Roberto, ex-Benfica: «Perdi o comboio que explodiu na estação seguinte»

Roberto contou uma história em que podia ter tido a vida em risco. O guarda-redes já se retirou e esteve no Benfica em 2010/2011.

Roberto, antigo guarda-redes do Benfica, concedeu uma entrevista ao Relevo, onde reviveu o dia 11 de março de 2004, dia em que podia ter perdido a vida. Para todos os treinos apanhava um comboio à mesma hora, porém, nesse dia, atrasou-se e o comboio, que perdeu, explodiu apenas dois minutos depois.

«Não acredito no destino, mas nesse dia aconteceram coisas invulgares. Eu vivia num bairro em Vicálvaro com os meus pais, o meu pai levantava-se e muitas manhãs tínhamos a mesma hora para sair. Ele ia para o trabalho e eu ia para Alcorcón, para a residência do Atlético Madrid onde estudava, comia lá e depois vinha um autocarro buscar-nos para irmos treinar. Era essa a minha rotina habitual», começou por dizer.

«Não sei porquê, mas nesse dia ele estava atrasado, não sei se se atrasou a vestir-se, a tomar o pequeno-almoço, a lavar os dentes, etc. Disse-lhe para ir agora porque, se não apanhasse o comboio, chegaria cinco minutos atrasado a Alcorcón e não me deixariam entrar na primeira classe. Cheguei a horas, o meu pai deixou-me sair na estação e eu apanhei o voucher. A estação é subterrânea, por isso entra-se pelo fundo e sai-se na plataforma junto aos carris. Quando coloquei o bilhete, ouvi os carris e percebi que tinha perdido o comboio…. Comecei a correr, mas as portas já estavam a fechar. Fiz a típica tentativa de carregar no botão, mas em vão, porque o comboio já tinha arrancado. Esperei pelo próximo, até que todos os passageiros na plataforma ouviram uma explosão gigantesca que, na altura, não compreendemos».

Já estávamos assustados quando nos disseram através do sistema de som público para evacuarmos a estação porque havia um aviso de bomba. É nessa altura que nos ligamos ao que acabou de acontecer. Pouco mais de um minuto depois da explosão, foi-nos dito. Saltei por cima dos carris e do muro da estação, com medo da multidão, e fui a pé para casa. O comboio que acabara de perder tinha acabado de explodir na estação próxima de Vicálvaro, em Santa Eugenia. Foi registada como a explosão mais pequena, com vítimas apenas na carruagem onde explodiu um dos engenhos. Na urbanização dos meus pais há algumas pessoas com ferimentos que as tornaram inválidas ou perderam uma perna», continuou Roberto.

Roberto releva que fez terapia, mas que foi «relativamente fácil de continuar com a vida». Foi questionado sobre que reflexão faz desse dia e disse o seguinte:

«Fiquei com o mote de que não estamos assim tão longe das desgraças, das coisas extraordinárias e negativas. E que, da mesma forma, também não estamos longe de coisas grandes e extraordinárias no sentido positivo. Tal como na nossa cabeça pensámos que algo de tão mau nos pode acontecer, por vezes também nos sentimos demasiado longe das coisas boas que nos podem acontecer, como se elas só pudessem acontecer a outra pessoa. Vamos equiparar a esperança ao medo».

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Diogo Lagos Reis
Diogo Lagos Reishttp://www.bolanarede.pt
Desde pequeno que o desporto lhe corre nas veias. Foi jogador de futsal, futebol e mais tarde tornou-se um dos poucos atletas de Futebol Freestyle, alcançando oficialmente o Top 8 de Portugal. Depois de ter estudado na Universidade Católica e tirado mestrado em Barcelona, o Diogo está a seguir uma carreira na área do jornalismo desportivo, sendo o futebol a sua verdadeira paixão.

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