O futebol é injusto. Num encontro em que os jogadores do Benfica fizeram mais do que o suficiente para vencer, a derrota por 1-0 frente ao Bayer Leverkusen é um resultado inglório e que trará consequências sérias no futuro, no que às competições europeias diz respeito.
As águias estiveram melhor, criaram mais oportunidades, com a equipa técnica a lançar de forma inteligente Leandro Barreiro, que se revelou um autêntico avançado móvel. A estrutura montada em 4-2-3-1 transformava-se em 4-2-4 na hora de pressionar, numa clara demonstração de ambição. José Mourinho entrou convicto de que a vitória era possível, e tinha razões para isso, dado o que ocorreu em campo. As bolas à barra de Nicolás Otamendi e Dodi Lukebakio poderiam ter mudado o rumo do jogo.


Mark Flekken assinou uma exibição de alto nível, travando as esperanças de Vangelis Pavlidis em chegar ao golo. O grego esteve particularmente desinspirado — e bem marcado, especialmente por Loïc Badé. Ainda assim, houve aspetos positivos. Nicolás Otamendi e Tomás Araújo formaram uma dupla sólida no centro da defesa, com o português a mostrar mobilidade e qualidade na saída pela direita. Já o argentino voltou a demonstrar liderança e eficácia nas bolas paradas, uma das armas mais perigosas da equipa. O bom desempenho dos dois travou o brilho de Christian Kofane — um dos talentos mais promissores do futebol mundial — e limitou também as incursões de Ernest Poku, que procurava espaço entre a esquerda e o meio.
Richard Ríos voltou a ser um dos melhores em campo. O colombiano tem sido alvo de críticas, mas frente ao Bayer Leverkusen pouco lhe pode ser apontado. Esteve bem posicionado e impressionou com vários passes longos, especialmente para Dodi Lukebakio, que tentou desequilibrar pela direita, mas encontrou dificuldades perante os regressados Alejandro Grimaldo e Edmond Tapsoba. Leandro Barreiro confirmou-se como aposta ganha, mas Georgiy Sudakov perdeu influência, ‘ostracizado’ para a esquerda — zona onde a equipa precisa de um agitador como Gianluca Prestianni, capaz de ultrapassar o lateral em 1×1 com naturalidade.
Outro motivo para sorrir foi o regresso de Amar Dedic. Apesar de ter jogado poucos minutos, o seu regresso é sinal de que está próximo de recuperar o lugar de titular. Contudo, esse retorno complica o puzzle de José Mourinho: Dedic e Lukebakio não se complementam na perfeição, e o técnico terá de encontrar uma forma de os manter em campo sem desequilibrar a equipa. Com o bósnio na lateral, onde encaixa Fredrik Aursnes? O norueguês continua a ser um dos indiscutíveis, voltou a cumprir em tudo o que fez e não deve ser penalizado por ser o habitual ‘deambulador’ de posições. Não se exclui a hipótese de atuar nas costas de Pavlidis, pelo centro ou pela esquerda — um cenário a analisar pela equipa técnica.


O golo de Patrik Schick nasceu de um erro de Samuel Dahl — que parece não ter um substituto à altura, pelo menos na perspetiva de José Mourinho, já que Rafael Obrador ainda não somou minutos sob o comando do setubalense. O resultado não reflete o que aconteceu em campo. Ainda assim, o Benfica complicou a sua vida na Champions League. Mérito para Kasper Hjulmand, que saiu da Luz com três pontos, leu bem o jogo e fez as substituições certas. O plantel do Bayer Leverkusen mostrou profundidade e qualidade, e mesmo sem Robert Andrich, o treinador encontrou em Ibrahim Maza o substituto ideal, ao lado do sempre fiável Aleix García.
Por muito que José Mourinho considere que nove ou dez pontos possam garantir o playoff da Champions League, um clube como o Benfica tem de ambicionar mais. Seria irrealista sonhar com a passagem direta no início da época? Talvez. Mas as águias tinham, no mínimo, a obrigação de estar na parte superior da tabela — entre os 15 primeiros — para garantir um adversário mais acessível no playoff. Com nove ou dez pontos, é quase certo que o Benfica enfrentará um “tubarão” e, a partir de fevereiro, estará novamente focado apenas nas competições internas.


O calendário das águias não oferece facilidades. Há 12 pontos em disputa frente a quatro adversários de peso — Ajax, Nápoles, Juventus e Real Madrid, por esta ordem —, todos com experiência europeia e longe de serem figurantes. Os neerlandeses, tal como os lisboetas, precisam de pontos e jogar na Johan Cruyff Arena nunca foi tarefa fácil. Quando as equipas lutam por sobrevivência, todas dão tudo o que têm.
A grande esperança de Mourinho são os duelos com as equipas italianas, igualmente envolvidas na luta pelo playoff. O Nápoles ocupa o último posto de acesso, com quatro pontos. Antonio Conte, conhecido por dificuldades nas segundas épocas, não desistirá facilmente da Champions League. Já a Juventus, que recentemente bateu o Sporting, mostrou ser um adversário de peso, mesmo numa fase em que Luciano Spalletti ainda procura consolidar ideias.
Caso o Benfica não some pelo menos sete pontos nos próximos três jogos, o duelo com o Real Madrid servirá apenas para cumprir calendário — talvez até para dar minutos a Rafael Obrador. Os encarnados não podem repetir os erros recentes: perder pontos em jogos que podiam vencer. Da derrota frente ao Bayer Leverkusen ficam boas indicações: oportunidades criadas, dinâmicas em funcionamento, individualidades em destaque, mas no futebol o que conta é o resultado. E com este 0-1, nenhum benfiquista saiu satisfeito da Luz. José Mourinho terá de pegar na calculadora, algo a que não está habituado na sua longa carreira. Possivelmente, ninguém na estrutura esperava estar nesta posição tão cedo, mas a realidade é clara: o panorama europeu do Benfica é sombrio e o horizonte continua sem vestígios de céu azul.



