«SL Benfica, Sporting CP e SC Braga sabem que vão jogar com clubes que vão criar dificuldades» – Entrevista BnR com João Alcobia

    Com uma carreira no futsal ligada ao Ferreira do Zêzere, João Alcobia assumiu o comando técnico a meio da temporada. De adjunto avançou para treinador principal a tempo de garantir o apuramento para a Final 8 da Taça de Portugal, juntando o feito de ter alcançado a Final 8 da Taça da Liga. Trata-se de uma conversa não só sobre a carreira de João Alcobia, bem como um dos clubes sensação desta época ainda para mais estreante na Primeira Divisão.

    «A intensidade em campo [do futsal] fascina-me mais do que no futebol»

    Bola na Rede: O João ainda tem 31 anos, mas pertence há vários anos à equipa técnica do Ferreira do Zêzere. Como surgiu o interesse no Futsal e de ser treinador tão precocemente?

    João Alcobia: Obrigado pelo convite. Eu sou de Beja e surgiu uma oportunidade de fazer parte da equipa de futsal da escola que participava no campeonato distrital de Beja. No ano a seguir, fui convidado para uma equipa de lá e a partir daí começou um pouco mais a sério a minha paixão pelo Futsal. No ano seguinte, terminei a faculdade, vim para Ferreira do Zêzere e curiosamente foi em 2014, quando começou aqui o projeto da equipa de futsal. Fui convidado para jogador, tal como o meu colega Hugo Marques que me acompanha ainda hoje, ele como guarda redes. Desde então começou aí a minha carreira no futsal no Ferreira do Zêzere. Já fazia parte do Ferreira do Zêzere desde os meus cinco anos, no Futebol. As coisas foram andando, até que chegou a um ponto que a qualidade estava a subir muito e já não estava a dar para ter o tempo de jogo que queria. Na altura, era o treinador o André Guimarães e chegamos a um acordo que dava para continuar enquanto jogador, mas ele fez-me o convite para fazer parte da equipa técnica dele aqui ainda no Ferreira do Zêzere. Foi maravilhoso. Sendo o clube de que gosto, aceitei desde logo. Até lá, fui sempre treinador adjunto.  Depois saiu o André Guimarães e eu entrou o Rogério Serrador e eu mantive-me cá também, tal como o Hugo enquanto treinador de guarda redes. Foi um pouco inesperada a saída do Rogério e eu e o Hugo tivemos de assumir. Saiu o Rogério e o Micael que era outro adjunto também.  Como interinos, ficámos mais na frente a comandar a equipa e também com o Miguel Ferreira que, no fundo, é o treinador principal. Mas só como eu e o Hugo sabíamos qual era o trabalho desenvolvido, da forma de jogar, ainda para mais com a época a terminar, somos nós que aparecemos mais porque estamos a dar a continuidade e com a ajuda do Miguel.

    Bola na Rede: Como foi a transição de jogador para treinador?

    João Alcobia: Não foi fácil, porque eu queria continuar a jogar. Só que, por outro lado, eu entendia que não estava a conseguir acompanhar a qualidade que lá estava. Mas eu sempre gostei muito do treino e de ensinar, tanto que sou professor numa escola em Ferreira do Zêzere. Gosto de ensinar e interessava-me o Futsal.

    Bola na Rede: Relativamente à formação, foi fácil obtê-la não só a nível dos treinos, mas também a nível teórico nomeadamente através da Federação Portuguesa de Futebol?

    João Alcobia: Quanto à formação, penso que todos os treinadores aprendem mais no treino. Eu tive a felicidade de ter grandes treinadores comigo, mesmo ainda enquanto jogador, como o Miguel Ferreira. Depois mais recentemente, na transição para treinador, o André Guimarães e agora o Rogério Serrador. Tenho aprendido muito com eles. Neste momento, tenho o nível 1 e na Liga Placard exigem o nível 3. Para o ano, quero continuar o caminho na formação. Quero terminar o nível 2 e, de seguida, o nível 3. Mas tudo a seu tempo. Todos os dias estou a aprender. Temos jogadores formidáveis no clube que nos ensinam todos os dias.

