Depois dos Açores, foi a vez das Canárias receberem o Campeonato Europeu de Ralis (ERC). Se nos Açores tivemos a surpresa Bruno Magalhães, nas Canárias o português não foi menos surpreendente e mostrou que está mesmo decidido a ser um nome a ter em conta para o ERC, assim o deixem disputar o campeonato (entenda-se, consiga ter apoios).
Nas Canárias, o vencedor foi o piloto mais espetacular do ERC – Alexey Lukyanuk. O russo tem um nível acima de qualquer outro piloto da competição, quer em velocidade, quer em espetáculo para o público, como tive a sorte de ver no recente Rali dos Açores; mas é também um piloto que tende a cometer excessos, mesmo quando está na liderança, como também vi nos Açores. Uma vitória sem qualquer contestação.
No segundo lugar, ficou o bicampeão europeu, Kajetan Kajetanowicz. O polaco é um piloto rápido e consistente. Kajto é muito mais regular que Lukyanuk, mas também é um pouco mais lento. A luta entre Kajetanowicz e Bruno Magalhães foi intensa e até ao final, mas o polaco levou a melhor.
Magalhães está a surpreender-me, como já tinha dito. Todos sabemos a sua qualidade, mas o muito tempo de ausência a tempo inteiro, o pouco tempo de testes, para não dizer nenhum, não permitem fazer milagres. O Skoda apenas chegou às Canárias no domingo, a equipa esteve toda a noite a trabalhar no carro para que na segunda pudesse testar o carro no asfalto. O facto de ter o melhor R5 ajuda aos bons resultados, mas não é tudo, como é óbvio, principalmente quando o piloto polaco é patrocinado pela M-Sport. A condução nas Canárias foi muito boa, foi pena não ter conseguido bater Kajto e, assim, estar ainda mais seguro na liderança.
Bruno tem qualidades, está a mostrar agora, mas sem os apoios arrisca-se a ficar parado para a próxima prova, algo que só em Portugal poderia acontecer. Ter uma marca exposta na Eurosport, presente em quase todo o mundo durante mais de 10 minutos por fim de semana de corrida só pode ser negativo, pelo menos é o que devem pensar os responsáveis por cá e, como tal, quero agradecer aos dois patrocinadores que o deixaram sonhar até agora. Pena não existir mais ninguém com a coragem para o ajudar. No estado em que as coisas estão, mesmo que consiga ir a todas as provas, dificilmente conseguirá ser campeão, porque não terá maneira de treinar, enquanto os outros dois pilotos, que já falei, passam a vida a fazê-lo. A dupla Bruno Magalhães/Hugo Magalhães merecia mais, muito mais…
Para terminar, queria ainda falar do outro piloto português que segue na liderança do ERC, neste caso o ERC2. Luís Pimentel, ou Licas, como é carinhosamente chamado está a viver um sonho ainda maior do que Bruno Magalhães. O piloto açoriano estava afastado dos ralis desde 2012 e voltou para fazer o Rali dos Açores apenas por divertimento, mas acabou por vencer a categoria em que estava inserido e como tal assumiu a liderança do ERC2. Foi agora às Canárias e apesar de ter tido muitos problemas e ter ficado em quarto, e último, na sua categoria contínua na mesma na liderança e tenta também agora arranjar apoios para participar na próxima ronda, que será na Grécia no início do próximo mês.
Temos, então, dois portugueses na liderança dos campeonatos europeus, mas nenhum a saber se estará à partida do Rali da Grécia, um dos mais míticos ralis mundiais e talvez a prova mais dura do europeu. Faltam apoios para defender a liderança, o que envergonha o país por esta Europa fora, como se pode ver por alguns fóruns da especialidade. Para não falar, claro está, que a imprensa, incluindo desportiva, preferiu dar destaque a dois acidentes mais aparatosos que aos resultados dos portugueses.
Foto de Capa: Bruno Magalhães
Artigo revisto por: Francisca Carvalho