«Deixa-me triste ver o Benfica a passar por esta situação, em que não se vê a liderança» – Entrevista BnR com Idalécio

    – Hora de voar –

    «Não havendo projetos nem coisas interessantes, decidi emigrar. Foi um grande risco»

    BnR: Tu depois vais para o Louletano e acabas a carreira.

    IR: Vou para o Louletano, faço a época toda, subimos de divisão e depois chega ao final e a direção não conta comigo para ficar. Eu pretendia jogar por mais um ano, tínhamos atingido a Segunda B e queria continuar a jogar. Ali no Algarve fica difícil, e o Farense queria fazer uma equipa para subir da Terceira para a Segunda B, fizeram-me o convite como amadores, para treinar à noite, e, no Farense, os adeptos eram incansáveis, mesmo na distrital. Foi bom reviver todas as memorias que tinha vivido em 1995.

    BnR: Como foi voltar ao São Luís?

    IR: Voltar àquele estádio foi bom, com condições muito inferiores às que eu tinha encontrado antes, mas foi um orgulho representar e fazer parte do projeto que culminou com a subida de divisão. Eu pretendia continuar, também não me convidam para continuar e surge o Quarteirense, e com 37 anos acabo lá. Termino a carreira com quatro subidas, sendo que a mais significativa foi a do Trofense, já que garantiu um lugar na Primeira Liga, mas todas as outras foram muito gratificantes.

    BnR: Belo resumo.

    IR: No Quarteirense termino e fico como coordenador. O treinador tinha-me convidado para ficar mais um ano na terceira divisão para subir para a segunda B, mas depois ligou-me a dizer: “desculpa lá Idalécio, mas afinal não vai dar para ficares”, e depois a direção convidou-me para ficar como coordenador da academia de formação do Quarteirense.

    BnR: Acabaste a carreira aos 37 anos, como vês por exemplo um Pepe na Primeira Liga, ao nível a que está, com a idade com que tu acabaste a carreira? Tempos diferentes, condições diferentes ou apenas depende da fisionomia de cada um?

    IR: São tantos os fatores a juntar a isso… acho que em termos de mentalidade mudou um bocadinho, porque na minha altura, em Portugal, aos 30 anos éramos velhos, enquanto em Inglaterra se via 35/36, e em Itália também. Em Portugal, felizmente essa mentalidade mudou, mas também mudou a mentalidade dos treinadores. Alguns sentiram-se ameaçados pela pessoa que eu era, e quando falo de mim, falo de outros que passaram pelo mesmo que eu na carreira, e o medo dos treinadores era que lhes fôssemos tirar o lugar. Isso agora já não acontece porque é preciso ter a formação, antes não, essa possibilidade podia acontecer num estalar de dedos e dependia de ti, se estavas preparado para a agarrar. Mas acho que os erros de alguns treinadores e presidentes levaram a que muitos não tivessem uma continuidade na sua carreira como treinadores.

    BnR: Tu depois acabas por emigrar para Inglaterra. Porque emigraste e como tem sido a tua experiência?

    IR: Em Portugal, aqui há uns anos, o período era difícil de oportunidades de trabalho, de abrires negócio, de salários. Investias para estares a pagar impostos aos políticos, isso não. Não havendo projetos nem coisas interessantes, decidi emigrar. Foi um grande risco, mas calculado, porque primeiro vim eu, fiquei com o meu cunhado que já estava cá, e tive um sítio para ficar, que era o mais difícil. Então vim à procura de trabalho e depois veio a minha mulher e as minhas filhas, quis que viessem estudar cá e que lhes abrisse outras portas, o que em Portugal não estava a acontecer. Essencialmente procurar alguma estabilidade que não tinha em Portugal.

    BnR: Depois trabalhaste num casino, num restaurante e agora num hotel.

    IR: Agora estou no hotel como Concierge, é uma posição completamente diferente das áreas dos restaurantes. Quando cheguei, andei na rua a distribuir currículos. Passado um mês, arranjei emprego no Casino, e depois estive lá seis meses. Os horários eram noturnos, eu aceitei porque era uma melhor posição, sempre fui uma pessoa de desafios ao longo da minha vida. Muito derivado ao futebol, uma vez estava no autocarro a ir embora e um homem reconheceu-me e dirigiu-se a mim: “você é o Idalécio, que jogava no Braga”. Encontramo-nos várias vezes e ele disse que trabalhava num sítio, que era um café-restaurante, que precisava sempre de staff. Eu fui lá fazer um trial, que é obrigatório, e decidiram que me queriam lá, e que me iam ajudar. Eu disse que não sabia se o nível de inglês seria suficiente, mas que ia dar o meu melhor, e estive lá. Subi várias posições até chegar ao management.

    BnR: Um exemplo para muitos.

    IR: Depois, tu começas a ter a noção que à tua volta há outras oportunidades onde podes crescer mais, então fui para outro restaurante. Estive nesse durante três meses, mas depois surgiu a oportunidade do Novikov, um projeto melhor onde acabei por estar durante quatro anos. Comecei por baixo, temos sempre de começar por uma posição inferior e demonstrar o nosso valor, e foi um projeto onde conheci muitos portugueses, muitos estrangeiros, fiz muitas amizades. Mas tive de mudar, tive de ir à procura de novos desafios diários, noutra profissão, e assim saí da restauração. Estou como Concierge, ou seja, trabalho na receção do hotel, trato de toda a bagagem, recomendar e arranjar bilhetes para espetáculos, continuo a ser um bocadinho um Relações Públicas [diz Idalécio enquanto solta uma gargalhada].

    Fonte: Facebook Idalécio Rosa

    BnR: No restaurante, encontraste muitos jogadores conhecidos. Tens algum episódio caricato?

    IR: O mais caricato foi com o Evra, que, apesar de ser uma pessoa de um trato espetacular, acho que nos foi visitar numa altura em que não devia, ou que não podia. Então fomos tirar uma fotografia juntos, ele aceitou, mas disse: “Vocês não vão publicar essas fotos”. E eu tirei com um colega italiano no telefone dele, e ele ficou com tanto medo daquela conversa que nunca me mandou a fotografia. Não sei se era a brincar a conversa, mas o meu colega nunca me chegou a mandar a foto.

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    Pedro Pinto Diniz
    Pedro Pinto Dinizhttp://www.bolanarede.pt
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