    Bola na Rede: O João passou pelo futebol, antes do futsal. O que é que o atrai mais no futsal?

    João Alcobia: Agora estou um pouco desligado do futebol. Acho que no futsal, a própria intensidade, a dinâmica do jogo, os espaços a explorar, etc… A diferença maior, ainda para mais joguei mais em formato amador na distrital, é a intensidade em campo que me fascina mais do que no futebol. Adoro o futebol na mesma, mas prefiro o futsal.

    Bola na Rede: O João tem um passado que se confunde com o Ferreira do Zêzere, entre jogador de futebol, futsal e agora treinador. Como é que apresenta o clube?

    João Alcobia: Eu sou suspeito. O Ferreira do Zêzere tem algo muito especial. Nasci e cresci aqui e é o clube que gosto mais. Para quem vem de fora, tenho a certeza que, pelo menos, 90% das pessoas que aqui passam fica a adora o clube. Nós somos uma terra muito pequena, mas ao mesmo tempo, muito acolhedora. As pessoas são muito boas, gostam muito de desporto. Sobretudo no futsal, desde 2017, temos aqui os conhecidos Achigãs, a nossa claque que nos acompanham para todo o lado. Eles demonstram um carinho enorme e isso é imagem que daquilo que é o concelho para o desporto. Nós ganhamos, eles estão a cantar. Nós perdemos, eles estão lá a cantar. Ainda nesta última jornada frente ao Sporting em que perdemos por 10-2, eles acabaram o jogo a cantar e a puxar por nós e os adeptos do Sporting a aplaudirem. Só um pequeno exemplo do que é a mística do clube. Os jogadores sentem-se muito bem dentro do campo, adoram jogar aqui e é muito pelos nossos adeptos, sem dúvida nenhuma.

    Bola na Rede: O Ferreira do Zêzere estreou-se este ano na Primeira Divisão e foi uma das surpresas positivas desta competição, estando durante muito tempo em zona de Playoff. Que balanço é que faz à época e como explica esta diminuição de rendimento no final que levou a equipa a sair dos oito primeiros lugares?

    João Alcobia: Iniciámos a época da melhor maneira, conquistando pontos muito importantes na nossa caminhada. Sabíamos desde logo que a Liga Placard é uma é uma prova muito competitiva e que os resultados menos bons iriam surgir. Mas nunca mudámos a nossa forma de trabalhar. Desde o dia 8 de agosto de 2022 até final da época, a nossa missão era trabalhar todos os dias para obter o melhor rendimento possível, procurar melhorar todos os dias. A nossa organização ofensiva e defensiva esteve bem presente na quadra, bem como as oportunidades de golo. Mas do outro lado também tínhamos sempre um adversário muito competente, que em alguns aproveitou melhor as suas oportunidades. A este nível é fundamental ser eficaz na finalização e nós não estivemos muito bem em alguns momentos, o que nos custou caro. Felizmente, os pontos amealhados anteriormente deram-nos um conforto para o resto da época mas nunca nos desviamos daquilo do nosso foco: melhorar a cada dia!

    «Acho que o futsal está a crescer muito em Portugal»

    Bola na Rede: O João assumiu o comando técnico do Ferreira do Zêzere, numa fase adiantada da temporada. Como foi a transição de adjunto para treinador principal da equipa?

    João Alcobia: Primeiro, a nível da relação com os jogadores, como há um principal, o treinador adjunto não é sempre visto como aquele que diz “é assim que é, é assim que vai”. Mas eles respeitavam muito tanto as minhas decisões como as do Micael, na altura. Nunca era como o Rogério. Então, essa transição fez-me pensar. Agora vou passar a treinador principal, será que a mensagem é passada? Será que eles vão a ouvir da mesma forma? Desde que o Rogério e o Micael saíram, tivemos uma conversa com eles e eu e o Hugo fomos muito claros.  “Aqui ninguém é dono da razão. Nem vocês, nem nós. Vamos trabalhar aqui todos os juntos em prol de levar isto ao melhor porto possível”. Debatemos. Demos continuidade ao excelente trabalho que o Rogério e o Micael cá deixaram, ajustando um pormenor que podíamos beneficiar ou não. Aproveitar o trabalho e depois complementar com ideias nossas e até dos jogadores. Nós sempre fomos muito abertos com eles. Queríamos toda a gente confiante e confortável naquilo que se estava a fazer. Depois, com estes jogadores maravilhosos, totalmente compreensíveis da situação que estava a acontecer, tirámos muito proveito disso, mesmo que os resultados não tenham sido os melhores. Tivemos treinos muito bons, muito intensos, mesmo teóricos a falar uns com os outros. Foi muito bom para todos.

