«Não tenho dúvidas de que o Palmeiras podia ter batido o Flamengo de Jorge Jesus» – Entrevista BnR com Paulo Turra

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– Um teste à prova de fogo –

BnR: Em 2017 vai para o Guangzhou Evergrande e tem a primeira experiência com Scolari. O que conhecia da equipa?

PT: O que eu conhecia era o que o professor me dizia e que eu via em jogos que acompanhava pelo Youtube. Era uma boa equipa, taticamente tinham alguma dificuldade, mas estavam a melhorar. Tinham lá jogadores brasileiros que eu conhecia. Foi tranquilo para mim. O mais difícil foi decorar o nome dos jogadores, levou uns 20 dias.

BnR: Foi tranquilo, porque estava acompanhado de pessoas da sua confiança, deduzo.

PT: Sim. Para teres uma ideia do nível de confiança, no jogo contra o Shanghai SIPG, a equipa do Hulk, do Oscar e do treinador português, o Vítor Pereira, o professor Felipe estava castigado. Eu pensei que o Murtosa ia assumir os treinos e o jogo e que eu o ia auxiliar, mas ele disse-me “quem vai trabalhar no jogo vais ser tu”. Estava com eles há apenas 40 dias… Foi isso que aconteceu. Preparei todos os treinos da semana e, inclusivamente, o segundo golo que fizemos nasce de uma jogada que eu desenhei. Ganhámos o jogo 3-2.

BnR: Viu isso como um teste?

PT: Com certeza! Foi um teste à prova de fogo. Ainda por cima, vínhamos de uma derrota e o jogo era contra o nosso principal rival pelo título.

BnR: Quais são as principais diferenças entre o futebol asiático e o brasileiro e até europeu?

PT: São bastantes. A China, particularmente, está à procura de uma identidade que eles ainda não têm. No momento do boom do futebol na China, em que o Governo resolveu investir para qualificar o futebol, eles foram buscar grandes jogadores e grandes treinadores para divulgarem o futebol chinês. O segundo passo deles foi limitar os estrangeiros. Hoje, o que eles estão a fazer é colocarem jogadores sub-23 a jogar e a investir nas estruturas. Tenho um amigo meu brasileiro que está lá a treinar na formação e que tem um centro de treino só para as camadas jovens. Nenhum clube de primeira divisão do Brasil tem um centro de treinos só para a formação. Ainda assim, continuam à procura de uma identidade dentro de campo. Eles estavam muito virados para o mercado espanhol. Muitos treinadores espanhóis da formação eram espanhóis, inclusivamente, o Guangzhou tinha parceria com o Real Madrid. Hoje, viram que o futebol europeu preza muito a parte tática na formação e não lapida muito a parte individual. Agora, eles querem-se voltar mais para o lado sul-americano só que não sabem que aqui, no Brasil, por exemplo, a formação está assim também. O Brasil tem uma característica única que é a individualidade, o drible, a finta e o improviso. Isso tornou o jogador brasileiro uma referência, mas hoje já não é assim, porque estamos a robotizar o jogador de futebol na sua formação.

BnR: Acha que isso está a causar problemas à seleção brasileira?

PT: Não tenho dúvida nenhuma que esse é um dos maiores problemas do futebol no Brasil! O jogador tem que ser incentivado a driblar. Agora, o jogador brasileiro chega a profissional e não sabe driblar. Um atleta chega à área e passa a responsabilidade a um colega. A área é amiga do avançado. Nenhum defensor do mundo vai tentar desarmar o atacante que está com bola dentro da área, porque pode fazer penálti. O futebol brasileiro está num dilema que não passa.

BnR: Tiveram tanto sucesso na China, porquê sair?

PT: Em setembro de 2017, o professor reuniu com a equipa técnica e comunicou que não ficaria mais no Guangzhou, porque ele teve uma reunião com o dono do clube e com o CEO e dentro do que eles conversaram e do desgaste de três anos longe da família, chegaram à conclusão que o ciclo se encerraria no final do campeonato. Foi mútuo acordo. Quando faltavam dois jogos para acabar o campeonato, o CEO chamou-o novamente para falarem da possibilidade de o professor mudar de ideias. Inclusivamente, propuseram‑lhe pegar na formação e atrair treinadores brasileiros para irem para a China, enquanto ele continuava na equipa principal, mas o professor disse que a decisão já estava tomada, apesar de gostar da ideia e admitir, no futuro, essa possibilidade.

Francisco Grácio Martins
Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.

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