«Vivemos um futebol onde se cobram demasiados favores» – Entrevista Bola na Rede com Romeu Ribeiro

    «Bruno Lage foi o treinador que mais me marcou».

    Bola na Rede: Pegando, já agora, no exemplo do Bruno Lage… Por vezes, também os treinadores têm uma transição difícil para as equipas seniores. “Nem todos são para o futebol” e, se calhar, de entre os que são para o futebol, uns são para umas coisas e não para outras. Sentia, no caso do Bruno Lage, que ele tinha capacidade para chegar ao patamar sénior?

    Romeu Ribeiro: Sentia e os meus colegas todos sentiam. Acho que foi a primeira vez na formação em que eu senti isso, “epá, um dia o mister de certeza que vai ter sucesso e vai conseguir chegar a um grande”. Disso não tínhamos dúvidas, porque, para já, sentíamos a paixão dele, que era um apaixonado. Depois, gostava muito de aprender também e nós acabávamos por perceber que nos treinos que ele nos dava – e os treinos dele tinham muita qualidade – captava muito a nossa atenção. Analisávamos contra quem íamos jogar e tudo o que ele dizia acabava por acontecer durante o jogo. Nós também nos apercebíamos que ele percebia daquilo, não é [risos]? Tanto é que eu, no ano em que subi de divisão no FC Penafiel – já nem sei onde o mister estava -, falava muito nele, falava muito nele, falava muito nele e o pessoal não o conhecia. Há uns tempos recebi uma mensagem de um colega a dizer “ah, afinal tinhas razão” e eu disse “pois!” [risos].

    Bola na Rede: E foi o treinador que mais o marcou, entre carreira jovem e carreira sénior?

    Romeu Ribeiro: Ah, sem dúvida, sim, sem dúvida! Posso dizer que sim.

    Bola na Rede: Neste momento, estando sem clube, está nos planos uma primeira experiência internacional?

    Romeu Ribeiro: É assim, surgiram convites para eu ficar em Portugal. Tive o sonho de jogar fora, mas foi ali depois do Académico de Viseu. Senti que poderia dar o salto para fora. Não se proporcionou, também sentia que, para o futebol internacional, a minha posição é um bocado mais específica: uma posição que não faz golos, que não faz assistências, faz ali o trabalho mais sujo que ninguém liga muito, mas que é extremamente importante. Acaba por dificultar um bocado a saída. Na altura, surgiu um convite, mas, financeiramente (é mesmo assim), não compensava. A partir daí, deixou de ser objetivo. Este último ano, surgiram convites para Portugal, para fora nunca surgiu. Decidi recusar porque também decidi que era altura de retribuir à família todo o sacrifício que eles tinha tido ao ter-me longe. O meu filho também nasceu em junho e, pronto, optei por dar uma pausa, se assim podemos dizer. Respondendo diretamente à pergunta, o futebol internacional está, em princípio, está fora de hipótese. Tinha que ser uma proposta mesmo muito boa.

    Bola na Rede: Antes de mais, parabéns pelo nascimento do seu filho. Quando existia esse objetivo internacional, qual seria o campeonato mais “estilo Romeu”?

    Romeu Ribeiro: É uma boa pergunta… Na altura, sempre me via mais no futebol italiano, um futebol muito tático, acho que era muito por aí. Acho que era um futebol a que me iria adaptar bem. Sei que é duro taticamente, mas eu gosto disso. Gosto… não lhe queria chamar rigidez tática, mas gosto.

    Bola na Rede: Já começa a mudar um pouco o futebol italiano…

    Romeu Ribeiro: Muito, muito, e ainda bem. Mas, mesmo assim, acho que há uma riqueza tática e eles ligam muito a isso, acho eu… Também ia ouvindo as declarações do Paulo Fonseca o ano passado e ele falava muito nisso.

    Bola na Rede: O próprio Mourinho acabou por dar lá lições táticas em 2010…

    Romeu Ribeiro: Sim, acho que até isso fez menos bem ao mister José Mourinho, que, a partir daí, tornou-se mais tático um bocado.

    Bola na Rede: Depois da aposentadoria como jogador – espero que não esteja para breve -, vai continuar no mundo do futebol? Como dirigente, já que faltam dirigentes de qualidade, como scouter, já que dizia que gostava dessa vertente? Ou o futuro pós-jogador não passa pelo desporto-rei?

    Romeu Ribeiro: Ah, passa pelo futebol, sem dúvida nenhuma. É onde eu me sinto bem, é onde gosto de estar e já tirei dois níveis de scouting, estou a tirar agora o segundo nível de treinador também e um dos objetivos passa também por tirar um curso de dirigente desportivo. Também era por onde eu gostava muito de passar, acho que era onde eu me via a trabalhar no futebol: como diretor desportivo, sem dúvida nenhuma. Estou a tirar o segundo nível de treinador também porque o mister Filipe Martins, o ano passado, passou o ano todo a “chatear-me” com isso, a dizer que eu tinha jeito para aquilo [entre risos]. Eu dizia “não, não sei bem se tenho, mas, pronto, vou lá tirar as teimas, também não perco nada por isso”. O scouting é uma paixão desde pequeno, mas onde me via mesmo, mesmo a trabalhar era como diretor desportivo.

    Bola na Rede: Para fechar em ciclo, qual é o clube de sonho para trabalhar como diretor desportivo: o FC Penafiel ou o SL Benfica?

    Romeu Ribeiro: Eu gosto de apontar bem lá para o alto, por isso gostava que fosse o SL Benfica, sem dúvida nenhuma. Era um sonho, não é, era excelente. Quem é que não gostava? Mas não me importo de começar por baixo [risos].

    Romeu Ribeiro, ficou muito por perguntar e por dizer, naturalmente, mas é tudo da nossa parte. Muito obrigado pelo tempo, pela disponibilidade e pelas histórias!

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    Márcio Francisco Paiva
    Márcio Francisco Paivahttp://www.bolanarede.pt
    O desporto bem praticado fascina-o, o jornalismo bem feito extasia-o. É apaixonado (ou doente, se quiserem, é quase igual – um apaixonado apenas comete mais loucuras) pelo SL Benfica e por tudo o que envolve o clube: modalidades, futebol de formação, futebol sénior. Por ser fascinado por desporto bem praticado, segue com especial atenção a NBA, a Premier League, os majors de Snooker, os Grand Slams de ténis, o campeonato espanhol de futsal e diversas competições europeias e mundiais de futebol e futsal. Quando está aborrecido, vê qualquer desporto. Quando está mesmo, mesmo aborrecido, pratica desporto. Sozinho. E perde.