    Fonte: SC Ferreira do Zêzere

    Bola na Rede: Em que medida foi difícil fazer essas alterações, quando assumiu o comando técnico da equipa já numa fase adiantada da época?

    João Alcobia: Claro que foi. Por isso é que só mudámos uma especificação da forma de defender fora, por exemplo, ou do guarda redes adiantado. Tentámos alterar de forma a que todos estivessem de acordo com o que se estava a fazer. Não foi alterar nada muito grande porque era impossível, a um mês e pouco da época acabar, estar a alterar o que quer que fosse.

    Bola na Rede: A chegada a treinador principal foi um patamar que imaginava alcançar no início do percurso, especialmente no principal escalão?

    João Alcobia: Sim, claro, mas eu ainda não entendo esta fase como a minha chegada a treinador principal. Nada disso. Estou a fazer o meu caminho. Aconteceu esta situação em que estou cá para ajudar o clube tal e qual como o Hugo, e tivemos essas funções. Não entendo isso como treinador principal porque para já ainda não estou formado e quero ter a minha real experiência. Foi muito bom, sem dúvida nenhuma. Cresci e aprendo muito e foi um enorme prazer fazer esta parte aqui, mas ainda não entendo isso. Quero mais, quero formar-me e depois futuramente ter a minha oportunidade para chegar a treinador principal a este nível.

    Bola na Rede: O Ferreira do Zêzere chegou às fases finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga, onde acabou por perder pela margem mínima frente ao Benfica. Como é preparar os jogos frente a equipas com outros recursos como Benfica e Sporting? A perspetiva é sempre de ganhar?

    Fonte: SC Ferreira do Zêzere

    João Alcobia: Nós analisamos os adversários todos de forma igual. Analisamos todos os pontos fortes que tentamos anular e os pontos em que podemos tirar proveito. Sabemos que, quando encontramos equipas dessa dimensão, as coisas se tornam muito mais difíceis, obviamente. Depois, esses jogos passam muito pelos pormenores ainda mais. Se calhar contra outras equipas se defendermos um pouco ao lado daquilo que estava programado, pode não nos vir a causar mal e sabemos que, contra essas equipas, esses pormenores fazem a diferença. Nos três jogos que tivemos contra o Benfica, foi simplesmente isso. É uma equipa realmente com muito maior valor, de outra dimensão. Nós estamos num outro processo de crescimento, mas ainda assim chegamos ao fim a sentir que foram os pormenores que ficaram. O Benfica uma outra organização, com jogadores de outra qualidade, mas nós também conseguimos pôr a nossa organização, pôr a pressão sobre o portador da bola e defender muito bem. Esses jogos vivem muito de duelos porque a organização está cá e está lá e, depois em campo, entre duelos e pormenores decidiram esses três jogos.

    Bola na Rede: Em poucos anos, o Ferreira do Zêzere teve uma ascensão rápida no futsal nacional do terceiro para o principal escalão…

    João Alcobia: Quando nós subimos aos nacionais, não havia Terceira (III) Divisão. Passámos de imediato para a Segunda (II).  No primeiro ano, fomos ao apuramento de campeão, no segundo, não. Depois, entretanto, apareceu o Covid e fomos ao playoff final, onde perdemos com o Caxinas. No ano a seguir, voltámos a ir ao apuramento de campeão, mas as coisas não correram bem e não conseguimos subir. Felizmente, no ano passado, conseguimos nós e o Caxinas, onde o Campeonato foi corrido em que todas as equipas jogavam contra todas até ao final.

