yamal para estes jogos contra Geórgia e Bulgária, e quando a convocatória foi anunciada, poucas horas depois, o Barcelona lançou um comunicado oficial informando que Lamine Yamal tinha recaído da sua lesão e que o seu período de paragem podia ser de quase três semanas, colocando em sério risco a sua participação no clássico contra o Real Madrid, que se disputará no final deste mês. E todos sabemos como é de capital importância esse jogo para o Barcelona, dada a grande rivalidade que existe entre os clubes.

Muitos poderão pensar que o clube catalão só lançou esse comunicado porque Lamine Yamal havia sido convocado para jogar pela seleção espanhola, e provavelmente essa é a realidade. Mas o que também é verdade e deve prevalecer acima de qualquer coisa, é o bem-estar do jogador e é conveniente que haja uma relação de cooperação e absoluta confiança entre um clube e uma seleção nacional.

Luis de la Fuente é partidário da máxima “Se joga pelo clube, joga pela seleção”. E eu não discordo dessa sua visão, contudo esta está alheada da realidade neste futebol actual que é cada vez mais um negócio. O jogador é propriedade do clube, que por sua vez cede o atleta à sua seleção, mas sempre priorizando que este não contraia nenhuma lesão quando se ausenta para esses compromissos de seleções, e que se tiver que se forçar o jogador, ou fazê-lo regressar antes do tempo, essa decisão só compete ao clube.

Eu não posso discordar desta postura do Barcelona, porque é o clube espanhol que paga um salário milionário a Lamine Yamal, num momento de grande turbilhão institucional e de uma grave crise financeira do clube blaugrana. O clube já provou que pode ganhar jogos sem a presença da sua maior estrela, mas para isso, necessita que os atores secundários dêm um passo em frente, e não foi isso que se verificou no último fim de semana, onde o Barcelona foi vergado a uma derrota humilhante em Sevilha por 4-1.

Lamine Yamal no Euro 2024 Espanha
Fonte: Filipe Oliveira/Bola na Rede

Sim, Hansi Flick foi selecionador alemão, e poderia ter demonstrado mais empatia e compreensão com o seleccionador espanhol, evitando com isso toda esta celeuma em volta da lesão de Lamine. É verdade que as suas declarações causaram um tumulto no seio do futebol espanhol, e não só da seleção espanhola. Mas eu também compreendo a posição do técnico alemão, porque neste momento é o Barcelona que lhe paga, e são os interesses da sua entidade patronal que ele deve defender incondicionalmente.

No meio deste terremoto e desta luta de egos entre Barcelona e Federação Espanhola de Futebol, todos os intervenientes desta polémica desnecessária, estão a desviar o seu foco do essencial: o próprio do Lamine. É ainda muito jovem, tem apenas 18 anos, e não podem ficar à espera que seja o jogador a admitir que não está bem para jogar, porque a esta idade e Lamine Yamal ainda não conhecendo o seu corpo (o que é lógico que assim seja), quer jogar todos os minutos e nunca quer ser substituído. 

Apesar de Lamine ter um futebol anormalmente altruísta para alguém de tão tenra idade, já se exige melhorar no capítulo da finalização e ir aumentando o seu pecúlio de golos, além de assistir os seus colegas e ter máxima influência no jogo (quer do Barcelona, quer da seleção). E Lamine sabe que o fator golo é extremamente valorizado, e estará mais perto da sonhada Bola de Ouro, se conseguir marcar mais golos e ser ainda mais decisivo do que já é. 

Também não é correcto que se revelem conversas privadas entre o jogador e o seleccionador, essas conversações deveriam ficar sempre na esfera privada, caso contrário, a relação deteriora-se, a confiança quebra-se e isso a longo prazo, pode ter um reflexo em campo e no consequente rendimento do jogador.

Têm de ser os treinadores (Hansi Flick e Luis de la Fuente), a fazer uma gestão cuidada e meticulosa do seu melhor jogador. Flick também fez regressar Lamine antes do tempo para poder disputar um jogo de fase de grupos da Champions League contra o PSG, ou seja, ele também tem quota parte de responsabilidade de que Lamine esteja novamente no estaleiro.

Por isso, é essencial que as boas relações entre as partes sejam retomadas o mais depressa possível, pois estão a colocar um miúdo de 18 anos numa posição extremamente incómoda e complexa. Da mesma forma que Lamine Yamal quer continuar a dar o seu contributo e a ser diferencial no Barcelona, também o quer fazer na sua seleção, o que ainda ganha uma maior relevância em ano de Mundial, que é provavelmente o maior objetivo desta época do jovem espanhol.

Uma pubalgia é uma lesão bastante imprevisível, e que requer paciência e nada de precipitações. Já correm uns zunzuns de que voltará no jogo contra o Girona depois da paragem de seleções, o que me parece um erro descomunal. Voltar antes do tempo, pode contribuir para o agravamento de uma lesão e uma paragem competitiva mais prolongada. E o Barcelona tem tido vários exemplos ultimamente, como foram o caso de Pedri, Samuel Umtiti e Ansu Fati

Em todos os casos, o departamento médico do Barcelona fez regressar estes jogadores antes do tempo, e se no caso do Pedri, o seu trabalho físico assente num respetivo fortalecimento muscular conseguiu sanar as constantes lesões que tinha há uns anos atrás, já Umtiti teve que encerrar prematuramente a sua carreira, por sucessivas lesões e operações no joelho, o mesmo podendo ter acontecido com Ansu Fati, um jogador de quem se esperava vir a ser a nova coqueluche do clube blaugrana, e que viu o seu progresso interrompido (veremos se definitivamente, uma vez que é neste momento o melhor marcador da liga francesa, e tem apenas 22 anos) igualmente pelo mesmo motivo do defesa-central francês.

Uma época desportiva não é um sprint, é uma maratona. E tanto o Barcelona como a sua seleção nacional devem ser preventivos, em vez de reativos. Se neste momento, Lamine Yamal necessita de mais tempo para recuperar de uma pubalgia, pois que assim seja.  

E apesar de ter um conhecimento do jogo absolutamente fora do normal para alguém da sua idade, não deixa de ser um jogador de apenas 18 anos, que ainda está em pleno processo de maturação futebolística, num corpo que ainda está em formação e em desenvolvimento da sua musculatura óssea. 

Lamine Yamal na Final do Euro 2024 por Espanha
Fonte: Filipe Oliveira/Bola na Rede

O futebol necessita de jogadores com este nível de descaramento e que sejam igualmente um pouco anárquicos taticamente. Muitos dizem que Lamine não defende, que não tem nenhum compromisso defensivo, mas custa-me pensar em génios do futebol que tivessem um jogo defensivo sublime. 

Aos artistas, pede-se acima de tudo que sejam decisivos nos momentos-chave do jogo, e que tenham discernimento para tomar as melhores decisões em prol da equipa. Sempre que nos vemos privados do talento de Lamine Yamal, perdem todos os que amam o futebol.

É urgente que se alinhem ideias e posições entre o Barcelona e a Federação Espanhola de Futebol, para que este conflito não tome maiores proporções. 

Tiago Campos
Tiago Campos
O Tiago Campos tem um mestrado em Comunicação Estratégica mas sempre foi um grande apaixonado pelo jornalismo desportivo, estando a perseguir agora esse sonho. Fã acérrimo do "Joga Bonito".

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