«Acho uma injustiça que o Paulinho e o Horta não sejam sequer convocados» – Entrevista BnR com Barroso

– Tudo é Braga e o Braga é tudo –

BnR: Como surge a possibilidade de regressar ao Braga?

JB: Estava na Académica e havia a possibilidade de ir para Espanha, para o Oviedo. As condições não eram o que eu achava que deviam ser e eu aceitei o Sporting de Braga, que tinha problemas de balneário na altura e, como tinha sido capitão antes de sair para o Porto, o Manuel Cajuda e o presidente falaram comigo para eu regressar e acertámos tudo a partir daí. As pessoas sempre gostaram de mim aqui em Braga, o que é bom. Não é pela minha linda cara, mas pelo trabalho que fiz ao longo dos anos. O balneário estava com problemas, mas as coisas melhoraram e fizemos um bom trabalho.

BnR: Apesar do amor ao Braga, é nos dois anos em que está no Porto que vence todos os títulos da sua carreira. Ficou com um amargo de boca por nunca ter ganhado nada no Braga ou é ainda mais gratificante para si ser considerado uma lenda do clube mesmo sem essas conquistas?

JB: Entendo perfeitamente os jogadores e os treinadores das equipas que lutam para não descer. É muito mais difícil lutar para não descer do que lutar para ser campeão ou para jogar a Liga Europa. Só jogadores fortes mentalmente conseguem sobreviver àquilo. O Sporting de Braga, há uns anos, tanto podia estar um ano a lutar pela Europa como um ano estava a lutar para não descer. Gostaria imenso de ganhar títulos pelo Sporting de Braga, mas era muito difícil. Campeonato? Ainda hoje é quase impossível ser campeão pelo Sporting de Braga. Espero que o Sporting de Braga o conquiste já este ano, mas não vai ser fácil. Em Portugal, não é fácil. Taça de Portugal? Taça de Portugal podia ser. Estivemos quase. Podíamos ter ido à final, mas não conseguíamos. Taça da Liga? Não havia. Intertoto? Não havia. O Sporting de Braga passou por muitas dificuldades financeiras. Só quem estava lá é que sabe. Felizmente, nunca desceu de divisão. O Vitória de Guimarães desceu à Segunda Liga com uma “equipaça”. Talvez fossem bons jogadores, mas mentalmente, para suportar aquilo, não conseguiram. O Sporting de Braga nunca desceu. A equipa nem sempre jogava bem, mas, o que é certo, é que dava tudo em campo. É o tal amor à camisola. Claro que o dinheiro é importante, mas nunca foi a prioridade para mim. Nunca olhei muito ao dinheiro. Preferia estar num sítio onde me sentisse bem. Era difícil ir para o estrangeiro, porque antigamente, só podiam jogar três jogadores estrangeiros nas equipas. Agora é muito fácil. Um jogador normalíssimo vai para a Roménia, vai para o Chipre, vai para todo o lado, até para a Letónia vão.

Fonte: Facebook de José Barroso

BnR: António Salvador disse que acreditava que o Braga pudesse ser campeão até 2021, ano do centenário. Acredita nisso?

JB: Possível é. Fica bonito dizer que vai ser. Agora, que é muito difícil, é. Não é preciso falar muito. As coisas estão à mostra de toda a gente. As coisas que se passam no futebol português… Não é de agora. Infelizmente, as pessoas não querem mudar. Quando alguém quer mudar alguma coisa vão logo com três ou quatro machados. Infelizmente para o futebol português, vai continuar assim a triste cena. Era bom outras equipas intrometerem-se pelo campeonato. O Sporting de Braga, com certeza, tem esses sonhos. Espero que o consiga.

BnR: Há pouco, referiu que o respeito se conquista com atitudes e atos, não com palavras. Que atitudes e atos foram esses que teve com o Braga?

JB: Nunca gostei de dizer que ia fazer isto ou aquilo, sempre demonstrei em campo. Sou uma pessoa que se mantém sempre no seu canto. Respeitei e respeito toda a gente e toda a gente me respeita. Com muito trabalho, muita dedicação e muita humildade consegui esse respeito das pessoas em geral.

BnR: Qual a maior loucura que fez pelo Braga?

JB: Vestir a camisola do Sporting de Braga sempre foi e será o maior orgulho da minha carreira. Uma das coisas que gostei de fazer foi ajudar a equipa B, quando estava em dificuldades para não descer de divisão. Eu fui lá. Disponibilizei-me para jogar, enquanto a maioria dos jogadores foi de férias. Fui ajudar os miúdos e conseguimos. Se os miúdos descessem de divisão iam dizer que eles não tinham valor. Fiquei muito contente por eles. Em alguns clubes, quando lá ia jogar, até me chamavam nomes e diziam: “O Barroso não pode jogar nesta equipa”. Para mim, o Sporting de Braga não era a equipa A nem a equipa B, o Sporting de Braga era um todo. Defrontava o Vizela, o Fafe ou o Maria da Fonte como defrontava o Milan na Champions com o Porto. Se eu desse o máximo, as pessoas ficavam contentes.

BnR: É importante passar a mística do clube aos mais novos?

JB: O que é a mística? A mística é uma pessoa gostar de um clube, dar o que tem e o que não tem pelo clube, independentemente de as coisas correrem bem ou não. A mística para mim é assim. Gostar do clube, gostar da cidade, gostar dos adeptos, identificar-se com a maneira de ser do clube e das pessoas. Às vezes, perguntam-se se tenho saudades do futebol. Não tenho saudades do futebol, porque dei o máximo ao futebol. Claro que, às vezes, há uma nostalgia. Quando o Sporting de Braga joga mal dá vontade de ir lá para dentro. O que eu não admito, também como treinador, é que o jogador não seja competitivo e não dê o máximo enquanto está a jogar.

 

Francisco Grácio Martins
Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.

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