    Bola na Rede: A diferença entre a Primeira (I) e a II é muito grande, atendendo até a época do Ferreira do Zêzere?

    João Alcobia: Sim, nota-se ainda uma grande diferença. Sobretudo a nível da organização, esquemas táticos, bolas paradas, nota-se mais trabalho em si. Sendo que na Segunda Divisão, este ano, já há muito boas equipas. Contudo, comparativamente com outras equipas, nota-se ainda uma diferença grande.

    Bola na Rede: Em termos técnicos, é mais complicado trabalhar numa equipa o processo defensivo ou ofensivo?

    João Alcobia: Nós trabalhamos as duas componentes. Estamos sempre preocupados em melhorar os dois pontos. Acho que é mais ou menos a mesma coisa porque para fazermos uma certa movimentação ofensiva, é a mesma coisa do que uma movimentação defensiva. São pontos um pouco diferentes um do outro porque, para quem está mais entendido, a nível defensivo também é preciso maior organização, tal como no ataque. Tudo bem que, a nível ofensivo temos a bola nos pés, mas a nível defensivo também é preciso muito trabalho. Portanto, trabalhamos de forma igual durante a semana.

    Bola na Rede: Como é que vê o estado do futsal nacional e o que é mais urgente para melhorar a modalidade?

    João Alcobia: Felizmente, acho que o futsal está a crescer muito em Portugal. Uma das melhorias foi a inclusão da III Divisão Nacional porque notava-se uma diferença muito grande das Distritais para Segunda Nacional. Havia equipas de nível muito baixo e outros de muito baixo, existindo um fosso muito grande. Isso veio trazer maior competitividade na III e qualidade à II e, consequentemente, à I. Na Primeira, estão os melhores e, na Segunda, estão alguns dos melhores. Foi um ponto muito importante. Depois, há um passo maior que tem de ser dado, mas é difícil para os clubes que é a profissionalização dos jogadores.  Mesmo na Primeira Divisão, há muitos jogadores que ainda trabalham, tanto que a Liga não é profissional. Seria um passo importante, percebendo que não será de um ano para o outro. Contudo, aos poucos, penso que a modalidade chegará lá. Estamos no bom caminho.

    Bola na Rede: E no Ferreira do Zêzere, há jogadores profissionais?

    João Alcobia: Sim, o Ferreira já tem alguns atletas profissionais, mas a maioria trabalha. Não é fácil, às vezes, tirar o mesmo rendimento de todos. Felizmente, aqueles que trabalham ainda conseguem conciliar o trabalho com os treinos. Tentamos gerir isso para que toda a gente possa vir treinar, porém, por exemplo, há treinos de manhã que temos no ginásio que nem toda a gente consegue vir à mesma hora. Temos de nos adaptar por aí.

    Bola na Rede: Relativamente às alterações na I Divisão, a redução do número de clubes para 12 faz mais sentido do que com 14 ou 16, como chegou a ter?

    João Alcobia: Penso que torna a Liga mais competitiva. São os melhores que estão cá. Acho que todos os clubes e pode-se ver pela qualidade das equipas, tirando o Benfica, o Sporting e o Braga que estão a um nível acima, são muito equilibrados. O facto da competição também ser mais curta traz os melhores jogadores e assim estão todos cá, o que torna a Liga mais competitiva.

    Bola na Rede: Mas, de certa maneira, acaba por complicar a vida a equipas cujo objetivo principal é a manutenção, como o Ferreira do Zêzere…

    João Alcobia: Certo, eu compreendo o ponto de vista. Só que, havendo muitas mais equipas, começam a faltar jogadores. Mesmo para Benfica, Sporting e Braga, havendo poucas equipas, estes sabem que vão jogar com clubes que vão criar dificuldades e não vão jogar já com a ideia de que o adversário é muito inferior. Cada vez de ano para o ano tem vindo a notar-se mais. Temos os casos do Elétrico, dos Leões de Porto Salvo e da Quinta dos Lombos que estão já há bastantes anos na I Divisão e são equipas cada vez mais fortes. Acredito que, com o passar dos anos, lutarão cada vez mais pelos lugares de cima.

