«Não tenho dúvidas de que o Palmeiras podia ter batido o Flamengo de Jorge Jesus» – Entrevista BnR com Paulo Turra

­– O Palmeiras à Liverpool quebrou ­–

BnR: Depois, em 2018, agarram num Palmeiras que estava em sexto lugar, a oito pontos do primeiro, e acabam campeões com uma vantagem de oito pontos… Como foi esse trajeto?

PT: Foi um trajeto espetacular. 23 jogos invictos para o Brasileirão. Não te esqueças de reforçar isso aí [afirma sorrindo]. Foi um trabalho muito bom. A equipa já era bem treinada pelo Roger (Machado), mas tinha um modelo de jogo diferente do que nós queríamos implantar. Nos primeiros treinos, o que mais pedi aos jogadores foi para encurtarem o espaço ao portador da bola com o objetivo de evitar que o adversário tivesse tempo de receber, dominar, conduzir e pensar o jogo. Aproveitámos a verticalidade que já era uma característica deles. Fizemos uma campanha espetacular. 23 jogos invictos, onde 14 jogos foram realizados pela equipa considerada alternativa. Alternativa, porque não se pode dizer que era de reservas. O plantel do Palmeiras é muito bom.

BnR: Na Libertadores chegaram à meia-final, mas perderam perante o Boca Juniors…

PT: É… Mas jogámos contra o Boca, que não é uma equipa qualquer, e que, a par do River Plate e do Flamengo, é um dos clubes mais conhecidos da América do Sul. Perdemos para uma grande equipa. Como nós perdemos, eles podiam ter perdido também.

BnR: Em 2019, após uma série de jogos sem ganhar, saem do Palmeiras. Estavam em terceiro e só tinham menos três pontos que o primeiro. Achou ingrato?

PT: Totalmente ingrato, mas é a realidade nua e crua do futebol brasileiro. Para teres uma ideia, quando Klopp chegou ao Liverpool esteve dois anos sem ganhar nada e teve vários momentos menos bons e não foi mandado embora. Connosco foi o contrário. Chegámos à semifinal do Campeonato Paulista 2019 e fomos a melhor campanha na fase de grupos da Taça Libertadores. Até à paragem para a Copa América, estávamos invictos no campeonato com oito vitórias e um empate, o que nos dava 25 pontos ao fim de nove jogos. Depois da paragem para a Copa América, não sabemos o que aconteceu, mas houve uma quebra. Esse momento menos bom coincidiu com os quartos de final da Copa do Brasil e com uma eliminatória da Libertadores. Esse foi o nosso problema. Tratando-se do Brasil, tiraram o professor do comando técnico. Quando fomos jogar com o Flamengo (último jogo de Luiz Felipe Scolari no comando técnico do Palmeiras) estávamos três pontos abaixo deles, mas ainda faltava jogar uma volta inteira. Com o modelo de jogo que tínhamos e com o regresso dos jogadores que não estavam por lesão, sabíamos que podíamos dar a volta por cima. Infelizmente, mandaram-nos embora.

– Jorge Jesus e o casamento perfeito com o Flamengo ­–

BnR: Achava que o Palmeiras tinha capacidades de bater o Flamengo de Jorge Jesus e voltar a ser campeão?

PT: Com certeza! Não tenho dúvida nenhuma! A prova disso é que, nesse jogo em que perdemos 3-0 contra o Flamengo e fomos demitidos, em dois dias, após a eliminação da Libertadores, montámos um plano de jogo onde iríamos explorar o bloco alto do Flamengo. Aos oito minutos de jogo, marcámos precisamente através do que nós treinámos: bola longa nas costas da defesa do Flamengo. Só que o Willian estava um dedo em fora-de-jogo e o lance foi anulado. Depois foi a questão psicológica. Nós tínhamos a certeza absoluta que, com tempo de recuperar psicologicamente a equipa e treinar mais, a questão era pontual, mas… Brasil, não é?

BnR: O treinador português é valorizado no Brasil?

PT: É muito valorizado. Quando fui para a China, também fui muito valorizado e respeitado. Esse intercâmbio de profissionais é muito importante.

BnR: Jorge Jesus talvez seja o expoente máximo da representação portuguesa no Brasil. Como está a ver o trabalho dele no Flamengo?

PT: Tem feito um trabalho espetacular. O Jorge Jesus implantou o modelo de jogo dele num clube onde os jogadores tinham esse perfil. Mais, quando ele veio para cá, teve muito tempo para treinar por causa da pausa para a Copa América. Nessa altura, ele trouxe o Pablo Marí, o Filipe Luís, o Rafinha e o Gerson. Quatros jogadores que estavam na Europa e que estavam fisicamente frescos. Depois, Gabigol já tinha jogado na Europa, Diego já tinha jogado na Europa. Resumindo, ele tinha muitos jogadores que já tinham jogado na Europa, o que, aliado à qualidade que eles têm e à estrutura que o Flamengo disponibiliza… o Jorge Jesus foi a cereja no topo do bolo, o casamento perfeito.

BnR: O que é que ele trouxe de novo ao futebol brasileiro?

PT: A marcação em bloco alto ele não trouxe, porque nós no Palmeiras de 2018 e no de 2019 já fazíamos isso. Talvez não fosse com a mesma regularidade, mas já fazíamos. O que ele trouxe de novo para o futebol brasileiro foi a defesa, em bloco alto, jogar constantemente em linha sem compensação, o que eu não concordo. Muitas equipas no Brasil estão a fazer isso. A única compensação que existe é feita pelo guarda-redes, mas, às vezes, nem ele consegue fazê-la. Acho que tem que haver um equilíbrio e a compensação tem que existir. Se não consegues limitar o portador da bola e ele mete um passe nas costas dessa linha, acabou.

Francisco Grácio Martins
Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.

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