Cristiano Piccini abriu o livro sobre os problemas de saúde mental que passou ao longo da carreira. Jogou uma época no Sporting.
Cristiano Piccini deu uma longa entrevista à Gazzetta dello Sport, onde falou abertamente sobre os problemas de saúde mental (inclusive, depressão) que passou ao longo da carreira. Tudo começou quando estava no Real Betis, a primeira experiência fora de Itália.
«Era um criança, uma bebida aqui, um cigarro ali… tudo isso foi parar ao Twitter e fui massacrado porque não era visto como profissional, e com razão. Fisicamente eu era um prodígio, não precisava de comer nem de treinar bem. Nem dormia e treinava duas vezes mais do que os outros, até que chegou o momento de pagar o preço».
«Tive problemas com os adeptos: rompi os ligamentos do joelho quando era um dos melhores laterais da La Liga. Voltei passado seis meses e era arrasado a cada erro. Os adeptos escreviam coisas horríveis sobre no Instagram e no Twitter. (…) Eu lia e sentia-me mal, não entendia o facto de ter rompido os ligamentos do joelho, de ter voltado, ter feito três golos e três assistências e eles continuarem a atacar-me. Com o Leganés, marquei o 2-1 e gritei ‘Calem a boca, seus filhos da p***’. Leram os meus lábios e acabou aí», continuou.
Cristiano Piccini recordou depois mudança para o Sporting, clube onde jogou durante uma temporada em 2017/18 (fez 40 partidas e deu duas assistências):
«Sofri muito, mesmo muito. Bastava entrar no Twitter e tinha o dia estragado. Durante muito tempo, não consegui lidar com isso. Depois, quando assinei pelo Sporting, ainda não tinha chegado a Lisboa e já era um jogador de m****: os adeptos do Betis escreviam isso, os do Sporting liam. Nessa altura disse chega: ia jogar a UEFA Champions League e não podia começar com este veneno na cabeça, gerado por pessoas que não me conheciam. Desliguei tudo e fiz uma grande temporada, o Valência comprou-me a seguir».
Quando estava no Valência, Piccini sofreu uma grave lesão e, de seguida, uma depressão:
«Depressão, erros, dor, desespero. Foi muito difícil. Passei tantos meses sem ser eu mesmo. Super agressivo, irritado com o mundo, ninguém me suportava por causa do nervosismo e da negatividade que eu demonstrava. Andava triste e deprimido, não tenho vergonha de o dizer».
Piccini acabou por ser emprestado à Atalanta e depois vendido ao Estrela Vermelha.
«Estás nas nuvens e, de repente, encontras-te no ponto zero, lançado para uma realidade que já não é a tua, que nunca foi, e que é difícil de assimilar. Muitas situações podem desencadear isto: problemas pessoais, a perda de um familiar, um desgosto amoroso. No meu caso, foi uma lesão. Sinceramente, nem sabia para onde ir. Enfrentei tudo sozinho e houve muitas noites que esperei que a minha esposa fosse dormir para que ela não me visse a chorar inconsolavelmente. Perdi toda a motivação. A única coisa que queria fazer era jogar PlayStation. E quando percebi que estava a perder a minha família, soube que precisava de fazer alguma coisa, recuperar a minha vida», referiu.
«Esqueçam a questão de se ganhar muito dinheiro e todo o resto — casas bonitas, carros bonitos, relógios bonitos. Quando se deixa alguém sozinho com dor, ele fica mal. O clube, assim como faz com o fisioterapeuta quando há uma lesão, deveria ter alguém que possa ajudar a assimilar este processo e depois a superá-lo. ‘Porque é que isto aconteceu comigo? O que é que eu fiz para merecer isto? Agora que estou ótimo, que tenho tudo, até mesmo recém-casado, tenho de estar assim, sozinho, e não sei como lidar com esta situação.’ Não sei o que é certo e o que é errado. Os clubes deveriam ajudar os jogadores a não se sentirem tão sozinhos. Não somos um contrato que pesa quando nos lesionamos, somos um trunfo para o clube», disse ainda.

