Bruno Lage voltou a falar sobre a atualidade do Benfica. O antigo técnico das águias deixou palavras para o seu sucessor, José Mourinho.
Bruno Lage falou aos jornalistas e comentou vários temas da atualidade, pela segunda vez, desde que saiu do Benfica. O técnico falou da saída e pediu tempo para José Mourinho:
«Não tenho acompanhado tanto como seria normal porque, após a saída, o melhor é afastarmo-nos. Disse que o maior adversário do Benfica seria o fator tempo. Se eu pedia tempo acho que é legítimo pedir tempo para Mourinho treinar. O número de treinos é muito curto. É sentirmos que há um período de tempo que seja materializado em treinos onde o treinador possa ter todos os jogadores e fazer crescer a sua ideia de jogo. O Benfica tem plantel, tem treinador. Precisa de tempo porque o Benfica tem um plantel de enorme qualidade, um treinador que não precisa de apresentações. Tem todas as condições para ainda fazer uma grande época. No ano passado partimos em desvantagem e chegámos ao primeiro lugar. Dos quatro títulos, vencemos dois. Quero agradecer a vossa vinda para fazer uma preleção na faculdade porque é partilhar o que vivemos. Não é vir agora falar se foi precipitada ou não. Aquilo que acho, pela experiência, cada jogo tem a sua história. Enquanto houver a possibilidade de conquistar pontos, tem de acreditar. O exemplo do ano passado vai ao encontro disso. Quando perdemos com o Feyenoord, quando empatámos com o Bolonha… perdemos 5 pontos em casa mas a equipa teve capacidade para ir conquistar seis pontos fora no Mónaco e em Turim. Enquanto houver os pontos suficientes para seguir em frente, a equipa tem de acreditar», afirmou aos jornalistas.
O antigo técnico do Benfica assumiu que não ficou surpreendido com a reeleição de Rui Costa:
«Olhe, perfeitamente normal».
José Mourinho tinha afirmado que os jogadores do Benfica não “mordem o adversário” e Bruno Lage não considerou as palavras como um ataque ao seu trabalho:
«Não é encarar isso como um reparo, até porque à medida que vamos tendo experiência as nossas costas vão ficando mais largas. Tenho as costas largas. Não senti isso como crítica. Os treinadores são diferentes, as ideias são diferentes. A ideia de jogo de Schmidt era diferente da minha, a de Mourinho é diferente da minha. No futuro, e que seja daqui a muitos anos, quando vier outro treinador, a ideia será diferente. O que é importante é criar condições para a equipa ter tempo de treino. Quando chegámos, vimos uma equipa… Schmidt tinha uma ideia de jogo diferente da minha, havia jogadores que passaram a jogar mais vezes connosco, como o Carreras, havia jogadores que jogavam noutras posições. É uma questão de adaptação».
Bruno Lage garantiu também que não se sentiu como um treinador a prazo no Benfica:
«Não senti. Fizemos o mercado que fizemos, construímos um papel competitivo. Não sou ingénuo… sabia muito bem… uma vez mais tive essa infelicidade de entrar com um período de eleições à minha frente… Percebi que num ou outro momento menos positivo ou em que um treinador com enorme prestígio como Mourinho estivesse no mercado, que as coisas podiam acontecer. Ele estava a trabalhar e nós estávamos concentrados em construir um plantel de qualidade. Aquilo que posso dizer é que é um plantel como enorme qualidade. No ano passado passámos por isso, Pavlidis demorou o tempo a render. Há ajustes que têm de ser feitos, claro. Uma delas é um médio ala esquerdo, como vocês sabem, no decorrer da época perdemos o Aktur e o Bruma. Não se esqueçam de que o Bruma perdemos por lesão. É uma posição a rever. Até lá Manu vai regressar, foi um jogador que eu pedi, é um médio que vai ao encontro das minhas ideias. É muito importante que o treinador fale em função das suas ideias, infelizmente não tive oportunidade de o ter. Temos também a recuperação do Bah, que pode ser uma alternativa e pode jogar como defesa esquerdo. Mourinho pode aproveitar o mercado de janeiro para contratar jogadores que vão ao encontro da sua ideia de jogo. Tem um plantel de qualidade e um treinador com experiência».
O antigo técnico do Benfica revelou que também está tudo tratado com Mário Branco:
«Uma coisa é eu ter ideias diferentes… sei onde quer chegar e vou muito direto ao assunto. Estou em paz com Mário Branco. Não concordei, e em momento algum lhe passei a ideia que tinha concordado, com aquela não alteração do jogo. Sentia que a equipa precisava de mais dias. Agora pensar que isso foi tudo um esquema para… Tinha de fazer o meu trabalho e não me compete a mim. O treinador do Benfica tem de viver em função dos resultados. Agora que terminaram as eleições, a direção do Benfica tem de ser forte na proteção do treinador, há um vencedor que para mim não é surpresa. É o momento de lhe dar todas as condições para trabalhar e apresentar resultados».
Bruno Lage garantiu que não saiu magoado com o Benfica:
«Não, não saio magoado. Desejo o melhor para o Benfica, quero muito que este grupo seja campeão. Posso dizer que sentia condições para fazer o trabalho que tinha feito, que tinha um grupo de acordo com o que idealizada. É um facto que perder o Aktur nos últimos dias e não termos tido ninguém para colmatar nos deixou sem uma opção mais válida. Tínhamos o Andreas, que já tinha feito boas exibições, marcou contra o Sporting na Taça da Liga. Marcou ao Bayern Munique, teve momentos muito bons. Não me cabe a mim dizer se o presidente se precipitou, acreditava muito no plantel que construímos e que a época ia ser longa».
O técnico setubalense falou também do processo de saída de Kerem Akturkoglu:
«Tinha começado bem a época, sentia-se muito feliz no Benfica. As minhas decisões foram sempre em função do que era melhor para a equipa, tínhamos de ter um plantel vasto para dar uma boa resposta. Tanto foi a saída do Akturkoglu como a lesão do Bruma que deixa um espaço para uma intervenção de mercado em janeiro».
Bruno Lage apelou ainda à união dos adeptos e falou sobre o dérbi de 5 de dezembro, entre Benfica e Sporting:
«Não posso nem quero comentar as palavras do mister José Mourinho; o que lhe posso dizer é o que acabei de reforçar agora. Acho que neste momento é um momento de paz e união dos benfiquistas, aquilo que aconteceu com o Qarabag e com Casa Pia… o inferno da Luz tem de voltar a ser o inferno da Luz. Os adeptos podem ter uma palavra muito importante. Não lhe sei dizer. É uma boa pergunta. Nunca vou deixar de acreditar. O dérbi é sempre muito importante, quem está atrás precisa desses pontos. É importante, mas não decisivo. Os campeonatos começam quando todos os grandes estão a jogar nas competições europeias. Só assim estão nas mesmas condições. Em agosto, não têm as mesmas condições de uma equipa que está a jogar as eliminatórias. O campeonato começa agora».