    Bola na Rede: O João fez a estreia enquanto técnico principal. Quais são os próximos passos que quer dar á carreira na modalidade?

    João Alcobia: Eu quero sobretudo aprender, para já. Eu sei que tenho muito a aprender ainda. Ainda sou muito novo. Todos os dias quero estar a aprender e melhorar a todo o instante.

    Bola na Rede: Daqui a cinco anos, onde se vê no Futsal?

    João Alcobia: Eu não penso muito a longo prazo porque não gosto de definir prazos. Preocupo-me sempre em tentar melhorar, as coisas vão aparecendo com o tempo. Eu nunca imaginei estar nesta função que estive agora assim tão depressa e aconteceu devido à saída do Rogério e do Micael. A qualquer momento da vida, pode surgir uma oportunidade. Eu quero melhorar todos os dias e fazer a minha formação. Depois, o futuro logo se vê, mas sim quero ser treinador principal.

    Bola na Rede: O João prefere um 7-6 a 1-0, ou seja, ganhar com maior importância para os golos marcados ou para não sofrer golos?

    João Alcobia: Nós queremos ver golos no jogo. O Futsal e o Desporto são assim. Só que, no plano do treinador, como disse, ganhei 7-6, mas é sinal de que sofri seis golos. Pode ser bom, mas isso depois dependerá da análise do jogo. Por exemplo, se eu ganhei 7-6 ao Sporting, está tudo bem, é compreensível. Agora, se ganhei por 7-6 a uma equipa de valor inferior à minha, se calhar as coisas não estão assim tão bem. Nós não podemos definir a vitória como estar tudo bem ou uma derrota estar tudo bem. Lá está, ao contrário, se perdesse por 7-6 contra o Sporting, se calhar as coisas não estavam assim tão más. Cada jogo tem a sua análise. De preferência, prefiro sofrer o menor número de golos possível.

    Bola na Rede: O facto de ter sido jogador ajuda-o na missão de comunicar e de treinar os atletas?

    João Alcobia: Sim, sem dúvida. Isso é muito importante. O facto de ter estado do outro lado permite perceber o que os jogadores podem estar a sentir. Ainda que não tenha praticado a este nível, é importante perceber o que os jogadores estão a sentir, o que, às vezes, não é fácil.

    Bola na Rede: É mais complicado perceber o que os jogadores estão a pensar, o que sentem, para conseguir transmitir a mensagem?

    João Alcobia: Pelo menos, a preocupação que temos vindo a ter é que os jogadores confiem na mensagem que estamos a passar. Isso é muito importante. A partir do momento, em que eles não estejam a receber a nossa mensagem, as coisas ficam mais complicadas. Agora, desde que os jogadores estejam identificados com as nossas ideias, com aquilo que queremos para treino, é tudo mais fácil. Eu gosto de ter conversas muito abertas com os jogadores. Não me importo de chegar ao final do treino e perguntar a um jogador, o que é que correu mal, no que é que ele se sentiu pior. Não deve ser uma barreira treinador-jogador. Essa barreira obviamente existe, mas que não seja uma coisa distante. Perceber as funções que cada um tem, perceber as ideias que o treinador ou o jogador pode ter, mas o fundamental é que todos trabalhem no mesmo rumo. Às vezes, não é fácil fazer perceber 15 cabeças porque toda a gente pensa de uma forma e é preciso ter muito cuidado com a forma como lidamos com os atletas. É normal, são pessoas, têm formas de pensar que podem estar corretas, mas o mais importante é que entendam que a nossa também está correta. E se tivermos de mudar a nossa ideia perante uma sugestão do atleta, não tenho problema disso, desde que seja uma ideia concreta, uma ideia válida.

    Bola na Rede: Que modelos de treinador tem como fonte de inspiração para o seu desenvolvimento, enquanto treinador?

