Vou começar por admitir: o título deste artigo não corresponde 100% à verdade. O Ajax não conquistou a Taça dos Países Baixos na temporada em questão, mas não consegui resistir ao trocadilho fácil com a famosa marca de detergentes. Ainda assim, esta foi sem dúvida a época mais dominante de sempre protagonizada por um clube neerlandês e é assim digna de destaque nesta rubrica.
Uma equipa muito jovem orientada por Louis van Gaal, técnico natural de Amesterdão, conquistou a Europa apesar da sua falta de experiência nos grandes palcos. A irreverência dos vários elementos provenientes do De Toekomst foi um dos principais motores para a campanha fenomenal do Ajax em 95/95.
No 11 tipo figuravam estrelas como Jari Litmanen, Frank De Boer, Edwin van der Sar, Frank Rijkaard ou Edgar Davids e nomes que se tornaram (ainda mais) sonantes uns anos mais tarde como Clarence Seedorf e Patrick Kluivert, com 19 e 18 anos, respetivamente.
Van Gaal pegou nas ideias dos seus compatriotas Rinus Michels e Johan Cruyff e adaptou-as à sua maneira, dando um toque moderno ao chamado “Futebol Total”. O coletivo era prioridade sobre o brilhantismo individual e a bola tinha de correr muito mais que o homem. O posicionamento dos jogadores em campo, ainda que fluído, mantinha um espaço reduzido entre as linhas, visando dificultar a construção ofensiva do adversário.
A formação do Ajax conseguiu interiorizar e aplicar estas ideias de maneira tão eficiente que nenhum emblema neerlandês a conseguiu levar de vencida. A formação de Amesterdão terminou a Eredivisie com 27 vitórias e sete empates, tornando-se o segundo campeão invicto dos Países Baixos (depois do PSV o ter logrado em 1977/78).
Para complementar o título da liga, o Ajax conseguiu ainda arrecadar a Supertaça Neerlandesa no início da temporada, derrotando o Feyenoord por três golos sem resposta no Olímpico de Amesterdão. A Taça, no entanto, escapou para o mesmo Feyenoord, que tinha sido o carrasco do Ajax nos quartos de final após prolongamento.
Como se não bastasse a invencibilidade na liga doméstica, os homens da capital neerlandesa foram também imbatíveis na liga milionária, que culminou com a vitória por 1-0 frente ao campeão em título AC Milan. Na fase de grupos, o clube italiano já tinha provado do veneno do Ajax por duas ocasiões e neste caso não houve mesmo duas sem três.
Sete vitórias e quatro empates foi o registo que permitiu ao Ajax um feito histórico e até hoje inigualável: vencer na mesma época o campeonato nacional e a Champions League sem qualquer derrota. A “orelhuda” de 1994/95 foi a quarta na história do Ajax, que faz com que seja, aos dias de hoje, o sexto emblema com mais troféus.
A época de sonho valeu ainda algumas distinções individuais: van Gaal foi eleito o treinador do ano pela UEFA, Kluivert o talento neerlandês do ano e Litmanen foi o terceiro classificado na votação para a Bola de Ouro.
O estilo de jogo desta equipa tem aspetos quase intemporais como a tentativa de desenhar triângulos imaginários para a criação constante de linhas de passe, a pressão intensa para recuperar rapidamente o esférico e a posse de bola como ferramenta simultaneamente ofensiva e defensiva. Estes princípios foram observados em várias formações mais recentes como, por exemplo, a Espanha de 2008-2012 ou as várias equipas treinadas por Pep Guardiola.
A Champions League de 1995 foi a última conquistado por uma equipa dos Países Baixos. Na final da época seguinte, o mesmo Ajax foi derrotado nas grandes penalidades pela Juventus e, desde então, a melhor prestação foi também obra dos Godenzonen, em 2018/19, com a chegada à meia-final. Nessa ocasião, os homens comandados por Erik Ten Hag sucumbiram (pela extinta regra dos golos fora) perante o Tottenham, que viria a ser o finalista vencido.

