Desde já, o Sport Lisboa e Benfica está de parabéns pela histórica participação no ato eleitoral do passado dia 25 de outubro. Ultrapassar o recorde de votação do Barcelona em 2010 e deixar a larga distância os atos eleitorais dos rivais (FC Porto em 2024 e Sporting em 2018) é algo absolutamente notável e demonstrativo da militância e vivacidade do clube encarnado.


Os resultados da primeira ronda eleitoral do clube da Luz foram reveladores. João Noronha Lopes não conseguiu ser o mais votado, nem sequer ficar próximo, perante um Rui Costa surpreendente, que venceu na esmagadora maioria das mesas e contrariou todas as sondagens, terminando a primeira volta com 42%, contra apenas 30% de Noronha.
Embora não se possa dizer que o adversário do atual presidente na segunda volta tenha sido um dos derrotados da noite (afinal, mantém-se na corrida), a verdade é que saiu fragilizado. Em primeiro lugar, porque se esperava um resultado bem mais expressivo, talvez até a vitória. Em segundo, porque nos dias seguintes não conseguiu reunir apoios firmes das restantes candidaturas.
Curiosamente, nenhuma das candidaturas menos votadas manifestou um desejo claro de mudança ao ponto de se alinhar imediatamente com Noronha Lopes. Isso demonstra que o seu projeto não convenceu uma parte significativa dos sócios que queriam mudança (cerca de 14%).


A atitude de João Diogo Manteigas (um dos derrotados da noite) foi particularmente simbólica: manteve uma posição “50/50”, deixando entender que apoiaria Noronha, mas sem demonstrar verdadeira crença no seu projeto. Uma postura franca, mas pouco mobilizadora.
A grande incógnita, contudo, está nos votos dos sócios que apoiaram Luís Filipe Vieira. É aí que poderá residir a chave do resultado final do próximo sábado. Historicamente (eleição 2020) e também pelas críticas recentes à gestão atual, Vieira teve desavenças com ambos os candidatos, o que levanta dúvidas sobre para onde se inclinarão esses votos.
Para vencer, João Noronha Lopes precisa de um verdadeiro bloco (quase milagroso) de votantes, reunindo os cerca de 13% das candidaturas menos votadas (11% de Manteigas e 2% de Martim Mayer e Cristóvão Carvalho) e, pelo menos, 7% do eleitorado de Vieira.


Após um debate pouco convincente, o candidato terá de jogar uma cartada forte nesta última semana de campanha. Uma jogada que não favoreça Rui Costa (como o tema Mourinho), que não esteja gasta (como o regresso de Bernardo Silva), que faça sentido (evitar comparações forçadas com FC Porto e Sporting) e que não se reduza a ruído nas redes sociais.
A Rui Costa, por sua vez, aplicará a mesma lógica em sentido inverso, embora com menor pressão. Contudo, estará de estar mais pronto para abordar dossiers como apoio a Pedro Proença, decisões sobre o projeto desportivo e gestão económica e financeira. Se Noronha não encontrar esse ponto diferenciador e se Rui Costa não cometer nenhum erro grave, muito provavelmente o atual presidente continuará a liderar o clube encarnado por mais quatro anos.