    João Alcobia: É uma pergunta interessante. Até hoje, todos os treinadores, eu tento tirar o que de bom há em cada um e tentar transformar isso na melhor pessoa que posso vir a ser. Tive treinadores que eram muito bons a nível tático e na relação pessoal não eram assim tanto. Tive outros que eram formidáveis na relação pessoal e no treino não eram assim tanto. Tive alguns que tinham ideias de jogo ofensivo que eu achava bem e outros que não, defensivo igual. Tento sempre ir buscar um bocadinho de cada um e ir de encontro àquilo que são as minhas ideias. Assim, é que tento formar a minha ideia, enquanto treinador.

    «É só chegar o próximo treinador e tudo aponta que continue a trabalhar como treinador adjunto com ele»

    Bola na Rede: Agora, gostava de fazer algumas perguntas dispersas sobre vários temas. Momento mais marcante no futsal?

    João Alcobia: Obviamente, um dos momentos mais importantes foi a subida à I Divisão. Mas aconteceu, no jogo antes que tivemos em casa frente à Sanjoanense, em que estávamos a perder por 2-1 a oito segundos do fim e ainda fomos ganhar o jogo. Sei que as coisas não estavam a dar, eu estava de costas, já não queria acreditar. Precisávamos mesmo daquela vitória e, de repente, no último segundo, fizemos o golo. Isto ficou marcado na memória de todos os adeptos e dos treinadores que estavam ali no Pavilhão.  Foi um momento fantástico. Gostei muito de subir de divisão, mas o momento mais marcante foi essa reviravolta a poucos segundos do fim. O resultado foi de 3-2

    Bola na Rede: Pelo Ferreira do Zêzere, chegar a uma final de uma das Taças ou alcançar o Playoff de Campeão?

    João Alcobia: Pergunta difícil. O nosso objetivo estava concluído e tudo o que viesse a seguir seria muito bom. Agora sim de repente. Chegar aos playoffs é bom, mas chegar a uma final da Taça era marcante para toda a vida porque chegámos aonde toda a gente quer estar. A final de uma taça é só um jogo e tudo pode acontecer. Nos playoffs, as coisas são mais complicadas.

    Bola na Rede: Gostava de treinar uma seleção ou é no treino regular em clubes que mais o motiva?

    João Alcobia: De momento, fascina-me o treino de equipas pelo trabalho contínuo. De estar constantemente a treinar. Não é algo que ambicione, mas nunca se sabe o dia de amanhã.

    Bola na Rede: Outra modalidade desportiva que segue.

    João Alcobia: Futebol.

    Bola na Rede: O Ferreira de Zêzere foi uma das surpresas desta temporada. Depois da estreia absoluta na I Divisão, a próxima época vai ser mais complicada?

    João Alcobia: Nós já temos a experiência de ter cá estado. Já sabemos como funciona. A questão é que também vêm equipas também muito fortes. Toda a gente se vai reforçar. Toda a gente vai melhorar. Cada ano vai ser cada vez mais difícil. Não tenho grandes dúvidas, quanto a isso. Não somos só nós, também os outros ganharam um ano de experiência. Os que vêm da Segunda Divisão vêm com vontade de vingar e de querer cá ficar.

    Bola na Rede: Por último, quer deixar alguma mensagem aos adeptos do clube?

    João Alcobia: Para os adeptos, vou dizer algo que certamente vão fazer: o apoio incondicional à equipa. Vamos a muitos pavilhões, falamos com muita gente, mesmo de clubes que já referenciámos aqui, e toda a gente diz que, se houvesse para definir primeiro lugar de claques, seria a nossa. Para nós, equipa, e para mim, enquanto conterrâneo, é um orgulho enorme ouvir essas palavras. São realmente fantásticos, tanto em casa, como fora. Nem que seja nas ilhas vão atrás de nós. São exemplares. Têm comportamentos muito bons e exemplares para outras claques que por aí andam. É motivo de muito orgulho e só quero que eles continuem a apoiar-nos. Tenho a certeza que o vão fazer.

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    Pedro Filipe Silva
    Pedro Filipe Silvahttp://www.bolanarede.pt
    Curioso em múltiplas áreas, o desporto não podia escapar do seu campo de interesses. O seu desporto favorito é o futebol, mas desde miúdo, passava as tardes de domingo a ver jogos de basquetebol, andebol, futsal e hóquei nacionais.