«Nunca mais me esqueço da forma como o João Pinto me recebeu» – Entrevista BnR com João Tomás

Oiã, Palhaça, Oliveira do Bairro e Bustos, Troviscal e Mamarrosa. Como disse? São as quatro freguesias de Oliveira do Bairro, ali na região da Bairrada, terra de leitão e bom vinho. Mas ainda há algo melhor a ter saído dessa terra e chama-se João Henrique Pataco Tomás. O homem que, nas palavras do próprio, amadureceu tarde, fez golos atrás de golos por todo o lado por onde passou, ou não fosse ele um globetrotter com passagens por Sevilha, Qatar, Dubai e Angola, a que se junta em território nacional Coimbra, Lisboa, Guimarães, Braga, Porto e Vila do Conde.

– Infância, juventude, formação –

Bola na Rede [BnR]: João, és natural de Oliveira de Bairro, começo por perguntar-te se és apreciador de leitão?

João Tomás [JT]: (risos) Já comi muitas vezes, e gosto, mas, atualmente, só como mesmo em situações especiais.

BnR: Que memórias tens dos teus primeiros pontapés na bola?

JT: Tenho muitas, não posso esquecer que sou um miúdo que nasceu e cresceu na aldeia e diria que na aldeia temos tempo para tudo. Dava um jeito tremendo estar na aldeia agora (risos).

BnR: Como é que foi o teu percurso na formação?

JT: Foi um percurso normal, muito natural, porque, como disseste, sou natural de Oliveira do Bairro e fiz a minha formação toda lá. A formação na altura só começava aos 10, nos infantis, por isso fiz oito anos de formação.

BnR: Jogaste sempre a avançado?

JT: Joguei sempre a médio, sempre a 8.

BnR: Como se dá a tua mudança para avançado?

JT: Isso foi no meu segundo ano de sénior.

BnR: Por necessidade da equipa ou porque estavas a marcar golos?

JT: Foi uma mistura disso tudo. Quando eu estava no Águas Boas, no meu segundo ano de sénior, jogava a meio-campo e tinha feito alguns golos já. Houve um fim-de-semana, na época 1993/94, em que um dos nossos centrais adoeceu. Nessa altura, não existiam telemóveis. No domingo, chegamos ao jogo e o central estava doente, não havia forma de contactar e eu até ia ser suplente, curiosamente. Um dos médios baixou para central, eu entrei para o lugar dele e o colega dele baixou um bocadinho, e eu apareci mais à frente. Fiz quatro golos e o treinador no final do jogo disse-me “Tu comigo nunca mais vais jogar a meio-campo. Vais ser o ponta-de-lança”. E nesse ano fiz para aí 30 golos.

BnR: Foste dispensado do Oliveira do Bairro depois de teres feito a formação toda no clube. Como é que lidaste com este contratempo?

JT: Não quero ser injusto, mas acho que todos os jogadores que jogaram o campeonato nacional de juniores foram dispensados. Acho que não foi ninguém aproveitado para os seniores. Mas lidei muito mal, fiquei muito desapontado. Em todo o período da minha formação, eu nunca fiz um treino com a equipa sénior e naquela altura era doloroso quando víamos colegas nossos serem chamados para o treino dos seniores. Quando somos miúdos num meio tão pequenino, ficamos desiludidos por não ter a oportunidade de treinar com os seniores, nessa dimensão o objetivo número um é chegarmos àquela equipa e eu nunca o consegui fazer. Retiro daí que a paixão era tanta que não teve que acontecer por algum motivo. Bola para a frente!

BnR: Apoiavas algum clube em miúdo?

JT: O Sporting.

BnR: Por causa do teu pai ou algum familiar?

JT: A minha família era quase toda do Benfica, os meus dois avôs eram do Porto e tinha um tio, irmão do meu avô materno, que era sportinguista, foi por ele. Mas deixei de ser sportinguista no dia em que o Sousa Cintra despediu o Bobby Robson.

BnR: Das piores decisões da história do futebol. Despedido no avião.

JT: Sim, a regressar de Salzburgo depois da derrota com o Casino. Eu fiquei tão desiludido com aquilo que nunca mais quis saber do Sporting.

BnR: Por falar em Bobby Robson, viste o documentário na Netflix?

JT: Sim, adorei! Ia falar agora nisso, depois de ter visto o documentário ainda mais indignado fiquei (risos).

BnR: Qual foi o melhor conselho que te deram na formação?

JT: O que me lembro bem, e não quero dizer com isto que os miúdos não tenham essa paixão, é que nós éramos uns obcecados, não pelo treino em si, mas pelo período de tempo em que estávamos a treinar. Acho que isso era o que fazia a grande diferença, adorávamos aqueles 60 ou 70 minutos em que estávamos a treinar e recordo-me perfeitamente que o treino era o maior fascínio que podíamos ter. Passava por cima de tudo, dos brinquedos, das saídas com amigos, das raparigas, passou sempre para primeiro plano, a seguir à escola claro. Acredito que os miúdos agora são manobrados por tanta coisa e têm que controlar tanta coisa que eventualmente é mais complicado. Abdicávamos dos fins-de-semana e saídas à noite porque era a nossa paixão.

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Frederico Seruya
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