«Se pudesse, tinha evitado sair em litígio com o Benfica» – Entrevista BnR com Hugo Leal

«Adorei os dois anos que joguei no Atlético, no entanto, foram os piores dois anos da história do clube»

Bola na Rede: Voltando agora ao Futebol de clubes, estiveste um ano emprestado ao Alverca, naquele que foi o teu primeiro grande como sénior. O Alverca estava na Segunda Liga, mas tinha um meio-campo de seleção, contigo, com o Maniche e o Deco. Fala-nos um pouco dessa época.

Hugo Leal: Foi um ano extraordinário para a minha evolução. Tinha 17 anos (idade de júnior) e o Benfica entendeu que podia ser desafiante integrar a equipa do Alverca, que, na altura, era satélite do Benfica. Lá, encontrei um grupo de trabalho muito dinâmico, válido e capaz. Fizeram-me crescer muito, ou seja, passei a jogar contra gente adulta, com muita experiência, e que me davam outras coisas que eu não tinha até então, apesar de eu, precocemente, ter integrado grupos mais velhos; mas, naquele momento, eu estava a jogar com regularidade com gente mais malandra, mais matreira e mais manhosa. Tudo isso eram “ferramentas” que ia recolhendo pelo caminho, para conseguir ser um bom “mecânico” e usá-las na minha vida. Por estas razões, foi um momento fantástico. Tínhamos no meio-campo, para além do Deco e do Maniche, o Juba, que era o capitão de equipa e jogava sempre, o Diogo Maria Matos, que depois jogou no Sporting, ou seja, era tudo gente com muita qualidade.

Bola na Rede: Regressas ao Benfica e voltas a sair novamente, por conflitos com a direção. Sem querer entrar em muitos detalhes, podes explicar um pouco do que aconteceu?

Hugo Leal: Eu tinha contrato assinado com o Benfica por oito anos, ou seja, seriam 4+4, porque a legalidade de oito anos não existia. Eu estava no meu terceiro ano, estava a ter um papel mais importante na equipa principal, estava a jogar com regularidade e era um ativo interessante para o Benfica. Quando estávamos a renovar contrato, eu pedi uma melhoria nas condições e aleguei que os outros quatro anos não eram válidos, ainda que eu os tivesse assinado, é certo, mas aleguei que a validade pudesse não ser efetuada e que isso me permitiria uma vantagem negocial, o objetivo era negocial. Isto despoletou um problema muito grande, com insultos públicos e com um desconforto muito grande, porque já não podia ir a lado nenhum que as pessoas me insultavam na rua. Depois, o interesse de outros clubes foi aparecendo, eu era um atleta “apetecível” e usei o facto de não ter condições de trabalho desejáveis para rescindir contrato por justa causa com o Benfica. Basicamente, é isto. Se me perguntares, na carreira, se eu me arrependo de alguma coisa, não me arrependo, porque foi tudo considerado e ponderado, no entanto, se pudesse, tinha evitado sair em litígio com o Benfica, sem dúvida.

Bola na Rede: Chegaste a Madrid, para jogar no Atlético, e tiveste lá duas temporadas. Apesar da equipa ter descido na primeira época que lá estiveste, concordas que foram os teus melhores anos a nível físico e exibicional?

Hugo Leal: Para mim, foram dois anos muito bons. Em Madrid, as pessoas gostavam muito de mim, eu estava a viver a minha primeira experiência no estrangeiro, ou seja, tudo isto foram aprendizagens. Adorei os dois anos que joguei no Atlético, no entanto, repara que foram os piores dois anos da história do clube, muito provavelmente, porque no primeiro ano desce e no segundo não consegue subir e, mesmo assim, consigo dizer-te que fui muito feliz, que gosto do clube e das pessoas. Se há coisa que sempre consegui foi sacar bom proveito de todos os momentos, sejam bons ou maus, vejo sempre como um momento para crescer, portanto Madrid foi muito bom.

Bola na Rede: Depois seguiu-se uma aventura em França, num Paris SG que se queria afirmar em França, que tinha nomes como Ronaldinho, Okocha e Pauleta. Numa altura que tinhas tudo para explodir, começam a surgir as lesões. Sentes que, se não fossem as lesões, podias ter tido um percurso ainda maior e melhor?

Hugo Leal: Poderia ter acontecido, mas, também, se não fossem essas lesões, eu poderia não estar aqui a falar contigo da forma aberta e descontraída que falo, ou seja, é a questão do “se”. A verdade é que não foi uma fase fácil para mim, foram muitas lesões, num clube com muitas exigências, sobretudo para os estrangeiros, um português em França tem mesmo de ser bom para a coisa correr bem. Posto isto, poderia ter sido melhor se não me tivesse lesionado, só porque poderia ter contribuído mais, no entanto, como já disse, foi uma aprendizagem. Lá, vivi o lado “mau” do futebol e isso fez com que optasse por regressar a Portugal depois.

Bola na Rede: Já admitiste que, depois dessas lesões, nunca mais foste o mesmo e que jogavas com dores. No momento em que te lesionaste e que sentiste que não estavas a ter a recuperação pretendida, sentiste que dali em diante a tua carreira poderia sofrer um eventual declínio?

Hugo Leal: Olha, na primeira operação, a recuperação correu lindamente, só que, em três meses e meio já estava a jogar, ou seja, talvez tenha sido muito rápido. O joelho depois nunca teve problemas, foi sim tudo o resto que compensava e daí as dorzinhas, que não tinham solução, não era uma cirurgia que ia resolver. Estava disponível, mas não a 100%. A partir daí, começas a perder um certo gosto pelo futebol, porque o sacrifício é enorme, o gosto que tens em estar dentro de campo mistura-se com as dores e com a sensação de luta constante para estares de pé. Depois, isto começa a criar-te dúvidas e acabei por estar muitos anos no futebol a desfrutar, mas com uma intensidade diferente, em que vais tentando gerir o bom e o mau.

Alexandre Sequeira Ribeiro
Alexandre Sequeira Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
Nascido e criado na ilha Terceira, nascido e criado para o futebol. Desde cedo aprendeu, viveu e vibrou com o desporto rei. Com o futebol e a escrita espero proporcionar um espetáculo fora das quatro linhas para todos aqueles que partilhem o gosto pela bola e pelos seus artistas.

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