«Scouting é basear a paixão que temos pelo jogo com capacidade de avaliação e perceção» – Entrevista BnR com Sérgio Cecílio

«O último jogador que vendemos por uma verba boa foi o Alexander Bah, que joga no SL Benfica e foi vendido na altura ao Sonderjysk»

Bola na Rede: Como scouter, fazes muita análise de vídeo, ou, sempre que podes, tentas ver um ou mais jogadores em particular ao vivo?

Sérgio Cecílio: Como sabes, nos últimos dois anos, isto foi mau para qualquer scouter, mas eu prefiro ao vivo. Mas cresce um bocadinho a questão do vídeo porque o mundo esteve fechado por causa do Covid. Antes do Covid, fiz montes de viagens, cheguei, por exemplo, ir no mesmo dia à Suíça e à França, viajava bastante.

Bola na Rede: Tens algum mercado de jogadores, quer seja de um país ou de um continente, que gostas sempre de explorar para consultar eventuais contratações?

Sérgio Cecílio: Pessoalmente, tenho, mas eu sigo a política do clube que neste momento se está a virar para os jogadores dinamarqueses. Ponto um, dinamarquês, ponto dois, escandinavos, por causa da fácil adaptação. Pode parecer um bocado estranho, mas não é fácil adaptar à Dinamarca, para jogadores portugueses então é muito difícil. Os jogadores portugueses, eu volto a dizer isto, mas uma vez dei uma entrevista, pensavam que eu tinha chamado calões aos portugueses, mas não, não. Um jogador português é um jogador que, por exemplo, tem o jogo no domingo, está a treinar na quinta-feira, já tens algumas precauções para poder jogar no domingo. Um jogador dinamarquês treina sempre a 100%, mesmo que isso traga alguma lesão, treina sempre a 100%. Depois, tem a ver com as questões culturais, chegar a horas, não sair à noite, isso para eles faz muita confusão. Um jogador que vá para a Dinamarca que tem que ser um exemplo dentro e fora de campo, é como eles veem isso. Não são xenófobos, não são racistas, mas são um bocadinho nacionalistas. A pessoa para lá tem que ser exemplar em todos os aspetos.

Bola na Rede: Falando do contexto dinamarquês, o Football Club Midtjylland (que tem o mesmo dono que o Brentford), nos últimos anos tem tido uma abordagem ao scouting baseado nos dados estatísticos para encontrar jogadores talentosos e baratos. Esta abordagem ajudou o clube a conquistar três campeonatos dinamarqueses (os primeiros da sua história); queria-te perguntar se concordas com esta abordagem e se é algo que praticas no teu trabalho?  

Sérgio Cecílio: Pratico até certo ponto. Sei que eles têm tido sucesso com o Brentford, com o Midtjylland. Sei também, e isto é em primeira mão, que estão a tentar comprar um clube cá em Portugal, não posso dizer qual, mas sei. Sabes que não há nenhuma fórmula secreta. Eu gosto dos dados estatísticos até certo ponto, mas dou-te um exemplo. No ano assado tínhamos um jogador que os treinadores não gostavam e mesmo assim esse jogador na minha equipa, a nível estatístico era dos melhores. Nem sempre aquilo que está nos dados estatísticos é aquilo que vês depois dentro de campo. Tem que haver um complemento: os dados estatísticos servem para uma pré-avaliação e depois tens de comprovar ao vivo aquilo que está nos dados estatísticos. E a parte mental e social também é muito importante para nós lá na Dinamarca.

Bola na Rede: No teu trabalho, para além de identificar talentos, és condicionado pelo facto do clube querer, ou não, fazer sempre mais dinheiro com a venda de jogadores do que aquele que depois gasta em transferências?

Sérgio Cecílio: Sim. Eu gostava de fazer o scouting puro, por assim dizer. Ver um bom jogador e dizer “este gajo é bom, vamos buscá-lo, vamos ver as condições dele”. Temos várias condicionantes e lá está, por fazer um bocadinho outras tarefas, o meu scouting já é condicionado. Por exemplo, se tu me dissesses que precisas de um defesa esquerdo e fosses avaliar, sem estares a pensar nos custos e no dinheiro que tens disponível, arranjavas grandes defesas esquerdos. Agora, eu já estou condicionado porque já sei quanto é que temos para gastar, sei coisas que um scouter normal se calhar não sabe ou até pode saber, depende do clube. Isso sim, nós temos sido condicionados e uma das tarefas que tenho neste momento é tentar vender jogadores, que nós precisamos. Não vendemos nenhum jogador há dois anos, dois anos e meio talvez. Vendemos, mas foi por verbas muito baixas. Aliás, o último jogador que vendemos por uma verba boa foi o Alexander Bah, que joga no Benfica e foi vendido na altura ao Sonderjysk. Ficámos com uma percentagem, depois eles venderam ao Slavia Praha e ainda ganhámos um bom dinheiro. Funciona um bocadinho nesta base na Dinamarca, vendes por um valor não muito alto, mas manténs uma percentagem de um aproxima transferência. Fizemos o mesmo com o Kristian Pedersen, que foi para o Union Berlin, depois esteve no Birmingham, assinou agora pelo Colónia. É uma fórmula que para nós tem algum sucesso, portanto é o que nós temos feito.

Fonte: Inter Allies FC

Bola na Rede: Há pouco, como falaste da importância da equipa de sub-19 para o Koge, como scouter, focas mais a tua atenção na equipa principal ou procuras jogadores que possam encaixar nos sub-19 ou em camadas mais jovens do clube?

Sérgio Cecílio: Não, só sub-19 e equipa principal. Uma das políticas que o clube quer implementar é levar dois, três ou quatro jogadores com 16 anos, para quando chegarem à equipa principal, já estarem adaptados à cultura, à língua. Mas, neste momento, só mais sub-19; agora vamos organizar um torneio de sub-17 e sub-19, há vários scouts no torneio, até porque fazemos avaliações de jogadores e vou acabar por ver jogadores para os sub-17. Mas não é uma coisa habitual. No ano passado, tivemos várias lesões ao mesmo tempo, tínhamos um sintético em mau estado, que foi substituído agora e que deu em muitas lesões. Com o John Flanagan, que veio do Liverpool, nunca tinha jogado num sintético, no segundo jogo no sintético, lixou o joelho. Esse sintético trouxe-nos muitos problemas e então chegámos a jogar com sub-17 na equipa principal. Neste momento temos muitos jovens dos sub-19 a treinar com a equipa principal e a qualquer momento são chamados. Tem mais a ver com o mérito, que é uma coisa boa da Dinamarca, em Portugal sabemos que às vezes as coisas são um bocadinho condicionadas.

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